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segunda-feira, 7 de julho de 2014

O PROPÓSITO DA TENTAÇÃO - LIÇÃO 2 - COM SUBSÍDIOS

Lições Bíblicas CPAD   -  Jovens e Adultos
  3º Trimestre de 2014
 Título: Fé e Obras — Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva

 Lição 2: O propósito da tentação
Data: 13 de Julho de 2014

TEXTO ÁUREO
 “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência” (Tg 1.2,3).

VERDADE PRÁTICA
 O triunfo sobre a tentação fortalece-nos espiritualmente e nos torna mais íntimos de Deus.


LEITURA DIÁRIA
 Segunda - Pv 1.10  Tentado, não cedas!
  Terça - Hb 2.18  Jesus foi provado assim como nós
 Quarta - 1Pe 1.7  Tentação, a provação da fé
 Quinta - Dt 8.2,3  Conheça a ti mesmo
 Sexta - Mt 26.41  Vigilância e oração
 Sábado - 1Pe 5.9  Identificação através das provações

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Tiago 1.2-4,12-15.

2 - Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações,
3 - sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência.
4 - Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.
12 - Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.
13 - Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta.
14 - Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
15 - Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.

INTERAÇÃO

“Pare de sofrer!“, “É tempo de vitória!”, “Você vai conquistar!”. Estas são frases de efeito bem conhecidas no meio evangélico. Nelas, está presente a ideia do não sofrimento. A lição desta semana é um resgate do ensino bíblico quanto ao valor do sofrimento por Cristo e da sua importância para o nosso crescimento espiritual. A epístola de Tiago nos mostra que devemos nos alegrar na tentação, pois a partir desta reconhecemos a nossa inteira dependência de Deus. O sofrimento é uma realidade e não podemos fugir dele. Em Cristo, temos o privilégio de sofrermos para a honra do seu nome. A cruz de Cristo é a glória do Evangelho!

OBJETIVOS

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Conceituar a tentação.
Pontuar a origem da tentação.
Compreender o propósito da tentação.



ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

“Pela tentação de Jesus Cristo, a tentação de Adão chegou ao fim. Tal como na tentação de Adão caiu toda a carne, assim toda a carne foi libertada do poder de Satanás na tentação de Jesus Cristo, pois Jesus Cristo carregou nossa carne, ele sofreu nossa tentação e obteve triunfo” (Dietrich Bonhoeffer). Prezado professor, reproduza este fragmento textual conforme as suas possibilidades e distribua-o aos alunos. Conclua a lição refletindo, juntamente com a classe, sobre o texto do teólogo alemão. Afirme que há um Sumo Sacerdote que em tudo foi tentado, mas sem pecado: Jesus Cristo. Este é a mediação entre Deus e o homem e, por isso, podemos ir ao Pai com confiança (Hb 4.15,16).

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Palavra Chave
Tentação: Impulso para a prática de alguma coisa censurável ou não recomendável.

Definitivamente, o homem moderno não está preparado para sofrer. Os membros de muitas igrejas evangélicas, através da Teologia da Prosperidade, têm se iludido com a filosofia enganosa do “não sofrimento”. O resultado é que quando o iludido sofre o infortúnio, perde a fé em “Deus”.
Mas, que se entenda bem, num “deus” que nada tem com as Escrituras! A lição dessa semana tem o objetivo de resgatar esse ensinamento evangélico (Tg 1.2). Aprenderemos acerca da tentação, do sofrimento e da provação, não como consequência de uma vida de pecado ou de falta de fé, mas como o caminho delineado por Deus para o nosso aperfeiçoamento. Ninguém melhor do que Jesus Cristo, com seu exemplo de vida, para nos ensinar tal lição (Hb 5.8). O convite do Mestre é um chamado ao sofrimento por amor do seu nome (Jo 16.33; Mt 5.10-12).

I. O FORTALECIMENTO PRODUZIDO PELAS TENTAÇÕES (Tg 1.2,12)
 1. O que é tentação. O termo empregado na Bíblia tanto no hebraico, massah, quanto no grego, peirasmos, para tentação, significa “prova”, “provação” ou “teste”. A expressão pode estar relacionada também ao conflito moral, isto é, a uma incitação ao pecado. De fato, como mostram as Escrituras, a tentação é uma provação, uma espécie de teste. O pecado, por sua vez, já se trata de um ato imoral consumado. Por isso, a tentação não é, em si mesma, pecado, pois ninguém peca quando passa pelo processo “probatório”. A própria vida terrena do Senhor Jesus demonstra, com clareza, a distinção entre tentação e pecado. A Epístola aos Hebreus afirma que Jesus, o nosso Senhor, em tudo r foi tentado. Ele foi provado e testado em todas as coisas. Todavia, o Mestre não pecou (Hb 4.14-16). Portanto, confiantes de que Jesus Cristo é o nosso Sumo Sacerdote perfeito, devemos nos aproximar, com fé, do trono da graça sabendo que Ele conhece as nossas tentações e pode nos dar a força necessária para resistirmos (1Co 10.13).

2. Fortalecimento após a tentação (v.2). Do mesmo modo que o ouro precisa do fogo para ser refinado ou purificado, o cristão passa pelas tentações para se aperfeiçoar no Reino de Deus (1 Pe 1.7). Quando tentado, o crente é posto à prova para mostrar-se aprovado tal como Cristo, que foi conduzido ao deserto para ser tentado por Satanás e embora debilitado e provado espiritualmente, saiu do deserto vitorioso e fortalecido, tendo em seguida iniciado seu ministério terreno de pregação a respeito do Reino de Deus (Lc 4.1-13). À luz do exemplo de Cristo, compreendemos bem o que Tiago quer dizer quando exorta-nos a termos “grande gozo quando [cairmos] em várias tentações”. Tal conselho aponta para a certeza de que ao passar pela tentação, além de paciente e maduro, o crente se sentirá ainda mais fortalecido pela graça de Deus.

