Lições Bíblicas CPAD - Adultos - 2º Trimestre de 2015
Título: Jesus,
o Homem Perfeito — O Evangelho de Lucas, o médico amado
Comentarista: José Gonçalves
Lição 8: O
poder de Jesus sobre a natureza e os demônios
Data: 24 de Maio de 2015
TEXTO ÁUREO
“E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E
eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até
aos ventos e à água manda, e lhe obedecem?” (Lc 8.25).
VERDADE PRÁTICA
Ao mostrarem o poder de Jesus sobre as forças
naturais e sobrenaturais, as Escrituras sublinham sua natureza divina e
identidade messiânica.
LEITURA DIÁRIA
Segunda — Lc 8.22-35
Jesus tem poder sobre as forças da natureza
Terça — Lc 4.33-37
Jesus tem poder sobre as forças malignas
Quarta — Lc 8.29-31
Jesus veio para libertar os cativos do Diabo
Quinta — Mc 1.21-26
Jesus conhecia a natureza dos demônios e não os
deixava falar
Sexta — Lc 9.38-42
Jesus veio para destruir as obras dos demônios
Sábado — Cl 2.15
Jesus e a sua completa vitória sobre os demônios
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Lucas 8.22-25,35-39.
22 — E aconteceu que, num daqueles
dias, entrou num barco com seus discípulos e disse-lhes: Passemos para a outra
banda do lago. E partiram.
23 — E, navegando eles, adormeceu; e
sobreveio uma tempestade de vento no lago, e o barco enchia-se de água, estando
eles em perigo.
24 — E, chegando-se a ele, o despertaram,
dizendo: Mestre, Mestre, estamos perecendo. E ele, levantando-se, repreendeu o
vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança.
25 — E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E
eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até
aos ventos e à água manda, e lhe obedecem?
35 — E saíram a ver o que tinha acontecido
e vieram ter com Jesus. Acharam, então, o homem de quem haviam saído os
demônios, vestido e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus; e temeram.
36 — E os que tinham visto contaram-lhes
também como fora salvo aquele endemoninhado.
37 — E toda a multidão da terra dos
gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles, porque estavam possuídos
de grande temor. E, entrando ele no barco, voltou.
38 — E aquele homem de quem haviam saído os
demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo:
39 — Torna para tua casa e conta quão
grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes
coisas Jesus lhe tinha feito.
HINOS SUGERIDOS
108, 225 e 253 da Harpa Cristã
OBJETIVO GERAL
Jesus, como o Filho de Deus, tem
poder sobre a natureza e os seres espirituais.
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se
ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I
refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
I. Destacar o aspecto sobrenatural da pessoa
de Jesus.
II. Apresentar a realidade bíblica da
existência dos demônios.
III. Explicar o aspecto limitado dos demônios.
IV. Mostrar que a obra de Jesus é oposta à dos
demônios.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Caro professor, sobre a pessoa de Jesus, a
Bíblia diz: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a
Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se
semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo,
sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8). Esse texto ressalta a
dimensão humana de Jesus, o Deus que se tornou homem. Entretanto, a sua
natureza humana não se confunde com a divina: “Pelo que também Deus o exaltou
soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da
terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus
Pai” (Fp 2.9-11). Assim, a presente lição objetiva demonstrar o poder de Jesus
Cristo sobre a Criação e sobre os demônios. Ele, o Filho, estava presente
quando da criação de todas as coisas (Jo 1.1-3).
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Nesta lição, estudaremos os relatos que
mostram o poder de Jesus sobre as forças da natureza e, também, sobre os
demônios. Até aqui os discípulos já tinham visto Jesus curando doentes e
libertando pessoas oprimidas pelo Diabo. Todavia, eles ainda não haviam visto o
Mestre dominando as forças da natureza, nem tampouco alguém que andava nu e
vivia nos sepulcros ser devolvido ao seu convívio familiar.
Estes fatos ocorreram quando Jesus acalmou uma
tempestade e libertou o endemoninhado gadareno. Em ambos os relatos, vemos as
manifestações do poder e da misericórdia de nosso Senhor, que sempre procurou o
bem do homem, nem que para isso fosse necessário repreender as leis físicas do
Universo ou quebrar o poder de Satanás.
PONTO CENTRAL
Embora as forças espirituais do mal
pareçam maiores que nós, Jesus é mais poderoso do que todas elas. Ele é
soberano!
I. JESUS E AS FORÇAS SOBRENATURAIS
1. Poder sobre a natureza. Até este
ponto, Lucas já havia mostrado Jesus exercendo poder sobre demônios e
enfermidades (Lc 4.31-44). Agora, ele o mostra exercendo o seu poder sobre as
forças da natureza (Lc 8.23-25).
A tempestade surge, aqui, como uma força impessoal
revelando que a harmonia original da criação se perdeu. Nesse momento, ela se
levanta como uma força poderosa que precisa ser detida. Ao receber a voz de
comando do Filho de Deus, as forças descontroladas da natureza param. Jesus põe
ordem no caos. A cena foi tão dramática para os discípulos, que arrancou deles
a pergunta: “Quem é este que até aos ventos e a água manda?”.
2. Poder sobre os demônios. Se a natureza é
uma força impessoal, o mesmo não pode se dizer do Diabo. A Bíblia mostra que
ele é um ser pessoal, isto é, dotado de personalidade. Jesus e seus discípulos
tiveram que enfrentá-lo muitas vezes. Ainda quando descrevia o relato da
tentação de Cristo, Lucas informa que Satanás ausentou-se de Jesus “por algum
tempo” (Lc 4.13). Jesus derrotou o Diabo na tentação do deserto, mas depois
disso teve outros embates com ele. De fato, a Escritura registra vários casos
de pessoas oprimidas e possessas de demônios que tiveram um encontro com Jesus
e seus discípulos (Lc 4.33-37,41; 6.18; 7.21; 8.27; 9.39; 10.17-19; 11.14;
13.11). Em todos os casos, tais pessoas foram libertas e Satanás derrotado.
SÍNTESE DO TÓPICO (I)
Jesus tem poder sobre a natureza e sobre
os demônios.
