Lições Bíblicas CPAD
- Jovens e Adultos
3º Trimestre de 2014
Título: Fé e Obras —
Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva
Lição 1:
Tiago — A fé que se mostra pelas obras
Data: 6 de Julho de 2014
TEXTO ÁUREO
“Assim também a fé,
se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2.17).
VERDADE PRÁTICA
A nossa fé tem de
produzir frutos verdadeiros de amor, do contrário, ela se apresenta falsa.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Hb
10.24 As boas obras devem ser
estimuladas
Terça - 1Tm
6.17-19 As boas obras e as riquezas do
mundo
Quarta - Tg
2.14-17 É possível haver fé sem as
obras?
Quinta - Ef
2.8,9 Não somos salvos pelas boas obras
Sexta - Ef 2.10 Salvos praticam boas obras
Sábado - Rm
12.9,10 Amor cordial e fraterno
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tiago 2.14-26.
14 - Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé
e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?
15 - E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta
de mantimento cotidiano,
16 - e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e
fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito
virá daí?
17 - Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si
mesma.
18 - Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras;
mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas
obras.
19 - Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os
demônios o creem e estremecem.
20 - Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras
é morta?
21 - Porventura Abraão, o nosso pai, não foi justificado
pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
22 - Bem vês que a fé cooperou com as suas obras e que,
pelas obras, a fé foi aperfeiçoada,
23 - e cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em
Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
24 - Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e
não somente pela fé.
25 - E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também
justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro
caminho?
26 - Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto,
assim também a fé sem obras é morta.
INTERAÇÃO
“Fé e obras: Ensinos
de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica” é o tema deste trimestre! Portanto,
estudaremos a Epístola de Tiago. O comentarista é o pastor Eliezer de Lira e
Silva, conferencista de Escolas Bíblicas e diretor do projeto missionário Ide
Ensinai em Moçambique, África.
Ao ler a Epístola Universal de Tiago chegamos à conclusão de
que o Evangelho não admite uma vida cristã acompanhada de um discurso
desassociado da prática. A nossa fé deve ser confirmada através das obras. Caro
professor, de maneira profunda, estude esta epístola, pois, temos um grande
desafio: convencer os nossos alunos de que vale a pena levar estes ensinamentos
até as últimas consequências.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Descrever as questões de autoria, local, data e destinatário
da epístola.
Entender o propósito da epístola.
Destacar a atualidade da epístola.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado professor,
para iniciar o estudo da Carta de Tiago sugerimos que reproduza o esquema
abaixo na lousa, ou em cópias, conforme as suas possibilidades. O esquema é um
esboço da epístola a ser estudada. Ele vai auxiliar na análise panorâmica da
carta. Neste esquema ainda constam informações como: a estrutura da epístola,
autoria, tema, data e uma consideração preliminar. Tenha uma boa aula!
ESBOÇO DA CARTA DE TIAGO
Considerações Preliminares:
Tiago é classificada como “epístola universal” porque foi originalmente escrita
para uma comunidade maior que uma igreja local. A saudação: “Às doze tribos que
andam dispersas” (1.1), juntamente com outras referências (2.19,21), indicam
que a epístola foi escrita inicialmente a cristãos judeus que viviam fora da
Palestina. É possível que os destinatários fossem os primeiros convertidos em
Jerusalém, que, após a morte de Estêvão, foram dispersos pela perseguição (At
8.1) até a Fenícia, Chipre, Antioquia da Síria e além (At 11.19).
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Fé: Confiança absoluta em alguém. A primeira das três
virtudes teologais: fé, esperança e amor.
Neste trimestre,
estudaremos a mensagem de Deus entregue aos santos irmãos do primeiro século
por intermédio de Tiago, o irmão do Senhor. Assim pode ser resumida a Epístola
universal de Tiago: uma carta de conselhos práticos para uma vida bem-sucedida
e de acordo com a Palavra de Deus. A espiritualidade superficial, a ausência de
integridade, a carência de perseverança e a insuficiência da compaixão para com
o próximo são características que permeiam o caminho de muitos crentes dos dias
modernos. O estudo dessa epístola é relevante para os nossos dias, pois
contempla a oportunidade de aperfeiçoarmos o nosso relacionamento com Deus e
com o próximo, levando-nos a compreender que a fé sem as obras é morta (Tg
2.17).