3. Felicidade pela tentação (v.12). Quando o cristão é submetido às tentações há uma tendência de ele entregar-se à tristeza e à angústia. Mas atentemos para esta expressão: “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação”. Em outras palavras, como é feliz, realizado ou atingiu a felicidade aquele crente que é provado, não em uma, mas em várias tentações (v.2). Ser participantes dos sofrimentos de Cristo e ao mesmo tempo felizes parece paradoxal. A Bíblia, porém, orienta-nos a que nos alegremos em Deus porque a tribulação produz a paciência, e esta, a experiência que, finalmente, culmina na esperança (Rm 5.3-5). Isto mesmo! Vivemos sob a esperança de receber diretamente de Jesus a coroa da vida. Uma recompensa preparada de antemão pelo nosso Senhor para os que o amam. Você ama ao Senhor? É discípulo dEle? Então, não tema passar pela tentação. Há uma promessa: Você “receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”. Alegre-se e regozije-se em ser participante das aflições de Cristo, pois é justamente nessa condição — de felicidade verdadeira —, que Ele nos deixará por toda a eternidade quando da revelação da sua glória (1Pe 4.12,13)!

 SINOPSE DO TÓPICO (I)
 A tentação é uma espécie de prova ou teste, que uma vez vencido, fortalece a vida do crente.

 II. A ORIGEM DAS TENTAÇÕES (Tg 1.13-15)
 1. A tentação é humana. Embora a tentação objetive provar o crente, as Escrituras afirmam que ela não vem da parte de Deus, mas da fragilidade humana (Tg 1.13). O ser humano é atraído por aquilo que deseja. A história de Adão e Eva nos mostra o primeiro casal sendo tentado por aquilo que lhe atraía (Gn 3.2-6). Mesmo sabendo que não poderiam tocar na árvore no centro do Jardim do Éden, depois de atraídos pelo desejo, Adão e Eva entregaram-se ao pecado (Gn 3.6-9). A Epístola de Tiago aplica o termo “gerar”, utilizado no versículo 15, à ideia de que ninguém peca sem desejar o pecado. Assim, antes de ser efetivamente consumada, a transgressão passa por um processo de gestação interior no ser humano. Portanto, a origem da tentação está nos desejos humanos e jamais no Altíssimo, “porque Deus [...] a ninguém tenta”.

2. Atração pela própria concupiscência. O texto bíblico é claro ao dizer que “cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (v.14). A tentação exterioriza o vício, os desejos, a malignidade da natureza humana, isto é, a concupiscência. Ser tentado é sentir-se aliciado pela própria malícia ou os sentimentos mais reclusos de nossa natureza má. Você tem ouvido o ressoar das suas malícias? Elas te atraem? Ouça a Epístola de Tiago! Não dê vazão às pulsões interiores, antes procure imitar Jesus afastando-se do pecado. Assim, não darás luz ao pecado e viverás.

3. Deus nos fortalece na tentação. Embora a tentação seja fruto da fragilidade humana, quando ouvimos o Espírito Santo, Deus nos dá o escape em tempo oportuno: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1Co 10.13). O Santo Espírito nos fará lembrar a Palavra de Deus para não pecarmos contra o nosso Senhor Altíssimo (Is 30.21; Jo 14.26). Todavia, para que isso seja uma realidade em nossa vida, precisamos cultivara Palavra de Deus em nossos corações (Sl 119.11).


SINOPSE DO TÓPICO (II)
 A origem das tentações é a fragilidade humana, a atração pela própria concupiscência. Todavia, Deus é a fonte do nosso fortalecimento na tentação.


 III. O PROPÓSITO DAS TENTAÇÕES (Tg 1.3,4,12)
 1. Para provar a nossa fé (v.3). Na época de Tiago, os cristãos estavam desanimados por passarem duras provas de perseguição. No versículo três, o meio-irmão do Senhor utiliza então o termo “sabendo”, o qual se deriva do verbo grego ginosko e significa saber, reconhecer ou compreender, para encorajá-los a compreenderem o propósito das lutas enfrentadas na lida cristã: Deus prova a nossa fé (Tg 1.12). À semelhança do aluno que estuda e pesquisa para submeter-se a uma prova e, em seguida, ser aprovado e diplomado, os filhos de Deus são testados para amadurecer a fé uma vez dada aos santos (Jo 16.33; Jd 3). O capítulo 11 da epístola aos Hebreus lista inúmeras pessoas que tiveram sua fé provada, porém, terminaram vitoriosas e aprovadas. Por isso o referido texto bíblico é conhecido como a “galeria dos heróis da fé”.

2. Produzir a paciência (vv.3,4). No grego, “paciência” deriva de hupomone e denota a capacidade de perseverar, ser constante, ser firme, suportar as circunstâncias difíceis. A palavra aparece em o Novo Testamento ao lado de “tribulações” (Rm 5.3), aflições (2Co 6.4) e perseguições (2Ts 1.4). Mas também está ligada à esperança (Rm 5.3-5; 15.4,5; 1Ts 1.3), à alegria (Cl 1.11) e, frequentemente, à vida eterna (Lc 21.19; Rm 2.7; Hb 10.36). O termo ilustra a capacidade de uma pessoa permanecer firme em meio à alguma pressão, pois quem é portador da paciência bíblica não desiste facilmente, mesmo sob as circunstâncias das provas extremas (Jó 1.13-22; 2.10). Tiago encoraja-nos então a alegrarmo-nos diante do enfrentamento das várias tentações (v.1), pois a paciência é resultado da prova da nossa fé.