SUBSÍDIO DIDÁTICO
Prezado professor, importa ressaltar neste tópico o
aspecto divino e humano de Jesus. Divino porque Ele dá ordem à Criação. Embora
achado na forma de homem, Jesus Cristo controlou a tempestade, revelando não
apenas o seu lado divino, mas humano também. Nosso Senhor sente compaixão das
pessoas que necessitam do seu socorro. Ele compungiu-se com a situação do jovem
possesso por demônios, pois desejou trazê-lo de volta ao seu estado de juízo
perfeito. Jesus devolveu aquele jovem para ele mesmo, para a sua família e para
a sociedade.
Outro ponto importante a destacar neste tópico é
que o apaziguamento da tempestade é a primeira de uma série de quatro milagres
no capítulo 8 de Lucas: Jesus apazigua a tempestade (8.22-25); liberta o
endemoninhado de Gadara (8.26-39); ressuscita a filha de Jairo (8.40-42,49-56);
e cura a mulher com fluxo hemorrágico (8.43-48).
II. JESUS E A REALIDADE DOS DEMÔNIOS
1. Uma realidade bíblica. A Bíblia
desconhece a ideia de um Diabo mitológico ou que é um produto da cultura
humana. Nas Escrituras, Satanás e seus demônios são mostrados como seres reais.
Uma das mais poderosas armas usadas pelo Diabo é tentar mostrar que ele não existe.
A Bíblia, no entanto, trata Satanás e seus demônios como seres dotados de
pessoalidade. O próprio Cristo enfrentou pessoalmente Satanás no deserto e o
derrotou (Lc 4.1-13). Jesus também revelou que o Diabo possui um reino e que
trabalha de forma organizada (Lc 11.18). Tal reino é tão “organizado” que o
apóstolo Paulo mostra que esse reino maligno está organizado de forma
hierárquica (Ef 6.10-12).
2. Uma realidade experimental. Na Palestina do
primeiro século, a presença de pessoas oprimidas ou possuídas por demônios era
uma realidade do dia a dia. No Evangelho de Lucas, encontramos dezenas de
textos mostrando essa verdade (Lc 4.41; 6.18). Lucas diz que Jesus curou muitos
de moléstias (Lc 7.21). Além disso, registra ainda que Jesus repreendeu
espíritos imundos (Lc 9.42); e que via a queda de Satanás em cada demônio que
era expulso (Lc 10.17,18). À luz da Bíblia, não há, pois, como negar a
realidade dos demônios.
SÍNTESE DO TÓPICO (II)
A Bíblia descreve o Diabo como um ser
real e experimental.
SUBSÍDIO
DIDÁTICO
Professor, após expor o respectivo
tópico, sugerimos que faça as seguintes considerações: um homem possesso por
demônio foi reduzido a um nível subumano. Ele andava nu, e vivia em lugares
lúgubres. Os demônios entraram em sua personalidade a ponto de distorcê-la e
torná-la descontrolada quanto à realidade espiritual. Eles tiraram toda a sua
sanidade e, quando o tomavam, não havia quem pudesse contê-lo. Ele esmiuçava
todas as correntes que intentavam dominá-lo.
Por fim, mostre neste tópico que a Bíblia fala
claramente sobre a realidade do mundo espiritual e da forma de o Diabo
trabalhar. Mas com olhar de amor e de misericórdia, o nosso Senhor está
disponível a salvar-nos de tal realidade sombria.
III. JESUS E A OBRA DOS DEMÔNIOS
1. Jesus e a oposição dos demônios. O
caso da libertação do endemoninhado, que ocorre logo após Jesus acalmar a
tempestade, é um dos muitos relatos que mostra como os demônios entraram em
rota de colisão com Jesus: “Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo?
Peço-te que não me atormentes” (Lc 8.28), disse o espírito maligno. Isso era
esperado que acontecesse por causa da própria natureza da missão de Jesus, que
é destruir as obras do Diabo (1Jo 3.8). Essa missão também foi confiada aos
seus discípulos (Mt 10.1; Lc 9.1) e posteriormente posta em prática por sua
igreja (At 5.16; 8.6,7).
2. Jesus e a libertação de
endemoninhados. Quando questionado sobre ter curado no sábado uma mulher
com um espírito de enfermidade, Jesus respondeu: “E não convinha soltar desta prisão,
no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás mantinha
presa?” (Lc 13.16). O verbo grego traduzido como “libertar” é luo,
e significa, nesse contexto, “livrar de laços”, “desamarrar”, “tornar livre”.
Jesus veio para libertar os cativos do Diabo. Essa libertação é, também, tida
como uma cura ou livramento do poder do mal (Lc 6.18). A palavra “curados”
traduz o grego therapeuo,
de onde vem o vocábulo português terapia, e significa “sarar”, “curar”,
“restaurar a saúde”. Ao libertar dos demônios, Jesus trata, também, de todos os
efeitos colaterais (Lc 10.19).
SÍNTESE DO TÓPICO (III)
A natureza dos demônios declara que eles
são seres criados, limitados, espirituais, malignos e imundos.
CONCLUSÃO
Quer as forças descontroladas sejam pessoais
ou impessoais, Jesus possui poder sobre todas elas. Em um mundo que nos parece
inóspito, onde forças sobrenaturais se mostram maiores do que nós, temos a
confiança que Deus está no controle de tudo.
VOCABULÁRIO
Lúgubre: relativo à morte, aos funerais;
que evoca a morte; fúnebre, macabro.
PARA REFLETIR
Sobre os ensinos do Evangelho de Lucas,
responda:
De que forma a lição retrata o poder absoluto de
Jesus?
Essa pergunta busca ressaltar como o texto bíblico demonstra Jesus
absolutamente poderoso. Nesse sentido, a imagem dEle dominando a natureza e
libertando o endemoninhado retrata fielmente tal poder.
O Diabo é um ser pessoal?
Sim, pois a Bíblia trata Satanás e os demônios como seres dotados de
pessoalidade.
Como as Escrituras Sagradas mostram Satanás e seus
demônios?
Como seres criados. Tanto Satanás quanto seus demônios possuem poderes
limitados. E também, seres imundos e perversos.
À luz da Bíblia, há como negar a realidade dos
demônios?
Não. A Bíblia mostra que eles são seres espirituais e reais.