I. AUTORIA, LOCAL, DATA E DESTINATÁRIOS (Tg 1.1)
1. Autoria. Em
primeiro lugar, é preciso destacar o fato de que há, em o Novo Testamento, a
menção de quatro pessoas com o nome de Tiago: Tiago, pai de Judas, não o
Iscariotes, (Lc 6.16); Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João (Mt 4.21; 10.2;
Mc 1.19, 10.35; Lc 5.10; 6.14; At. 1.13; 12.2); Tiago, filho de Alfeu, um dos
doze discípulos (Mt 10.3; Mc 3.18; 15.40; Lc 6.15; At 1.13) e, finalmente,
Tiago, o autor da epístola, que era filho de José e Maria e meio-irmão do nosso
Senhor (Mt 1.18,20). Após firmar os passos na fé e testemunhar a ressurreição
do Filho de Deus, o irmão do Senhor liderou a Igreja em Jerusalém (At 15.13-21)
e, mais tarde, foi considerado apóstolo (Gl 1.19). Pela riqueza doutrinária da
carta, o autor não poderia ser outro Tiago, senão, o irmão do Senhor e líder da
Igreja em Jerusalém.
2. Local e data. Embora a maioria dos biblistas veja a
Palestina, e mais especificamente Jerusalém, como local mais indicado de
produção da epístola, tal informação é desconhecida. Sobre a data, tratando-se
do período antigo da era cristã, sempre será aproximada. Por essa razão, a
Bíblia de Estudo Pentecostal data a produção da carta de Tiago entre os anos 45
a 49 d.C., aproximadamente.
3. Destinatário. “Às doze tribos que andam dispersas” (Tg
1.1). Há muito a estrutura política de Israel perdera a configuração de divisão
em tribos. Assim, em o Novo Testamento, a expressão “doze tribos” é um recurso
linguístico que faz alusão, de forma figurativa, à nação inteira de Israel (Mt
19.28; At 26.7; Ap 21.12). Todavia, ao usar a fórmula “doze tribos”, na
verdade, Tiago refere-se aos cristãos dispersos na Palestina e variadas igrejas
estabelecidas em outras regiões, isto é, todo o povo de Deus espalhado pelo
mundo.
SINOPSE DO TÓPICO (I)
O autor da epístola é
Tiago, o meio-irmão de Jesus. A carta foi escrita provavelmente em Jerusalém,
entre os anos 45 e 49 d.C. e dirigida aos cristãos dispersos da Palestina bem
como as igrejas de outras regiões.
II. O PROPÓSITO DA EPÍSTOLA DE TIAGO
1. Orientar. Em um
tempo marcado pela falsa espiritualidade e egoísmo, as orientações de Tiago são
relevantes e pertinentes. Isso porque a Escritura nos revela o serviço a Deus
como a prática concreta de atitudes e comunhão: guardar-se do sistema mundano
(engano, falsidade, egoísmo, etc.) e amar o próximo. Assim, através de
orientações práticas, Tiago almeja fortalecer e consolar os cristãos,
exortando-os acerca da profundidade da verdadeira, pura e imaculada religião
para com Deus a qual é: a) visitar os órfãos e as viúvas nas tribulações; b)
não fazer acepção de pessoas e c) guardar-se da corrupção do mundo (Tg 1.27).
2. Consolar. Numa cultura onde não se dobrar a César,
honrando-o como divindade, significava rebelião à autoridade maior, os crentes
antigos foram impiedosamente perseguidos, humilhados e mortos. Entretanto, a
despeito de perder emprego, pais, filhos e sofrer martírios em praças públicas,
eles se mantiveram fiéis ao Senhor. Por isso, a epístola é, ainda hoje, um
bálsamo para as igrejas e crentes perseguidos espalhados pelo mundo (Tg
1.17,18; 5.7-11).
3. Fortalecer. Além das perseguições cruéis, os crentes eram
explorados pelos ricos e defraudados e afligidos pelos patrões (Tg 5.4). Apesar
de a Palavra de Deus condenar com veemência essa prática mundana, infelizmente,
ela ainda é muito atual (Ml 3.5; Mc 10.19; 1Ts 4.6). A Epístola de Tiago não
foge à tradição profética de condenar tais abusos, pois, além de expor o juízo
divino contra os exploradores, o meio-irmão do Senhor exorta os santos a não
desanimarem na fé, pois há um Deus que contempla as más atitudes do injusto e
certamente cobrará muito caro por isso. A queda de quem explora o trabalhador
não tardará (Tg 5.1-3).