3. Chegar à perfeição. A habilidade de perseverar ou desenvolver a paciência não acontece da noite para o dia. Envolve tempo, experiência e maturidade. O meio-irmão do Senhor destaca na epístola a paciência para que o leitor seja estimulado a chegar à perfeição e, consequentemente, à completude da vida cristã, que se dará na eternidade. A expressão “obra perfeita” traz a ideia de algo gradual, em desenvolvimento constante, com vistas à maturidade espiritual. O motivo pelo qual o cristão é provado não é outro senão para que persevere na vida cristã e atinja o modelo de perfeição segundo Cristo Jesus (Sl 119.67; Hb 5.8; Ef 4.13).


 SINOPSE DO TÓPICO (III)
 O propósito das tentações é amadurecer o crente, para que este desenvolva a paciência e chegue à perfeição.


 CONCLUSÃO
 Sabemos que todo cristão passa por aflições e tentações ao longo da vida. Talvez você esteja vivendo tal situação. Lembre-se de que o nosso Senhor Jesus passou por inúmeras tribulações e tentações, mas venceu todas, tornando-se o maior exemplo de vida para os seus seguidores. Cada tentação vencida pelo crente significa um avanço rumo ao amadurecimento espiritual. Um dia ele atingirá a estatura de varão perfeito à medida da estatura de Cristo (Ef 4.13). Este é o nosso objetivo na jornada cristã! Deus nos recompensará! Estejamos firmes no Senhor Jesus, pois Ele já venceu por nós e por isso somos mais que vencedores.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard, F. Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2009.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2007.

AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I

Subsídio Teológico

“A Tragédia do Desejo Consumado (1.15)
No versículo 14, concupiscência provavelmente refere-se a qualquer atração para o mal. A linguagem, no entanto, é mais comumente associada à indução ao pecado sexual. Tiago usa essa figura no versículo 15 para traçar o curso do mal, iniciando com um pensamento errado, que resulta em um ato pecaminoso e termina com o julgamento de Deus. Um pensamento errado dá à luz quando lhe damos o consentimento da vontade. Segue-se então o ato em si. Sendo consumado não se refere tanto ao ato completado do pecado, mas sim ao acúmulo de atos maus que constitui uma vida pecaminosa. Philips associa este versículo ao versículo 16 e o interpreta da seguinte forma: ‘E o pecado com o tempo significa morte — não se enganem, meus irmãos!‘” (TAYLOR, S. Richard. Comentário Bíblico Bacon: Hebreus a Apocalipse. Volume 2, 1 ed., RJ: CPAD, 2006, p.160).

AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II

Subsídio Teológico

“A Tentação Vem de Dentro (1.14)
Tiago conhecia os poderes sobrenaturais do mal que agiam no mundo (cf. 3.6), mas aqui ele procura ressaltar o envolvimento e a responsabilidade pessoal do homem ao cometer pecados. O engodo do mal está em nossa própria natureza. Ele está de alguma forma entrelaçado com a nossa liberdade. A questão é: ‘Será que eu preferiria ser livre, tentado e ter a possibilidade de vitória ou ser um bom robô?’. O robô está livre de tentação, mas ele também não conhece a dignidade da liberdade ou o desafio do conflito e não conhece nada acerca da imensa alegria quando vencemos uma batalha.
Tiago diz que cada um é atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Essa palavra epithumia (‘desejo’, RSV) pode ter um significado neutro, nem bom nem mal. Assim, H. Orton Wiley escreve: ‘Todo apetite nunca se controla, mas está sujeito ao controle. Por isso o apóstolo Paulo diz: ‘Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado’ (1Co 9.27)’. Este talvez seja o sentido que Tiago emprega aqui.
No entanto, na maioria dos casos no Novo Testamento, epithumia tem implicações maléficas. Se for o caso aqui, quando um homem é seduzido para longe do caminho reto, isso ocorre por causa de um desejo errado. Tasker escreve: ‘Este versículo, na verdade, confirma a doutrina do pecado original. Tiago certamente teria concordado com a declaração de que ‘a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice’ (Gn 8.21). Desejos concupiscentes, como nosso Senhor ensinou de maneira tão clara (Mt 5.28), são pecaminosos mesmo quando ainda não se concretizaram em ações lascivas’. Se essa interpretação for verdadeira, há aqui mais uma dimensão na origem da tentação. Desejos errados podem ser errados não somente porque são incontrolados, mas porque, à parte da presença santificadora do Espírito, eles são carnais” (TAYLOR , S. Richard. Comentário Bíblico Beacon: Hebreus a Apocalipse. Volume 2, 1 ed., RJ: CPAD, 2006, pp.159-60).

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

O Propósito da Tentação

“Não nos deixes cair em tentação”. Foi a oração de Jesus ensinada aos discípulos. No tempo da provação, angústia, tristeza e sofrimento são realidades presentes na vida do discípulo de Cristo. Infelizmente, e em nome de uma teologia, muitos desejam descartar da vida esta realidade humana e não dá ao seguidor do caminho o direito de sofrer. Não é isto que a Palavra de Deus nos ensina! Pelo contrário, o sofrimento por Cristo nos dá a oportunidade de mostrarmos a nossa fé e amor por Ele, como os mártires que não retrocederam na convicção do Evangelho.
A lição desta semana tem um penoso objetivo: o de resgatar a doutrina bíblica do sofrimento por Cristo. Esta, por vezes, tem sido esquecida pela Igreja Evangélica. Quando falamos de sofrimento, algumas pessoas nos perguntam: “Mas por que o crente deveria sofrer?”; “Devemos ensinar a teologia da miséria?” etc. Tais perguntas são descabidas, pois não escolhemos sofrer por Jesus, é Este quem nos escolhe. Por consequência, ao vivermos para Cristo precisamos estar dispostos a também sofrermos por Ele. Note as palavras do Meigo Nazareno: “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará. Porque que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?” (Lc 9.23-25).
As expressões “negue-se a si mesmo”, “tome cada dia a sua cruz” e “siga-me” significam o convite para peregrinarmos o caminho da execução do nosso eu. Este é o caminho da Cruz de Cristo! Há, porventura, coisa mais difícil do que negar a nós mesmos? Esmagar a nossa vontade para fazer a do outro? A expressão “cada dia” revela-nos que o caminho da cruz deve ser feito por nós, diariamente, crucificando assim o “eu”. O teólogo French L. Arrington amplia este conceito: “Tomar a cruz significa uma resolução diária em negar a si mesmo por causa do Evangelho. [...] Não é questão momentânea, mas um modo de vida. Os cristãos nunca devem deixar de carregar a cruz” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, CPAD, p.374).
O Evangelho não deixa outra escolha: o nosso caminho é o do sofrimento por Cristo. O ensino de Tiago sobre o sofrimento está em pleno acordo com o Evangelho de Cristo.