Qual o significado do vocábulo “terapia”?
Significa sarar, curar, restaurar a saúde. Jesus tem poder para
restaurar a nossa saúde física, emocional e espiritual.
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
O poder de Jesus sobre a natureza e os demônios
O Evangelho de Lucas inicia o capítulo 8
apresentando as mulheres que financiavam o ministério de Jesus e dos seus
discípulos: Maria, chamada Madalena; Joana, mulher de Cuza, procurador de
Herodes; Suzana, e muitas outras (8.1-4). Essas mulheres haviam sido curadas
por Jesus de enfermidades e de espíritos malignos, como Maria Madalena, que
havia sido expelido sete demônios. Ou seja, os quatro primeiros versículos abrem
o capítulo 8 expondo os milagres de Jesus em relação às mulheres e, por isso,
elas passaram a servir a Jesus com os seus bens.
Além de relatar brevemente o financiamento das
mulheres, pois o seu ministério de pregação do Reino de Deus estava em pleno vapor,
o Evangelho de Lucas passa a narrar a Parábola do Semeador para a multidão que
o seguia (8.4-15), denotando a mensagem do Reino que devia ser propagada em
todos os cantos do mundo. Em seguida, o nosso Senhor contou outra parábola, a
da Candeia (8.16-18), ressaltando o aspecto iluminador de quem entende a
mensagem do Reino de Deus.
Depois, Lucas passou a narrar o breve evento da
família de Jesus (8.19-21). O relato demonstra o quanto Jesus estava focado em
seu ministério. De modo que, quando disseram a Ele que a sua mãe e os seus
irmãos estavam querendo vê-lo, de pronto o nosso Senhor replicou: “Minha mãe e
meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam” (Lc 8.21). A
sua Palavra e seu ministério ungido pelo Espírito Santo refletem a sua
autoridade, pois Jesus falava exatamente como um homem, que não apenas tinha,
mas era de autoridade. As pessoas viam isso nEle, e se encantavam com suas
palavras.
A partir do versículo 22, o evangelista passa a
narrar 4 milagres que Jesus Cristo fez com o objetivo de as pessoas
reconhecerem a sua natureza divina. Que além de curar enfermos, Ele perdoa
pecados, livrando-nos de toda a culpa. Os milagres são: a tempestade apaziguada
(8.22-25); o endemoninhado gadareno (8.26-39); a ressurreição da filha de Jairo
(8.40-42,49-56); a cura da mulher com fluxo hemorrágico (8.43-48). Ora, se o
capítulo 8 inicia descrevendo as mulheres que foram curadas por Jesus e o nosso
Senhor pregando à multidão, e encerra com milagres extraordinários, qual a
intenção do Evangelista Lucas? Apresentar Jesus, não como um homem comum, mas
como alguém que tem todo o poder sobre a Criação e, até mesmo, seres
espirituais.
SUBSIDIOS
22 – Aconteceu
que, num daqueles dias, entrou ele num barco em companhia dos seus discípulos e
disse-lhes: Passemos para a outra margem do lago; e partiram.
23 – Enquanto
navegavam, ele adormeceu. E sobreveio uma tempestade de vento no lago, correndo
eles o perigo de soçobrar.
24 – Chegando-se
a ele, despertaram-no dizendo: Mestre, Mestre, estamos perecendo!
Despertando-se Jesus, repreendeu o vento e a fúria da água. Tudo cessou, e veio
a bonança.
25 – Então, lhes
disse: Onde está a vossa fé? Eles, possuídos de temor e admiração, diziam uns
aos outros: Quem é este que até aos ventos e às ondas repreende, e lhe
obedecem?
Da mesma maneira
como os dois primeiros evangelhos sinóticos, Lucas relata o domínio sobre a
tempestade, a cura do endemoninhado, a cura da mulher com hemorragia e a
ressurreição da filhinha de Jairo. Esses informes acerca de fatos atestam o
auge do poder milagroso de Jesus. O Senhor demonstrou sua autoridade sobre as
forças da natureza, sobre o mundo dos demônios, sobre as enfermidades e a
morte.
Quando Lucas
escreve, como também em outras ocasiões (cf. Lc 5.17; 20.1), “em um dos dias”,
isso não expressa desconhecimento da época exata, mas a idéia de que essa
história não aconteceu imediatamente depois da visita dos familiares de Jesus.
Ele não está preocupado em ordenar os eventos de forma cronológica, mas de
acordo com determinada idéia básica. Assim, ele deixa de precisar a moldura de
tempo e lugar da presente história delineada em Mc 4.35s. De acordo com Mt
8.18, a travessia do lago relatada na seqüência aconteceu ao entardecer, quando
Jesus havia proferido o Sermão do Monte. Marcos (Mc 4.35) a acrescenta
diretamente após a palestra de parábolas. A referência cronológica imprecisa de
Lucas não é uma contradição aos dados de Marcos. Segundo seu plano (cf. v. 1),
Jesus pretendia pregar o evangelho fora da Galiléia, a saber, em Decápolis, a
terra das dez cidades. De acordo com o relato preciso de Marcos, Jesus
deixou-se conduzir pelos discípulos no barco a partir do qual ele havia
ensinado o povo. Outras embarcações, tripuladas por amigos e seguidores,
seguiam-nos e os acompanhavam. Cansado e exausto do trabalho do dia, o Senhor
dormia sobre uma almofada na traseira do barco. Nessa situação constatamos que
Jesus é completamente humano, que se cansa e necessita de repouso. Sua
majestade divina haveria de ser revelada em breve.
Durante
a travessia do lago armou-se subitamente um tempestuoso vento. Por causa da
baixa altitude em relação ao nível do mar, o mar da Galiléia e seus grandes
contrastes de temperatura, tais furacões não eram raros. Os discípulos, que se
encontravam em grande perigo de vida, acordaram o Mestre que dormia na parte
traseira do navio. Era um clamor da mais extrema angústia. Jesus acordou.