SINOPSE DO TÓPICO (II)
O propósito geral da
epístola de Tiago era orientar, consolar e fortalecer a Igreja de Cristo que
estava sendo perseguida.
III. ATUALIDADE DA EPÍSTOLA
1. Num tempo de
superficialidade espiritual. Outro propósito da epístola é levar o leitor a um
relacionamento mais íntimo com Deus e com o próximo. A carta traz diversas
citações do Sermão do Monte como prova de que o autor está em plena
concordância com o ensino de Jesus Cristo. Tiago chama a atenção para a verdade
de que se as orientações de Jesus não forem praticadas, o leitor estará fora da
boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Portanto, a Igreja do Senhor não
pode abandonar os conselhos divinos para desenvolver uma espiritualidade sadia
e profunda.
2. Num tempo de confusão entre “salvação pela fé” ou
“salvação pelas obras”. O leitor desavisado pode pensar que a Epístola de Tiago
contradiz o apóstolo Paulo quanto à doutrina da salvação mediante a fé. Nos
tempos apostólicos, falsos mestres torceram a doutrina da salvação pela graça
proclamada pelo apóstolo dos gentios (2Pe 3.14-16 cf. Rm 5.20—6.4). Entretanto,
a Epístola de Tiago evidencia que não se pode fazer separação entre a fé e as
obras. Apesar de as obras não garantirem a salvação, a sua manifestação dá
testemunho da experiência salvífica do crente (Ef 2.10; cf. Tg 2.24).
3. Uma fé posta em prática. Muitos dizem ser discípulos de
Cristo, mas estão distantes das virtudes bíblicas. Estes não evidenciam sua fé
por intermédio de suas atitudes. Os pseudodiscípulos visam os seus interesses
particulares e não a glória de Deus. Precisamos urgentemente priorizar o Reino
de Deus e a sua justiça (Mt 6.33). Tiago nos ensina, assim como João Batista
(Lc 3.8-14), que precisamos produzir frutos dignos de arrependimento.
SINOPSE DO TÓPICO (III)
Num tempo de
superficialidade espiritual e de confusão entre “salvação pela fé” e “salvação
pelas obras”, a epístola de Tiago é uma mensagem atual sobre a fé posta em
prática.
CONCLUSÃO
Como em toda a
Escritura Sagrada, a Epístola de Tiago é um farol acesso e permanentemente
atual. Ela nos alerta contra a mediocridade da vida supostamente cristã e nos
exorta a fazer das Escrituras o nosso pão diário. Jesus Cristo sempre foi
zeloso pelo bem estar do seu rebanho (Jo 10.10). Em todas as épocas Ele é o bom
pastor que cuida das suas ovelhas (Jo 10.11). É do interesse do Mestre que os
discípulos vivam em harmonia e amor mútuo, afim de não trazerem escândalo aos
de dentro e, muito menos, aos de fora (1Co 10.32). E não nos esqueçamos: A
religião pura e imaculada é a fé que se mostra através de nossas práticas e
obras.
VOCABULÁRIO
Compatriota: Que se origina da mesma terra.
Dispersa: Espalhada, separada. Imaculada: Pura, sem qualquer
mancha.
Pseudodiscípulos: Falsos discípulos.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo
Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2007.
STAMPS, Donald C (Ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo
e Novo Testamento. RJ: CPAD, 1995.
STRONSTAD,
Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. 2 ed., RJ: CPAD, 2004.
Subsídio Bibliológico
“Deve ser observado
que existem resultados mais abençoados e reais quando um indivíduo realmente
confia no Senhor Jesus Cristo. Há não apenas uma mudança de posição diante de
Deus (justificação), mas há o início da obra redentora e santificadora de Deus.
Embora a transformação da vida não seja a base da salvação, ela é a evidência
da salvação. E sem tal evidência (em maior ou menor grau) deve ser levantada
uma questão quanto à autenticidade da fé do indivíduo. [...]
As boas obras de um cristão são o resultado e a evidência da
autenticidade da sua fé. É o entendimento deste fato que resolverá o problema
de alguns quanto a uma alegada discrepância entre Paulo e Tiago. Paulo
certamente relaciona as boas obras com a fé (Ef 2.8-10). Fica claro que Tiago
está falando da justificação diante dos homens (Tg 2.18 — ‘mostra-me’, ‘te
mostrarei’; v.22 - ‘bem vês’; v.24 - ‘vedes’; v.26), e que a fé é provada pelas
obras (v.22)” (PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard, F. Dicionário Bíblico
Wycliffe. RJ: CPAD, 2009, pp.779,80).