SUBSIDIOS

PRIMEIRA PARTE
TIAGO 1.1-15(COMENTÁRIO)
Prefácio e saudação
Tg.1.1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que andam dispersas: saúde.
1.1 — A tradição da Igreja primitiva identifica o autor Tiago como sendo meio-irmão de Cristo (1 Co 15.7). Ás doze tribos. Essa saudação provavelmente significa que a carta está destinada a cristãos judeus que vivem fora da Palestina. A carta não se destinava a uma igreja específica, mas deveria circular entre várias congregações locais. Às doze tribos. Provavelmente não se refere a judeus como raça, mas a judeus crentes em Cristo que assim se tornaram o verdadeiro Israel de Deus (Gl 6.16; Fp 3.3). Em 1 Pe 1.1, "Dispersão" também se refere a gentios cristãos.
Acerca de provas e tentações
Tg.1.2  Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações,
1.2 — As provações (n v i ) são circunstâncias externas — conflitos, sofrimentos e aflições — com as quais todos os cristãos se deparam. As provações não são agradáveis e podem ser extremamente dolorosas, mas os cristãos devem considerá-las como oportunidades de alegrar-se. Aflições e dificuldades são ferramentas que refinam e purificam nossa fé, produzindo paciência e perseverança. Tiago freqüentemente (pelo menos dezesseis vezes) dirigiu-se aos seus leitores chamando-os de irmãos. Ele e seus leitores sentiam-se ligados por uma lealdade comum a Jesus Cristo. Sua primeira palavra é de encorajamento.
Tg.1.3 sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência.
1.3 — A palavra traduzida por prova da vossa fé ocorre somente aqui e em 1 Pedro 1.7. O termo, que significa provado ou aprovado, era usado para designar moedas que eram legítimas, e não falsificadas. O objetivo da provação não é destruir ou afligir, mas purificar e refinar. E essencial à maturidade cristã, pois até mesmo a fé de Abraão teve de ser provada (Gn 22.1-8). O significado de paciência transcende a ideia de suportar a aflição; diz respeito a manter-se firme sob pressão, com uma resistência que transforma adversidades em oportunidades.  1.2,3 Para o crente, toda provação toca na sua fé que assim é confirmada e produz um homem perfeito (plenamente desenvolvido) em Cristo (1 Pe 1.6-9; Rm 5.3-5). Por isso devemos nos alegrar quando vêm provações pelo lucro espiritual que nos proporcionam.  O cristão deve se alegrar na provação e não por causa da provação. Havia uma grande necessidade nos tempos primitivos da igreja receber o ensinamento ao longo destas linhas, por causa das sucessivas ondas de perseguição. O fruto da perseguição é a perseverança (hypomone), ou melhor, resistência. James Moffatt (The General Epistles, pág. 9) chama-o de "o poder para suportar a vida".
Tg.1.4 Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.
1.4 — Quando os cristãos resistem à provação, eles são feitos perfeitos, no sentido de terem chegado ao fim, e completos, no sentido de inteiros. 
Tg.1.5  E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada.
1.5 — A sabedoria que Deus dá não são necessariamente informações sobre como se livrar das dificuldades, mas, em vez disso, é discernimento sobre como aprender com as dificuldades (Pv 29.15). Não se trata de mais informações sobre como evitar momentos de prova, mas uma nova perspectiva a respeito das provações. A sabedoria de Deus começa com uma genuína reverência pelo Todo-poderoso (o temor do SENHOR, no Salmo 111.10; Provérbios 9.10) e uma firme confiança de que Deus está no controle de todas as circunstâncias, guiando-as para Seus bons propósitos (Rm 8.28). Sabedoria. Nesta epístola é a compreensão cristã que se manifesta numa vida que segue a lei de Deus como sua regra de fé e moralidade.
Tg.1.6 Peça-a, porém, com fé, não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte.
Tg.1.7 Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa.
1.6,7 — Duvidando diz respeito a estar com o pensamento dividido ou debater. O termo não descreve uma dúvida momentânea, mas a lealdade dividida, uma incerteza. Que o homem vacilante não receberá resposta à sua oração é tão certo quanto o fato de que aquele que pede com fé receberá (5, 6).
Tg.1.8 O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos.
1.8 — O significado literal de coração dobre é com duas almas. Se uma parte da pessoa se encontrar em Deus e a outra estiver neste mundo (Mt 6.24), haverá um constante conflito interior. Tiago falava sobre o propósito da provação. Ele antecipa que alguns dos seus leitores dirão que não conseguem descobrir qualquer propósito divino em suas dificuldades. Neste caso, diz ele, devem pedir a Deus que lhes dê sabedoria, isto é, visão prática da vida (não conhecimento teórico), e Deus atenderá tal pedido liberalmente, (generosamente), e não os censurará nem os reprovará. Há, entretanto, uma condição estabelecida. O pedido deve ser feito com fé, em nada duvidando. O homem que vai a Deus com o seu pedido deve estar certo de que quer o que pede. Trago compara um homem que duvida com a onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Tal homem "não pode esperar nada de Deus" (Phillips). Ele é um homem de ânimo dobre, isto é, um homem de fidelidade dividida. Ele faz reservas mentais sobre a oração em si mesma e sobre o que pede de Deus.