Ordenou à tempestade e às ondas. Sua poderosa palavra divina foi eficaz. As
potestades da natureza se acalmaram. Marcos e Lucas informam que depois de seu
ato salvador o Senhor expressou uma crítica, ao contrário de Mateus. A pergunta
do Senhor em Marcos (“ainda não tendes fé?”) e em Lucas (“Onde está vossa fé?”)
soa mais séria que a interpelação em Mateus (“vós de pequena fé”). Jesus podia
esperar dos discípulos uma fé que superava até mesmo o mais extremo perigo de
vida. Seu clamor de aflição atesta incredulidade (veja o Comentário Esperança,
Mateus, sobre Mt 8.23-27, e Marcos, sobre Mc 4.35-41), porque temem perecer
apesar da presença dele.
Ao
contrário dos racionalistas, que consideram essa história uma lenda, saga ou
construção fantasiosa, reconhecemos com reverência o milagre como um testemunho
do senhorio de Jesus até mesmo sobre a natureza.
Lucas
nos relata esta história com uma grande economia de palavras, entretanto tem
uma vivacidade extraordinária.
Sem
dúvida alguma, Jesus decidiu cruzar o lago porque necessitava descanso e
silêncio. Quando zarparam, dormiu. É bonito pensar em Cristo dormindo. Estava
cansado, como também nos cansamos. Ele também podia chegar a um esgotamento tal
que a necessidade de dormir se fizesse imperativa. Confiava em seus homens.
Estes eram pescadores do lago e podia confiar em sua capacidade e experiência,
e descansar. Confiava em Deus; sabia que estava tão perto dEle no mar como na
terra.
E
então se desatou a tormenta. O Mar da Galiléia é famoso por suas rápidas
borrascas. Um viajante disse: "Tão somente havia se posto o sol quando o
vento começou a soprar sobre o lago, e continuou fazendo-o toda a noite com uma
violência que aumentava, de modo que quando
chegamos à costa na manhã seguinte a superfície do lago parecia uma
grande caldeira em ebulição."
A
origem destas tormentas é o seguinte: O Mar da Galiléia está a mais de duzentos
metros abaixo do nível do mar. Está rodeado de terras planas atrás das quais se
elevam as altas montanhas. Os rios penetraram profundas gargantas nas planícies
ao redor do mar. Estas gargantas atuam como grandes funis que trazem o vento
frio das montanhas e assim surgem as tormentas. O próprio viajante nos conta
como tentaram armar suas tendas nessa tormenta: "Tivemos que pôr duas
estacas a cada corda, e freqüentemente nos víamos obrigados a nos atirar com
todo nosso peso sobre elas para impedir que o tremente tabernáculo fosse levado
pelos ares."
Uma
dessas repentinas tormentas foi a que atacou o barco nesse dia, e Jesus e seus
discípulos estiveram em perigo de morte. Os discípulos despertaram a Jesus, e
ele com uma palavra acalmou a tempestade.
Tudo
o que Jesus fazia tinha mais que um simples significado temporário. E o
verdadeiro significado deste incidente é que, em qualquer lugar onde Jesus
está, a tormenta se calma.
(1)
Quando Jesus chega, acalma a tormenta da tentação. Às vezes a tentação nos
chega com uma força dominante. Como disse Stevenson: "Conhece você a
estação de trens da Caledonia em Edimburgo? Uma fria manhã me encontrei ali com
Satanás." Todos nos encontramos alguma vez com ele. Se nos encontrarmos
com a tormenta da tentação sozinhos, somos vencidos; mas com Cristo existe a
calma contra a qual a tentação perde seu poder.
(2)
Quando Jesus chega, acalma as tormentas das paixões. A vida é duplamente
difícil para o homem de coração fogoso e temperamento inflamável.
Um
amigo encontrou a outro: "Vejo que você conseguiu dominar seu
temperamento." "Não", respondeu-lhe, "eu não o dominei,
Jesus o fez por mim." Mas perderemos a batalha se Jesus não estiver
conosco para nos dar a calma da vitória.
(3)
Quando Jesus chega, acalma as tormentas do pesar. A tempestade da dor chega
algum com toda a força devido a que a dor é sempre a penalidade do amor e se
alguém ama terá que sofrer.
Quando
a esposa de Pusey morreu, ele disse: "Era como se houvesse uma mão debaixo
do meu queixo para me sustentar." Nesse dia, na presença de Jesus,
enxugam-se as lágrimas e o coração ferido acha consolo.
LUCAS
8. 22. Passemos para a outra margem do
lago. O lado oriental do lago era pouco habitado. Jesus queria escapar às multidões
a fim de descansar e conversar com os seus discípulos. Cafernaum ficava na
margem noroeste do mar da Galiléia (também chamado de “lago” porque é interno).
Sendo assim, Jesus e os discípulos entraram num barco (talvez o barco de pesca
de Pedro) e começaram a cruzar para a margem leste. O ministério de Jesus nunca
deixava de ter um objetivo. Ele estava cruzando o lago para entrar numa nova
região que seria alcançada pelo seu ministério. Durante o caminho, os discípulos
receberiam uma lição inesquecível sobre o poder de Jesus.
LUCAS
8 23. Adormeceu. O Salvador estava
sujeito às limitações humanas, e o cansaço devido ao seu ministério esgotou-o.
Tempestade de vento não era coisa incomum na Galiléia. O lago fica a 224 m
abaixo do nível do mar e está cercado de colinas. Quando o ar nas elevações
resfria ao fim do dia, ele desce pelos declives das montanhas até o lago e o
agita violentamente. Correndo eles o perigo de soçobrar. As ondas revoltas
batiam no barco aberto, de modo que estava em perigo de afundar. Marcos
explicou que já era tarde quando
eles
finalmente partiram (Mc 4.35). Zarpar durante a noite não era incomum, porque Pedro
estava acostumado a pescar à noite (veja Jo 21.3). Quando o barco zarpou, Jesus
adormeceu.
LUCAS
24. Perecendo. A tempestade devia ser
fora do comum para amedrontar pescadores experimentados que conheciam todos os
aspectos do lago. Despertando-se Jesus, repreendeu o vento. Jesus tinha
autoridade sobre as forças da natureza. Se a tempestade passasse naturalmente,
a calmaria não teria se seguido instantaneamente. Os discípulos estavam correndo grave perigo,
de modo que foram até Jesus e o despertaram para dizer que estavam
perecendo.