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
Tiago — Fé que se
mostra pelas obras
O tema deste
trimestre é “Fé e Obras: Ensino de Tiago para uma vida cristã autêntica”. Por
isso, ao professor não poderá faltar algumas obras literárias para o bom
desenvolvimento do trabalho educativo, como, por exemplo, várias versões da
Bíblia (pelo menos quatro); um bom Dicionário Bíblico; um Dicionário Teológico
e um Comentário Bíblico.
Por que usarmos diferentes versões bíblicas para interpretar
cuidadosamente as Escrituras? Ora, apesar de boas e fieis ao original do texto
bíblico, algumas versões apresentam, por exemplo, problemas de linguagem
arcaica, que não se adequa à contemporaneidade da língua portuguesa (cf.
Caridade / Amor — 1 Co 13). Quando comparamos as várias versões da epístola de
Tiago, podemos compreender os textos de razoável dificuldade interpretativa. Por
isso é que sugerimos ao menos quatro das muitas versões disponíveis em língua
portuguesa: a ARC (Almeida Revista Corrigida); a ARA (Almeida Revista
Atualizada); a NVI (Nova Versão Internacional); e outra (poder ser até mesmo
uma tradução católica da Bíblia, como TEB — Tradução Ecumênica da Bíblia — ou a
Bíblia de Jerusalém).
O Dicionário Bíblico lhe auxiliará para a compreensão de
algum termo das Escrituras. Por exemplo, a carta de Tiago cita a palavra
“obra”. Mas a que Tiago se refere ao usar o termo “obra”? Às Obras da Lei ou à
“Ação de Misericórdia”? Os artigos de um bom Dicionário Bíblico (sugerimos o
Dicionário Bíblico Wycliffe, editado pela CPAD) desenvolvem a exaustão os
termos bíblicos dessa natureza.
Para compreendermos a linguagem teológica de uma palavra
contextualizada à doutrinas bíblicas, o Dicionário Teológico muito lhe ajudará
(sugerimos o Dicionário Teológico, editado pela CPAD). Dominarmos os conceitos
doutrinários de Salvação, Lei, Graça etc., e os seus desdobramentos, é de
grande relevância para quem estuda a Epístola de Tiago. Ademais, não podemos
confundir os conceitos teológicos que, ao mesmo tempo, aparecem na carta de
Tiago e nas de Paulo.
Por último, um bom Comentário da Epístola de Tiago
(sugerimos O Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, editado pela CPAD)
para remontarmos o contexto histórico, social, cultural, econômico e exegese da
epístola. Mas, antes de tudo, sugiro-lhe ler as treze lições do trimestre em
uma única leitura. Este processo lhe ajudará a desenvolver o panorama do
assunto de maneira mais eficaz. Faço votos de que você e a sua classe cresçam
no estudo desta belíssima carta que é a Epístola de Tiago!
PRIMEIRA PARTE
INFORMAÇÕES SOBRE A EPÍSTOLA DE TIAGO
SUBSIDIOS
PRIMEIRA PARTE
INFORMAÇÕES SOBRE A EPÍSTOLA DE TIAGO
A Epístola de Tiago é um dos
mais antigos escritos do Novo Testamento e um dos mais importantes textos
bíblicos sobre a verdadeira vida de piedade. Simplesmente, nenhum outro texto
do Novo Testamento é mais direto e enfático sobre a relação entre a fé e as obras
na vida do verdadeiro cristão.
Os dois
propósitos dessa carta apostólica estão explicitados já em seu primeiro
capítulo:
1) Encorajar os cristãos judeus dispersos pelo Império Romano devido à
perseguição (Tg 1.1) a encararem positivamente as várias provações pelas quais
passavam por causa da sua fé (Tg 1.2), de maneira a serem edificados e
fortalecidos na fé em meio a essas provações (Tg 1.3,4);
2) Ensinar qual é a verdadeira religião (Tg 1.27), no que consiste a
verdadeira vida de piedade, isto é, qual o resultado prático da verdadeira fé
em Jesus (Tg 1.22-26). A síntese de tudo é: “...a fé, se não tiver as obras, é
morta em si mesma” (Tg 2.17).