Tg.1.9  Mas glorie-se o irmão abatido na sua exaltação,
Tg.1.10 e o rico, em seu abatimento, porque ele passará como a flor da erva.
Tg.1.11 Porque sai o sol com ardor, e a erva seca, e a sua flor cai, e a formosa aparência do seu aspecto perece; assim se murchará também o rico em seus caminhos.
1.9-11 — Tiago oferece dois exemplos de provações (v. 2-8): um está relacionado a um irmão abatido e o outro é sobre um homem rico. Provavelmente abatido significa pobre, em contraste com o outro homem, que é rico. Glorie-se (tende grande gozo, no v. 2) é um imperativo que concerne ao que deve fazer o cristão pobre, pois Deus o exaltou ao permitir-lhe passar por circunstâncias difíceis, pois elas somente aperfeiçoarão seu caráter e sua fé (v. 4). O cristão rico também pode gloriar-se quando uma provação o abate, porque ela lhe ensina que a vida é curta, e que ele, em seus caminhos, ou seja, em seus afazeres, se murchará. O rico deveria sempre confiar no Senhor, não em si mesmo, muito menos em seu dinheiro.
v.9. Este parágrafo brota do comentário que Tiago faz sobre a provação. A pobreza é uma adversidade externa. O cristão pobre deve se regozijar em seu novo estado em Jesus Cristo. Este relacionamento deu-lhe verdadeira riqueza. Ele é um herdeiro de Deus e um co-herdeiro com Jesus Cristo!
vv. 10,11. Um cristão rico, por outro lado, deve se regozijar "porque em Cristo foi rebaixado a um nível onde 'os enganos das riquezas' (Mc. 4:19) e a ansiedade de amontoá-las e retê-las já não está mais em primeiro lugar e nem mesmo é alvo de considerações relevantes" (R.V.G. Tasker, The General Epistle of James, pág. 43). Mais ainda, as riquezas são temporárias. São como a relva verde e suas flores, que logo amarelecem sob o calor do sol da Palestina. Kauson (ardente calor) foi aqui usado simplesmente falando do calor do sol e não do siroco, o quente vento do deserto que sopra através da Palestina vindo do leste (cons. J.Schneider, TWNT, III, 644).
Tg.1.12  Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.
1.12 — O cristão que sofre provações mostra que ama Jesus e, portanto, receberá a coroa da vida (Ap 2.10) diante do tribunal de Cristo. A Bíblia descreve a recompensa do cristão (2 Co 5.10; Ap 22.12) sob várias imagens vívidas, como metais preciosos (1 Co 3.8-14), vestes (Ap 3.5,18; 19.7,8) e coroas (1 Co 9.25; Ap 2.10; 3.11). Ser tentado representam a mesma palavra no grego. O sentido duplo vem da pressão externa (prova) e do desejo interno (tentação). No v. 12 está em vista a provação externa (senão exigiria opor-se em lugar de suportar), enquanto no v. 13 refere-se à tentação para o pecado. Coroa da vida, lit. "grinalda" (cf. n em Fp 4.1). Não é símbolo real ou régio, mas sinal de aprovação (cf. 1 Ts 2.19 e Mt 25.21).
Tg.1.13 Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta.
1.13 — O foco do capítulo passa das provações(v. 2-12) para a tentação (v. 13-18). Deus a ninguém tenta. A tentação não vem de Deus. Deus nunca intencionalmente levará uma pessoa a cometer pecado porque isso não somente iria contra Sua natureza, mas seria contrário ao Seu propósito de moldar Sua criação à Sua imagem santa. Contudo, Deus às vezes coloca Seu povo em  circunstâncias adversas com o propósito de burilar o seu caráter (Gn 22.1,12). Essas recompensas serão nossas respectivas capacidades ou posições de privilégio e serviço para a glória de Cristo em Seu Reino vindouro (Ap 4.10; 5.10).
Tg.1.14 Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
Tg.1.15 Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
1.14,15 — Transformar uma provação em uma tentação para fazer o mal só é possível se a
pessoa permitir que o desejo assuma o controle. Atraído e engodado expressam a intensidade com que o desejo seduz um indivíduo até ele se envolver de forma trágica. O pecado não se impõe a quem reluta, mas é fruto de uma escolha em função de seus atrativos. Concebido sugere a imagem da vontade de uma pessoa pendendo para o mal e, finalmente, sendo dominada por ele. Essa mesma ideia é vividamente ilustrada pelo trágico caminho de um viciado: uma vez adquirido, um hábito, no final das contas, controla completamente o indivíduo. Consumado sugere concluir um objetivo. A ideia aqui é que o pecado alcançou a maturidade e apoderou-se do caráter do indivíduo. A morte aqui se refere à morte física (Pv 10.27; 11.19; Rm 8.13).
v.14. Em vez de acusar Deus pelo mal, o homem deve assumir a responsabilidade pessoal dos seus pecados. É a sua própria cobiça que o atrai e seduz. Estas são, no seu sentido primário, palavras usadas na caça e na pesca que foram empregadas aqui metaforicamente.
v.15. Quando o desejo do mal se levanta na mente, não pára aí. A cobiça dá à luz o pecado, e o pecado produz a morte. "A morte é assim o produto amadurecido ou terminado do pecado" (Moffatt, op. cit., pág. 19). A morte aqui é a morte espiritual em contraste com a vida que Deus dá àqueles que o amam (1:12).

SEGUNDA PARTE
1.2 TENTAÇÕES. A palavra "tentações" (gr. peirasmos) refere-se, aqui, às perseguições e aflições que o crente sofre nesta vida da parte do mundo ou de Satanás.