Jesus repreendeu o vento e a furia da água. O verbo “repreender” pode indicar
que havia uma força maligna por trás da tempestade, porque as palavras gregas são
as mesmas que Jesus usou quando mandou que os demônios se calassem (1.25). Com esta repreensáo, a tempestade cessou e fez-se
bonança.
LUCAS
25. Sua pergunta: “Onde está a vossa
fé?” subentende que os discípulos não deveriam ter ficado aterrorizados.
Deveriam ter confiado nEle. Diante disto, reagiram como quem está na presença
divina. Ficaram cheios de reverente temor, e de admiração; perguntaram: Quem é
este? Esta é a pergunta relevante que Lucas nao quer que seus leitores deixem
passar desapercebida. As palavras de
Jesus aos discípulos, enquanto flutuavam no mar agora tranqüilo, foram
simplesmente: “Onde está a vossa fé?” Eles náo deviam ter sentido medo—eles
estavam com Jesus. Eles o tinham visto curar pessoas, mas pode não ter passado
pelas suas mentes que Ele tivesse poder sobre uma tempestade furiosa. Eles
deviam ter rapidamente feito a ligação e ter vindo a Jesus com fé e não com medo.
Com esta demonstração de poder eles, temendo, maravilharam-se. Eles fizeram uma pergunta para a qual deveriam
saber a resposta: “Quem é este?” Este milagre demonstrava claramente a
identidade
divina de Jesus. Mas, apesar de tudo o que tinham visto e ouvido até entáo, e
apesar
do seu amor por Jesus, eles ainda não compreendiam que Ele era o próprio Deus,
e
portanto
tinha poder e autoridade sobre toda a criação.
A DERROTA DOS DEMÔNIOS
Lucas
8:26-40
Nunca
poderemos compreender esta história a não ser que nos demos conta de que,
pensemos o que pensemos a respeito dos demônios, eram intensamente reais para o
povo de Gadara e para o homem cuja mente estava transtornada. Tratava-se de um
caso de loucura violenta. Era muito perigoso para viver entre os homens e o
fazia entre as tumbas, que conforme se acreditava, eram o lar dos demônios. Bem
podemos notar a coragem de Jesus ao tratar com este homem. O doente tinha uma
força maníaca que lhe permitia romper as cadeias. Seus concidadãos estavam
aterrorizados, de maneira que nunca tentavam fazer-lhe nada; mas Jesus o
enfrentou com calma e sem medo. Quando lhe perguntou seu nome, respondeu:
"Legião". Uma legião romana era um regimento de seis mil soldados.
Sem dúvida este homem tinha visto uma legião romana partindo, e sua pobre e
afligida mente havia sentido que não havia um demônio e sim um regimento deles
dentro dele. Bem pode ser que a própria palavra o acossasse, porque
possivelmente tivesse visto quando menino as atrocidades que levavam a cabo os
romanos. É perfeitamente possível que essas mesmas atrocidades tivessem deixado
uma marca em sua mente e que finalmente o enlouquecessem.
Têm-se
feito muitas conjeturas a respeito dos demônios e os porcos. Jesus foi condenado
por ter mandado os demônios aos inocentes animais. A ação tem sido qualificada
de cruel e imoral. Mais uma vez devemos
recordar a intensidade da crença desse povo nos demônios. O homem, que
pensava que os demônios falavam através dele, pediu a Jesus que não os mandasse
aos abismos do inferno ao qual os consignaria no juízo final.
Vejamos
se podemos nos fazer um quadro do sucedido. O homem – e esta é a essência desta
parte da história – nunca teria acreditado que se curou a não ser que tivesse
uma demonstração ocular e visível. Nada lhe teria convencido a não ser a
partida tangível dos demônios. Certamente que o que aconteceu foi isto. A
manada de porcos se estava alimentando perto do precipício. Jesus estava
exercendo seu poder de cura em um caso muito obstinado. De repente os gritos
selvagens do homem assustaram às porcos que caíram pelo precipício para o rio
em um terror cego. "Olhe! Olhe!", disse Jesus, "Lá vão seus
demônios!" Jesus tinha que encontrar uma forma de convencer o homem; e a
encontrou. De qualquer modo, podemos comparar o valor de uma manada de porcos
com o de um homem de alma imortal? Protestaremos se salvar a alma deste homem
custou a vida dos porcos? Certamente, temos que guardar certa proporção. Se a
única forma de convencer este homem de que estava curado era que os porcos
morressem, parece-nos extraordinariamente cego objetá-lo.
Devemos
observar a reação de dois grupos de gente.
(1)
Ali estavam os gadarenos. Estes pediram a Jesus que fosse embora.
(a)
Odiavam que se interrompesse a rotina de suas vidas. Sua vida era muito
tranqüila e este Jesus tinha vindo para incomodá-los e portanto o odiavam. Mais
pessoas odeiam a Jesus porque os incomoda por qualquer outra razão. Se Jesus
disser a um homem: "Você deve deixar este hábito, deve mudar sua
vida"; se disser a um empregador: "Você não pode ser cristão e fazer
que as pessoas trabalharem nessas condições"; ou a um proprietário: "
Você não pode fazer dinheiro alugando essas covinhas" – é provável que
cada um lhe diga: "Vá embora e me deixe em paz." Essa é a resposta
que todos temos a dar.
(b)
Amavam mais a seus porcos que o que valorizavam a alma de um homem. Um dos
perigos supremos da vida é valorizar mais as coisas que as pessoas. Essa
tendência foi a que criou as más condições de trabalho e as moradias
insalubres. Mais perto de nós, essa mesma tendência faz que exijamos
egoisticamente nossa tranqüilidade e comodidade embora isto signifique que
alguém que está cansado deve trabalhar como escravo por nós. Nada deste mundo
pode ser tão importante como uma pessoa.
(2)
Ali estava o homem que tinha sido curado. Naturalmente, ele queria seguir a
Jesus, mas este o enviou a seu lar. O testemunho cristão, como a caridade
cristã, começa pela casa. Seria muito mais fácil viver e falar de Cristo entre
pessoas que não nos conhecessem. É nosso dever ser testemunhas de Cristo no
lugar em que ele nos pôs. E se acontecer que somos os únicos cristãos na loja,
no escritório, na escola, na fábrica, no círculo em que vivemos ou trabalhamos,
não devemos nos lamentar. É um desafio em que Deus nos diz: "Vão e digam
às pessoas com as que se encontram todos os dias o que eu tenho feito por vocês."