Outra característica marcante da Epístola de Tiago é a sua relação íntima
com os ensinos de Jesus expressos nos Evangelhos. Não que as outras epístolas
também não tenham essa relação, mas esses ensinos do Mestre geralmente aparecem
nas epístolas de Paulo, Pedro, João e Judas aplicados ao tratamento de
problemas específicos que surgiram no caminhar da Igreja no primeiro século da
Era Cristã, enquanto na Epístola de Tiago ainda encontramos uma proximidade dos
ensinos do bispo de Jerusalém com as aplicações mais imediatas dos ensinos de
Jesus. Talvez isso aconteça porque essa epístola foi escrita provavelmente
durante a primeira geração de cristãos da Igreja Primitiva. Nessa época, ainda
estava vivo um grande número daqueles que haviam conhecido Jesus pessoalmente
e, por isso, algumas necessidades apologéticas, que tomariam boa parte dos
escritos apostólicos nos anos seguintes, ainda não haviam surgido.
O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento (CPAD) traz
um excelente paralelo entre os ensinos de Tiago e as palavras de Jesus, o que
denotam a imensa familiaridade que o meio-irmão de Cristo tinha com os ensinos
de seu Senhor. Se não, vejamos.
1) Tiago fala de júbilo na perseguição (Tg 1.2; Mt 5.11,12; Lc
6.22,23);
2) do propósito de ser perfeito e maduro (Tg 1.4; Mt 5.48);
3) pedir e receber de Deus (Tg 1.5; Mt 7.7; Lc 11.19);
4) de pedir com fé e sem duvidar (Tg 1.6; Mt 21.21,22; Mc 11.22-24);
5) da mudança do orgulho à humildade (Tg 1.9,10; 4.6,10; Mt 23.12; Lc
14.11; 18.14);
6) da metáfora do sol escaldante, que faz com que as plantas definhem
(Tg 1.11; Mt 13.6; Mc 4.7);
7) de Deus como provedor dos dons (Tg 1.17; Mt 7.11; Lc 11.13);
8) da necessidade de não só ouvir, mas também praticar a Palavra de
Deus (Tg 1.22; 2.14,17; Mt 7.21-27; Lc 6.46-49);
9) da compaixão pelos necessitados e aflitos (Tg 1.27; 2.15; Mt
25.34-36);
10) de os pobres herdarão o Reino de Deus (Tg 2.5; Mt 5.3; Lc
6.20);
11) de amar o próximo com a si mesmo (Tg 2.8; Mt 22.39; Lc
12.31);
12) de não infringir o menor mandamento sequer (Tg 2.10; Mt
5.19);
13) do julgamento daqueles que não demonstram misericórdia
(Tg 2.13; Mt 18.23-34; 25.41-46);
14) de tornar-se amigo de Deus pela obediência (Tg 2.23; Jo
15.13-15);
15) dos mestres sendo julgados com maior severidade (Tg 3.1;
Mc 9.38,40; Lc 20.45,47); de sermos julgados pelo que dizemos (Tg 3.2; Mt
12.37);
16) que o que corrompe é aquilo que sai de nossas bocas (Tg
3.6; Mt 15.11,18; Mc 7.15,20; Lc 6.45);
17) que a mesma fonte não pode produzir o bem e o
mal (Tg 3.11,12; Mt 7.16-18; Lc 6.43,44);
18) que os pacificadores serão abençoados (Tg 3.18; Mt 5.9);
19) de um povo espiritualmente adúltero (Tg 4.4; Mt 12.39;
Mc 8.38);
20) da amizade com o mundo significado inimizade com Deus e
vice-versa (Tg 4.4; Jo 15.18- 21);
21) do riso transformado em pranto (Tg 4.6; Lc 6.25);
22) sobre julgarmos os semelhantes (Tg 4.11,12; 5.9; Mt
7.1,2);
23) que Deus pode tanto salvar como destruir (Tg4.12; Mt
10.28);
24) da tolice de planejar o futuro de modo independente de
Deus (Tg 4.13,14; Lc 12.18-20);
25) da punição para aqueles que conhecem a vontade de Deus e
se recusam a cumpri-la (Tg 4.17; Lc 12.47);
26) de um Ai sobre os ricos injustos (Tg 5.1; Lc 6.24);
27) da riqueza removida pela traça e pela ferrugem (Tg
5.2,3; Mt 6.19,20);
28) da autoindulgência sem qualquer preocupação pelos pobres
(Tg 5.5; Lc 16.19,20,25);
29) que o retorno do Juiz está às portas (Tg 5.9; Mt 24.33;
Mc 13.39);
30) sobre a perseguição aos profetas (Tg 5.10; Mt 5.10-12);
31) de não fazer juramentos (Tg 5.12; Mt 5.33-37); e de
recuperar os irmãos e as irmãs que haviam se perdido (Tg 5.19-20; Mt 18.15).