(1) O crente deve enfrentar  essas provações com alegria (cf. Mt 5.11,12; Rm 5.3; 1 Pe 1.6), porque isso desenvolverá nele uma fé perseverante, uma personalidade experiente e uma esperança madura (cf. Rm 5.3-5). Nossa  fé somente pode chegar à plena maturidade quando confrontada com dificuldades e oposição (vv. 3,4).

(2) Tiago chama tais provações de "a prova da vossa fé" (v.3). Às vezes, as provações vêm sobre o crente a fim de que Deus possa testar a sinceridade da sua fé. Não há nada nas Escrituras dizendo que as aflições da vida são sempre uma evidência de que Deus está insatisfeito conosco. Podem ser um sinal de que Ele reconhece nossa firme dedicação a Ele (cf. Jó 1;2).

1.4 SEJAIS PERFEITOS. "Maduros" (gr. teleios) transmite a idéia bíblica de perfeição no sentido de relacionamento correto com Deus, que frutifica no empenho sincero de amá-lo de todo o coração em obediência irrestrita e uma vida inculpável (Dt 6.5; 18.13; Mt 22.37; ver 1 Ts 2.10).

1.5 SE ALGUM DE VÓS TEM FALTA DE SABEDORIA. A sabedoria é a capacidade espiritual de ver e avaliar a nossa vida e conduta do ponto de vista de Deus. Inclui fazer escolhas acertadas e praticar as coisas certas de conformidade com a vontade de Deus revelada na sua Palavra e na direção do Espírito Santo (Rm 8.4-17). Podemos receber sabedoria indo a Deus e pedindo-lhe com fé (vv. 6-8; Pv 2.6; 1 Co 1.30).

1.13 TENTADO. Ninguém que peca, poderá livrar-se da culpa, lançando acusações contra Deus. Deus pode nos provar para fortalecer nossa fé, mas nunca para nos levar ao pecado. A natureza de Deus testifica que Ele não pode dar origem à tentação para pecar.

1.14 PELA SUA PRÓPRIA CONCUPISCÊNCIA. A tentação provém, em princípio, dos desejos e inclinações do nosso próprio coração (cf. Mt 15.19). Se o desejo mau não for resistido e purificado pelo Espírito Santo, levará ao pecado e, depois, à morte espiritual (v. 15; Rm 6.23; 7.5,10,13).



TERCEIRA PARTE
O propósito da tentação.
Por estar escrevendo “às doze tribos que andam dispersas” (Tg 1.1), isto é, provavelmente aos cristãos judeus que se encontravam espalhados entre as nações devido à primeira onda de perseguição ao Cristianismo no início da Igreja Primitiva (At 8.1; 11.19), o primeiro assunto que o bispo de Jerusalém trata em sua epístola é justamente a provação. Mais especificamente, ao dirigir-se a seu rebanho disperso, o apóstolo Tiago demonstra sua preocupação com a necessidade de esses cristãos entenderem corretamente o propósito das aflições pelas quais estavam passando bem como o posicionamento que deveriam ter diante dessas terríveis intempéries. E ao fazê-lo, ele apresenta, resumidamente,o significado da provação na vida dos filhos de Deus.

Neste capítulo, abordaremos esse tema da provação à luz dos versículos 2 a 4 e 12 a 15 do primeiro capítulo da Epístola de Tiago, porque eles tratam mais diretamente sobre esse assunto. Entretanto, os versículos intermediários, isto é, aqueles que se encontram entre esses dois blocos de versículos, serão também e eventualmente citados quando for necessário para melhor compreensão do assunto. Comecemos, então, pela análise dos versículos de 2 a 4.

O propósito da provação na vida do cristão.
A afirmação que abre esse primeiro bloco de versículos sobre o tema na Epístola de Tiago expressa contundentemente algumas verdades sobre as provações um tanto esquecidas hoje em dia por muitos cristãos. Declara Tiago: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações” (Tg 1.2). Só esse versículo já seria suficiente para jogar por terra, por exemplo, todos os pressupostos da Teologia da Prosperidade e da Confissão Positiva. Antes, porém, de mergulharmos nas verdades nele contidas, é preciso entender corretamente o que Tiago quer dizer quando fala de “tentações” aqui.
O vocábulo que aparece no original grego dessa passagem para “tentações” é Peirasmos, que significa literalmente “prova”, “provação” ou “teste”.1 O termo “sugere uma situação difícil, uma pressão dolorosa”,2 daí algumas versões do texto sagrado preferirem a tradução “tentações”, que traz a ideia de “teste”, enquanto outras — a maioria — preferem a tradução “provações”, que traz a ideia de uma situação aflitiva. Na verdade, as duas traduções estão corretas, uma vez que Peirasmos é utilizado nessa passagem em alusão às aflições decorrentes de perseguições sofridas pelos crentes por causa da sua fé (Tg 1.3) e tais adversi- dades são também tentações, porque elas testam a fidelidade dos cristãos a seu Senhor. Aliás, aflições, de forma geral, funcionam quase sempre também como tentações. Ou seja, Peirasmos descreve perfeitamente a situação dos cristãos judeus dispersos pelo Império Romano: eles estavam tendo a sua fidelidade ao evangelho provada pela fornalha da perseguição.
Esclarecido isso, vamos agora às lições extraordinárias que essa declaração inicial de Tiago nos traz.

Em primeiro lugar, essa afirmação do apóstolo implica que o cristão, o servo de Deus, o filho de Deus, aquele que ama e serve ao Senhor, passa, sim, por dificuldades. Tiago se dirige aos seus leitores não como falsos crentes, mas como “irmãos” em Cristo, e conta-nos que esses irmãos, apesar da sua fé e principalmente por causa da sua fé, estão passando por “várias provações”, não por poucas. Isso se coaduna com o que Jesus já havia dito a seus discípulos, que no mundo teríamos aflições (Jo 16.33), e com o que o salmista Davi asseverou em Salmos 34.19, que o “justo” sofre “muitas aflições”. Então, é absolutamente falsa a crença de que todas as provações na vida de uma pessoa são resposta direta a algum pecado na vida dela. Santos, justos, irmãos em Cristo, também passam por dificuldades pelo simples fato de estarem neste mundo.