O encontro com o
possesso de Gerasa – Lc 8.26-29
26 – Então,
rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia.
27 – Logo ao
desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que,
havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém (vivia) nos
sepulcros.
28 – E, quando
viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que
tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me
atormentes.
29 – Porque
Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se
apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões,
tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto.
Jesus aportou com
os discípulos na margem oriental do Lago de Genezaré, na região dos gerasenos.
A julgar pela grande manada de porcos mencionada no texto (v. 32s), viviam
nessa região muitos gentios. Com certeza não era a intenção do Senhor pregar
aqui o evangelho (cf. Lc 4.43), mas recolher-se um pouco ao silêncio com seus
discípulos. Recém-chegado ao local de desembarque, Jesus encontrou um homem
possesso por demônios. Esse endemoninhado, originário da cidade próxima,
percorria os arredores sem roupa há bastante tempo. Em sua timidez evitava as
habitações humanas e escolhia as cavernas mortuárias aqui situadas para viver.
Toda vez que os acessos de fúria se repetiam, as pessoas tentavam amarrá-lo.
Com um poder incomum, que os demônios lhe conferiam, ele rasgava as amarras. Na
seqüência, sob o domínio do poder demoníaco, ele era tangido sem vontade
própria para lugares ermos.
Nada
é dito sobre a intenção do possesso pelo demônio de tornar-se agressivo contra
o Senhor Jesus. Antes que a pessoa atormentada se mostrasse violenta, o Senhor
apaziguou o demônio por meio de uma palavra de esconjuro. Nem o possesso nem
seus familiares haviam solicitado a ajuda do Senhor. Foi o aspecto deplorável
do personagem que motivou Jesus a intervir aqui para ajudar. O homem violento
não cogitava agredir a Jesus. Em prostração, rogou-lhe que o poupasse. A pessoa
refém de demônios não era capaz de reconhecer a ação de cura intencionada por
Jesus como benéfica, mas considerava-a nociva para sua vida. Em sua fúria
extrema, o homem estava tão dominado pelo espírito imundo que não conseguia
distinguir entre seu próprio eu e o demônio.
A cura do possesso – Lc 8.30-33
30 –
Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham
entrado nele muitos demônios.
31 – Rogavam-lhe
que não os mandasse sair para o abismo.
32 – Ora, andava
ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos; rogaram-lhe que lhes
permitisse entrar naqueles (porcos)!
33 – E Jesus o
permitiu. Tendo os demônios saído do homem, entraram nos porcos, e a manada
precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou.
Jesus visava
conceder ao deplorável ser humano uma cura completa. No entanto, isso somente
poderia acontecer se os espíritos saíssem dele. Jesus pergunta primeiro pelo
nome dos demônios que estavam no possesso, porque visa quebrar a terrível
ligação entre o ser humano e o diabo.
Os poderes
demoníacos, porém, exerciam tamanha supremacia que o possesso, junto com eles,
responde ao Senhor que seu nome era “legião”. Toda uma legião de espíritos
demoníacos habitava o interior dessa pessoa. O termo latino “legião” é uma
expressão bélica romana que abrangia uma massa supostamente irresistível de
4.000 a 6.000 soldados. Na resposta a Jesus, o possesso identifica-se com o
poder bélico que o dominava por inteiro. Vemos aqui toda a sua impotência, de
que não tinha a menor possibilidade de desvencilhar-se dessa tirania.
Digno de nota é
que, na seqüência, consta: “Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o
abismo.” O exército de demônios percebeu que teria de abrir mão de sua presa. A
ordem de Jesus teve efeito (v. 29). A formulação “rogava-lhe” mostra que o
possesso se tornou porta-voz dos demônios, igualando-se a eles. Temem o abismo
ou charco de fogo em que serão precipitados no juízo final (Ap 20.7) Para
ficarem seguros diante do abismo, os demônios pedem ao Senhor que lhes permita
entrar na manada de porcos que pastava sobre o monte. Lucas relata que Jesus
atendeu esse pedido dos demônios, sem comunicar o teor dessa permissão. De
acordo com Mt 8.32 trata-se de uma ordem: “Pois ide!”. Toda a manada (segundo
Mc 5.13 um total de 2.000 porcos) precipitou-se pela ribanceira abaixo.
O
pedido desses maus espíritos é atendido, porém somente para sua perdição. Têm
permissão de entrar nos porcos, e aquilo que mais temiam acontece. Não encontram
mais instrumentos para sua atividade, sendo tangidos poderosamente justamente
para aquela prisão que mais lhes repugnava (divergindo das explicações
fornecidas no comentário a Mateus, estamos apresentando aqui uma tentativa
diferente de interpretação).
O impacto do
milagre da cura – Lc 8.34-39
34 – Os
porqueiros, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e
pelos campos.
35 – Então, saiu
o povo (da cidade) para ver o que se passara, e foram ter com Jesus. De fato,
acharam o homem de quem saíram os demônios, vestido, em perfeito juízo,
assentado aos pés de Jesus; e ficaram dominados de terror.
36 – E algumas
pessoas que tinham presenciado os fatos contaram-lhes também como fora salvo o
endemoninhado.
37 – Todo o povo
da circunvizinhança dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles, pois
estavam possuídos de grande medo.
38 – E Jesus,
tomando de novo o barco, voltou. O homem de quem tinham saído os demônios
rogou-lhe que o deixasse estar com ele; Jesus, porém, o despediu, dizendo:
39 – Volta para
casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Então, foi ele anunciando por
toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito.
O ato de cura
causou uma movimentação. Uma grande multidão das redondezas alvoroçou-se.
Com grande surpresa
constatou-se agora que o homem que até então trouxera instabilidade a toda a
região, submetido à terrível possessão, estava sentado, vestido e ajuizado, aos
pés de Jesus. O resgatado sentia-se atraído pelo seu resgatador. Por causa de
seu espanto, os proprietários da manada e os habitantes desejam que Jesus saia
de sua região. O Senhor atendeu seu desejo, não se impondo a eles. Decidiu
retornar para a Galiléia.