Em segundo lugar, diferentemente do que a maioria esmagadora dos seres humanos faz diante das aflições, a afirmação de Tiago deixa claro que devemos reagir a elas com alegria e não com desolação. O problema é que, infelizmente, como declara Lawrence Richards, “a última coisa que fazemos normalmente, quando vêm as tentações, é alegrar-nos”. Aliás, a primeira pergunta que o homem natural faria diante de uma declaração como a de Tiago seria, como também frisa Richards: “Nós podemos compreender porque os cristãos de Jerusalém, forçados a deixar seus lares e fugir para terras estrangeiras, enfrentariam ‘várias tentações’, mas teriam ‘grande gozo’?”

O célebre teólogo puritano Matthew Henry ressalta brilhantemente a razão mais óbvia para essa reação do cristão, e que também está subentendida nas palavras de Tiago. Frisa Henry: “Não devemos afundar numa disposição mental triste e desconsolada, que nos faria desfalecer nas provações, mas precisamos nos empenhar em manter o nosso espírito elevado e firme para melhor discernir a nossa situação; e para maior vantagem nossa, devemos empenhar-nos em fazer o melhor dela”.4 Ou seja, qualquer pessoa que reage com desânimo completo diante das provações está se rendendo a elas e, portanto, já está derrotado; logo, se queremos vencê-las, temos que enfrentá-las com disposição de ânimo, não com abatimento de alma.
Entretanto, mesmo após essa explicação mais óbvia para a reação do cristão frente às adversidades, ainda há uma indagação que incomoda aquele que não é cristão: “E até compreensível tentar manter-se calmo ou com um espírito elevado em meio à tempestade, mas alegrar-se grandemente diante dela?”. É por isso que Matthew Henry acrescenta em seguida: “A filosofia pode instruir os homens a permanecerem calmos em suas dificuldades, mas o Cristianismo lhes ensina [algo mais:] a serem alegres”.

Sim, os cristãos podem ter “grande alegria” em meio às aflições. Mas, como isso é possível? Como o Cristianismo ensina o cristão a se alegrar em meio às dificuldades? A explicação de Tiago está nos versículos 3 e 4: o entendimento do propósito das provações leva o crente a ver as suas adversidades como oportunidades para seu crescimento, amadurecimento e fortalecimento espirituais.
Tiago diz que o cristão tem “grande gozo” quando se vê mergulhado em “várias provações” porque ele sabe (“sabendo”, v.3) “que a prova da vossa fé produz a paciência” (v.3). O vocábulo grego traduzido aqui como “paciência” é Hupomone, que significa literalmente “permanência em baixo de”, “ficar em baixo de”, trazendo a ideia de “tolerância”, “resignação”, “persistência”, “perseverança”.6 Não por acaso, a maioria das versões da Bíblia traduz esse vocábulo nessa passagem como “perseverança”. Ou seja, o que Tiago está dizendo nesse texto é que uma vez confirmada a nossa fé em meio às provações, esta é fortalecida, porque o resultado da provação é a paciência ou a perseverança. São nas provações que aprendemos a perseverança, que é a capacidade de mantermo-nos firmes mesmo quando tudo está dando errado, mesmo quando tudo parece estar conspirando contra nós. Não se engane: ninguém aprende a perseverar, ninguém cresce e amadurece na fé, sem passar por provações.

Alguns cristãos são mais provados do que outros, mas todos são provados de alguma forma, porque são as provas que exercitam a nossa fé. Essa é a razão pela qual Deus permite provações na vida dos seus filhos. Como dizia A. W. Tozer, “Deus não mima os seus filhos”, por isso as provações na vida do cristão. Quando mimamos nossos filhos, eles se estragam, eles crescem com um caráter defeituoso. E a disciplina que aperfeiçoa o caráter da criança, como Salomão enfatiza inúmeras vezes no Livro de Provérbios. Da mesma forma, são as provações que aperfeiçoam a fé e o caráter cristãos.
Como assevera o apóstolo Pedro: “agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações [Peirasmos], para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.6,7).

A importância de não esmorecer nas provações e da sabedoria para o completo crescimento espiritual.
É interessante notar que Tiago estava preocupado não apenas em seus leitores entenderem o propósito das provações, mas também em ajudá-los a cumprirem esse propósito. Isso porque, no versículo 4, ele afirma: “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”. Ou seja, ele estava dizendo a seus leitores: “A obra da perseverança deve ser completada em suas vidas para que vocês sejam realmente aperfeiçoados, maduros, fortalecidos na fé”. Isto é, não basta entender o propósito das provações; é preciso enfrentar até o fim esse processo, não parar no meio do caminho, para finalmente se chegar ao resultado desejado.
Mas, e se depois desse processo o cristão ainda sentir que está lhe faltando alguma coisa? Nos versículos 5 a 8, Tiago responde a essa questão que eventualmente um de seus leitores poderia fazer. Ele diz aos cristãos judeus dispersos que para garantir que o crescimento espiritual deles seja completo, além de não esmorecerem em meio às provações, eles devem também, caso sintam necessidade, pedir sabedoria a Deus. E aqui Tiago estava confrontando uma antiga corrente da tradição judaica sobre a sabedoria, que afirmava que toda sabedoria que precisamos seria alcançada apenas por meio das provações. Ao contrário dessa crença, diz Tiago aos seus irmãos em Cristo que se “a paciência” tiver “a sua obra completa” em suas vidas e, mesmo assim, eles sentirem que ainda lhes falta alguma coisa, que não têm ainda toda a sabedoria almejada, devem, então, pedi-la a Deus: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (v.5).

Finalmente, consideremos ainda os versículos 9 a 11 do capítulo primeiro de Tiago, porque eles são uma continuação do raciocínio do apóstolo sobre como as provações podem ser transformadas em motivo de grande alegria para o crente em Cristo (apesar de esses versículos, isoladamente, também trazerem outras lições específicas que serão analisadas no capítulo 4 deste livro). Nos versículos de 9 a 11, Tiago fala que assim como o cristão pobre deve alegrar-se em sua melhora de vida (v.9), o cristão rico também deve alegrar-se nas circunstâncias difíceis (v. 10a), porque as riquezas terrenas são passageiras, transitórias, não devemos nos apegar a elas (w. 10b-11).

Ou seja, à luz dos versículos anteriores, o que o apóstolo Tiago está afirmando nesses versículos é, em síntese, que o cristão deve aceitar as ordens da providência divina com gratidão.
Portanto, o cristão transforma a sua provação em grande alegria quando ele reconhece na provação uma oportunidade para amadurecer e fortalecer-se na fé (w.2-4); quando ele se aproxima de Deus em oração, pedindo-lhe sabedoria (w.5-8); e quando ele aceita com gratidão a soberania e a providência divinas em todas as circunstâncias de sua vida (w.9-11), sabendo que Deus está no controle de tudo e Ele sabe o que faz e o que é melhor para a sua vida (Rm 8.28; 12.2). Mas, não termina aí. Ainda há um quarto ponto, que se encontra no versículo 12, e sobre o qual falarei ao final deste capítulo.

A origem das tentações.
No segundo bloco de versículos sobre provações (Tg 1.12- 15 — o vocábulo grego para tentações nessa passagem é Peiras- mos também), Tiago é claro quanto à origem das tentações. Ele declara que elas não provêm de Deus (v. 13) e também não faz nenhuma referência a elas procederem diretamente do Diabo ou do mundo. O apóstolo assevera que a tentação tem a sua origem, na verdade, no próprio ser humano, em sua natureza pecaminosa (w. 14,15). Ou seja, o mundo e o Diabo são apenas agentes indutores externos da tentação.

Como afirma o teólogo Millard J. Erickson, a Bíblia enfatiza que o problema do pecado “está no fato de que os homens são pecadores por natureza. [...] Muitas vezes, a tentação envolve indução externa, [...] porém, o pecado é uma escolha da pessoa que o comete. O desejo de fazer o que se faz pode estar presente de forma natural e também pode haver indução externa, mas o indivíduo é basicamente responsável”.7 Como o próprio Jesus afirmou, o pecado não vem de fora para dentro; ele está dentro de nós, é resultado de nossa natureza (Mc 7.15). O que vem de fora são apenas estímulos para que o pecado se manifeste dentro de nós.

Entendido isso, percebemos que as tentações, na verdade, não exercem alguma força sobre a pessoa para fazê-la cair, mas apenas revelam a natureza interior da pessoa e a verdadeira qualidade de sua fé. Basta lembrar que se não houvesse natureza pecaminosa, nenhuma tentação seria de fato tentação. O que torna a tentação de fato uma tentação é porque temos uma natureza pecaminosa. Como bem explica Tiago, “cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (v. 14).
Finalmente, é importante frisar ainda que ser tentado não é pecado; pecado é ceder à tentação. E, inclusive, ser provado é, como afirma Tiago, motivo de contentamento do cristão, porque se ele não buscou aquela dificuldade, mas foi confrontado por ela, ele sabe que essa situação poderá se transformar em uma oportunidade para o seu crescimento; ele poderá suportar e vencer essa provação pela graça de Deus, fortalecendo-se no Senhor e na força do seu poder (Ef 6.10), vencendo no dia mal (Ef 6.13) e crescendo na fé (1 Pe 1.6,7).

O prêmio eterno para quem sofre e vence as tentações.
O prêmio eterno do cristão que sofre e vence as provações já está garantido: “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam” (Tg 1.12). Aleluia! Está é a quarta razão pela qual o cristão pode transformar suas provações em grandes alegrias: ele sabe que maior é o galardão daquele que, mesmo sendo muito provado, permanece firme em sua fé.
Não à toa, a palavra “paciência” (ou “perseverança”, em outras versões), que é o resultado de suportar as provações (Rm 5.3; Tg 1.3), aparece no texto bíblico ligada não apenas às tribulações (Rm 5.3), às aflições (2 Co 6.4) e às perseguições (2 Ts 1.4; Tg 1.2,3), mas também à vida eterna (Lc 21.19; Rm 2.7; Hb 10.36), à esperança (Rm 5.3; 15.4,5; lTs 1.3) e à alegria (Cl 1.11). Logo, ser provado é motivo de alegria porque nosso prêmio por suportar as provações serão a vida eterna, a coroa da vida, a esperança que não murcha e a alegria que não tem fim. Portanto, louve a Deus nas suas provações! “Tende grande gozo quando cairdes em várias provações” (Tg 1.2), porque “em todas essas coisas, somos mais do que vencedores por aquele que nos amou” (Rm 8.37)!


Elaborado pelo Evangelista; Natalino dos Anjos
Professor da E.B.D. e pesquisador
Dirigente da Congregação(A.D Missão) do Bairro Novo Horizonte
Campo de Guiratinga - Mato Grosso
Pastor Presidente; Pr Edseu Vieira

Fonte de pesquisa;
Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica - Alexandre Coelho e Silas Daniel
Comentário Bíblico de Moody – N. T.
O Novo Comentário Bíblico - Earl D. Radmacher; H. Wayne House; Ronald B. Allen – N.T.
Comentário Bíblico de Shedd - N.T.
Bíblia de Estudo Pentecostal.











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