O milagre de Jesus
causou também profundo impacto sobre o curado. Quando Jesus entrou no navio, o
possesso pediu-lhe que o deixasse permanecer em sua companhia. Será que temia
que, na ausência daquele que o ajudara, os espíritos do abismo retomassem o
domínio sobre ele? Ou será que se
sentia impelido pela gratidão, para doravante tornar-se seguidor daquele ao
qual ele devia esse onipotente ato de libertação? Independentemente de quais
tenham sido suas motivações, o Senhor tinha outras planos para ele. Por um lado
o Senhor deixa aqueles que se haviam revelado indignos de sua presença, mas por
outro lado não queria ficar sem testemunho entre eles. Algumas pessoas curadas
foram proibidas pelo Senhor de falar da benignidade de Deus (Mt 8.4; Lc 8.56).
– Este recebe a ordem expressa de divulgar em todos os lugares a graça de que
fora alvo.
Podemos
supor que talvez aqueles curados que apresentavam o risco de banalizar todas as
impressões mais profundas por meio de uma repetição apenas exterior das
circunstâncias formais da cura receberam de Jesus a ordem de calar-se, para que
se tornasse possível uma reflexão e elaboração interior da maravilhosa condução
pela graça do Senhor. Mas quando se tratava de um coração deprimido, que tendia
à melancolia, como aparentemente era o caso desse tristonho sofredor eremita,
ali dava-se a ordem de ir e anunciar a outros os grandes feitos que Deus
realizados nele. Por meio desses relatos, sua alma deveria ser preservada em
seu estado saudável (cf. Trench).
26. A terra dos gerasenos. O milagre não poderia ter acontecido em
Gadara, que ficava a sete milhas distante do lago. Manuscritos mais antigos
comprovam que deveria ser Gergesa ou Gerasa. Havia uma aldeia do lado
oposto a Cafarnaum, no sítio hoje marcado por ruínas que recebem o nome de Khersea,
perto das quais existem declives escarpados nas rochas e sepulturas
abandonadas. O território pertencia a Gadara, e por isso talvez se chamasse
"a terra dos gadarenos". A variação nos textos dos manuscritos pode
refletir a confusão dos escribas do passado sobre a identidade do lugar, ou até
mesmo pontos de vista diferentes da parte dos Evangelistas. O território ao
longo do lago era deserto.
LUCAS 8 27. Um homem possesso de demônios.
O endemoninhado era tão
perigoso que fora afastado da civilização e se refugiara nas tumbas
abandonadas.
LUCAS 8 28. Que tenho eu contigo? Reconhecendo Jesus como o Filho de Deus, o
demônio foi tomado de medo do juízo que Cristo poderia pronunciar contra ele.
LUCAS 29. Procuravam conservá-lo preso com
cadeias e grilhões. O
endemoninhado exigia controle eficaz. Com força sobrenatural ele quebrava as
correntes e escapava.
LUCAS 30. Uma legião romana compunha-se de 6.000 homens. A expressão aqui
pode significar apenas um grande número.
LUCAS 8 31. O abismo da destruição para o qual todos os
espíritos malignos estão destinados (Ap. 9:1; 11:7; 20:1,3).
LUCAS 8 32. Grande
manada de porcos. Os porcos eram criados para serem vendidos nos mercados gentios de
Decápolis. Os judeus não deviam negociar com eles, nem fazer uso dos mesmos.
LUCAS 8 33. A manada precipitou-se... no
lago, e se afogou. A
praia oriental do lago é tão escarpada que se os animais começassem a correr,
não poderiam mais parar. Os porcos não nadam bem, e assim todo o rebanho se
perdeu.
LUCAS 8 35. Vestido em perfeito juízo. Há quem questione sobre o direito que
Jesus tinha de permitir a destruição da propriedade de outros. Estava envolvida
uma escolha de valores. O que valia mais – o homem, ou os porcos?
LUCAS 8 37. Rogou-lhe que se retirasse deles. Evidentemente o povo dava mais valor aos
porcos do que ao homem, temendo mais problemas. Insistiram que Jesus partisse.
LUCAS 8 38. O
homem... rogou-lhe que o deixasse estar com ele. A atitude do
endemoninhado curado foi exatamente oposta da atitude dos seus antigos
vizinhos. Jesus, porém, o despediu. Jesus não o repudiou, mas deu-lhe uma
tarefa a realizar. Ele se tornou uma testemunha eficiente do poder do Salvador.
PODER SOBRE SATANÁS E OS DEMÔNIOS
Mc 3.27 “Ninguém pode roubar os bens do valente,
entrando-lhe em sua casa, se primeiro não manietar o valente; e, então, roubará a sua casa”.
Um dos destaques principais do Evangelho segundo Marcos é o
propósito firme de Jesus: derrotar Satanás e suas hostes demoníacas. Em 3.27,
isto é descrito como “manietar o valente” (i.e., Satanás) e, “roubará a sua
casa” (i.e., libertar os escravos de Satanás). O poder de Jesus sobre Satanás
fica claramente demonstrado na expulsão de demônios (gr. daimonion) ou
espíritos malignos.
OS DEMÔNIOS.
(1) O NT menciona muitas vezes pessoas sofrendo de opressão
ou influência maligna de Satanás, devido a um espírito maligno que neles
habita; menciona também o conflito de Jesus com os demônios. O Evangelho
segundo Marcos, e.g., descreve muitos desses casos: 1.23-27, 32, 34, 39;
3.10-12, 15; 5.1-20; 6.7, 13; 7.25-30; 9.17-29; 16.17.
(2) Os demônios são seres espirituais com personalidade e
inteligência. Como súditos de Satanás, inimigos de Deus e dos seres humanos (Mt
12.43-45), são malignos, destrutivos e estão sob a autoridade de Satanás (ver
Mt 4.10 nota).
(3) Os demônios são a força motriz que está por trás da
idolatria, de modo que adorar falsos deuses é praticamente o mesmo que adorar
demônios (ver 1Co 10.20).
(4) O NT mostra que o mundo está alienado de Deus e
controlado por Satanás (ver Jo 12.31; 2Co 4.4; Ef 6.10-12;). Os demônios são
parte das potestades malignas; o cristão tem de lutar continuamente contra eles
(ver Ef 6.12).
(5) Os demônios podem habitar no corpo dos incrédulos, e,
constantemente, o fazem (ver Mc 5.15; Lc 4.41; 8.27,28; At 16.18) e falam
através das vozes dessas pessoas. Escravizam tais indivíduos e os induzem à
iniqüidade, à imoralidade e à destruição.
(6) Os demônios podem causar doenças físicas (Mt 9.32,33;
12.22; 17.14-18; Mc 9.17-27; Lc 13.11,16), embora nem todas as doenças e
enfermidades procedam de espíritos maus (Mt 4.24; Lc 5.12,13).
(7) Aqueles que se envolvem com espiritismo e magia (i.e.,
feitiçaria) estão lidando com espíritos malignos, o que facilmente leva à
possessão demoníaca (cf. At 13.8-10; 19.19; Gl 5.20; Ap 9.20,21).
(8) Os espíritos malignos estarão grandemente ativos nos
últimos dias desta era, na difusão do ocultismo, imoralidade, violência e
crueldade; atacarão a Palavra de Deus e a sã doutrina (Mt 24.24; 2Co 11.14,15;
1Tm 4.1). O maior surto de atividade demoníaca ocorrerá através do Anticristo e
seus seguidores (2Ts 2.9; Ap 13.2-8; 16.13,14).
JESUS E OS DEMÔNIOS.
(1) Nos seus
milagres, Jesus freqüentemente ataca o poder de Satanás e o demonismo (e.g., Mc
1.25,26, 34, 39; 3.10,11; 5.1-20; 9.17-29; cf. Lc 13.11,12,16). Um dos seus
propósitos ao vir à terra foi subjugar Satanás e libertar seus escravos (Mt
12.29; Mc 1.27; Lc 4.18).
(2) Jesus derrotou Satanás, em parte pela expulsão de
demônios e, de modo pleno, através da sua morte e ressurreição (Jo 12.31;
16.17; Cl 2.15; Hb 2.14). Deste modo, Ele aniquilou o domínio de Satanás e
restaurou o poder do reino de Deus.
(3) O inferno (gr. Gehenna), o lugar de tormento, está
preparado para o diabo e seus demônios (Mt 8.29; 25.41). Exemplos do termo
Gehenna no grego: Mc 9.43,45,47; Mt 10.28; 18.9.
O CRENTE E OS DEMÔNIOS.
(1) As Escrituras ensinam que nenhum verdadeiro crente, em
quem habita o Espírito Santo, pode ficar endemoninhado; i.e.: o Espírito e os
demônios nunca poderão habitar no mesmo corpo (ver 2Co 6.15,16). Os demônios
podem, no entanto, influenciar os pensamentos, emoções e atos dos crentes que
não obedecem aos ditames do Espírito Santo (Mt 16.23; 2Co 11.3,14).
(2) Jesus prometeu aos genuínos crentes autoridade sobre o
poder de Satanás e das suas hostes. Ao nos depararmos com eles, devemos
aniquilar o poder que querem exercer sobre nós e sobre outras pessoas,
confrontando-os sem trégua pelo poder do Espírito Santo (ver Lc 4.14-19). Desta
maneira, podemos nos livrar dos poderes das trevas.
(3) Segundo a parábola em Mc 3.27, o conflito espiritual
contra Satanás envolve três aspectos:
(a) declarar guerra contra Satanás
segundo o propósito de Deus (ver Lc 4.14-19);
(b) ir onde Satanás está (qualquer lugar onde ele tem uma
fortaleza), atacá-lo e vencê-lo pela oração e pela proclamação da Palavra, e
destruir suas armas de engano e tentação demoníacos (cf. Lc 11.20-22);
(c) apoderar-se de bens ou posses, i.e., libertando os cativos
do inimigo e entregando-os a Deus para que recebam perdão e santificação
mediante a fé em Cristo (Lc 11.22; At 26.18).
(4) Seguem-se os passos que cada um deve observar nesta luta
contra o mal:
(a) Reconhecer que não estamos num conflito contra a carne e
o sangue, mas contra forças espirituais do mal (Ef 6.12).
(b) Viver diante de Deus uma vida fervorosamente dedicada à
sua verdade e justiça (Rm 12.1,2; Ef 6.14).
(c) Crer que o poder de Satanás pode ser aniquilado seja
onde for o seu domínio (At 26.18; Ef 6.16; 1Ts 5.8) e reconhecer que o crente
tem armas espirituais poderosas dadas por Deus para a destruição das fortalezas
de Satanás (2Co 10.3-5).
(d) Proclamar o evangelho do reino, na plenitude do Espírito
Santo (Mt 4.23; Lc 1.15-17; At 1.8; 2.4; 8.12; Rm 1.16; Ef 6.15).
(e) Confrontar Satanás e o seu poder de modo direto, pela fé
no nome de Jesus (At 16.16-18), ao usar a Palavra de Deus (Ef 6.17), ao orar no
Espírito (At 6.4; Ef 6.18), ao jejuar (ver Mt 6.16 nota; Mc 9.29) e ao expulsar
demônios (ver Mt 10.1 nota; 12.28; 17.17-21; Mc 16.17; Lc 10.17; At 5.16; 8.7;
16.18; 19.12).
(f) Orar, principalmente, para que o Espírito Santo convença
os perdidos, no tocante ao pecado, à justiça e ao juízo vindouro (Jo 16.7-11).
(g) Orar, com desejo sincero, pelas manifestações do
Espírito, mediante os dons de curar, de línguas, de milagres e de maravilhas
(At 4.29-33; 10.38; 1Co 12.7-11).
ELABORADO PELO EVANGELISTA:
NATALINO ALVES DOS ANJOS
PROFESSOR NA E.B.D e PESQUISADOR.
FONTE DE PESQUISA:
Comentário Biblico Moody
Comentário Biblico Esperança
Comentário Biblico Barclay
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal
Comentário Biblico Vida Nova Novo Testamento - Lucas
Bíblia de Estudo Pentecostal
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