Esta epístola também é especial porque Tiago foi o primeiro líder da
Igreja Primitiva. Sua liderança transparece em passagens como Atos 12.17,
quando Pedro, após sair milagrosamente da prisão, pede para que sua libertação
seja anunciada “a Tiago e aos irmãos”; em Atos 15, quando ele ocupa uma posição
de liderança no primeiro concílio da Igreja, resumindo a questão em debate (w.
13-18), dando a sentença sobre a questão (w. 19-21) e tendo o seu conselho
fielmente seguido por todos (w.22-31); e em Atos 21.18, quando Paulo, ao chegar
a Jerusalém após a sua terceira viagem missionária, foi encontrar-se com “Tiago
e todos os presbíteros” (v. 18). Portanto, estudar a Epístola de Tiago é ter o privilégio
de sentar-se aos pés de um dos maiores nomes da Igreja Primitiva, com alguém
que conviveu pessoalmente com Jesus desde a sua infância e, depois de um
período inicial de resistência, teve conversas particulares com o Cristo
ressuscitado (1 Co 15.7) as quais mudaram a sua vida para sempre.
Tiago foi tão especial em seus dias que conta o historiador judeu
Flávio Josefo, seu contemporâneo, em trecho desaparecido de sua obra
Antiguidades Judaicas, que após a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., muitos
judeus creditaram a destruição da cidade a um castigo de Deus pelo martírio do
santo Tiago, chamado de “O Justo”. Pais da Igreja como Orígenes (185-254 d.C.),
Eusébio de Cesareia (260-339 d.C.) e Jerônimo (347-420 d.C.) comentam essa
passagem de Josefo, conhecida ainda na época deles.2 Segundo eles, dizia Josefo
expressamente: “Essas coisas [a destruição de Jerusalém] aconteceram com os
judeus em represália pelo que fizeram a Tiago, o Justo, que era irmão de Jesus,
conhecido como o Cristo, pois embora ele fosse o mais justo dos homens, os
judeus o mataram”.3 Josefo cita o martírio de Tiago e a revolta pela injustiça
ocorrida contra ele em um trecho às. Antiguidades Judaicas que permanece ainda
entre nós. Diz ele, inclusive, que Albino, então governador da Judeia, atendendo
a protestos de muitos judeus deus, depôs o sumo sacerdote Anano, da seita dos
saduceus, pela injustiça cometida contra Tiago, que fora assassinado por
apedrejamento a mando de Anano.
Por todas essas razões, a Epístola de Tiago é uma preciosidade,
sobretudo pelos seus ensinos preciosos acerca da vida cristã prática, a
respeito da essência do verdadeiro cristianismo. Estudemos, pois, os escritos
de Tiago, o Justo, e aprendamos um pouco mais sobre a verdadeira vida de
piedade.
Tiago — Fé
que se mostra pelas obras.
Introdução
A Carta de Tiago é a primeira do grupo de epistolas consideradas como
escritos gerais. Tais epístolas recebem essa designação por não serem
endereçadas especificamente a qualquer grupo que possa ser identificado de
imediato. Outra denominação dada a este grupo de escritos é “escritos
católicos”, por serem cartas gerais. Essa designação nada tem a ver com o nome
da Igreja Católica Apostólica Romana.
Autor
Comecemos nosso breve estudo pela
questão da autoria desta Carta. O nome Tiago não era incomum nos dias de Jesus,
e no Novo Testamento ocorrem ao menos quatro citações a pessoas que tinham esse
nome:
• Tiago, pai de Judas (Lc 6.16);
• Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João;
• Tiago, filho de Alfeu. Há estudiosos que o identificam como Tiago, o
pequeno, filho de Maria (Mc 15.40).
Tiago, irmão do Senhor. Esta tem sido a teoria mais corrente em
relação à autoria desta Carta. Paulo o destaca como apóstolo (G1 1.19), um
homem que era considerado um dos pilares da igreja.
A carta de Tiago já recebeu diversas propostas de datação. Esta tem
sido determinada por alguns especialistas como tendo sido escrita em 45 ou 62
d.C. Os argumentos orbitam da seguinte forma para se deduzir que foi escrita em
um desses períodos.
Conforme Josefo, o martírio de Tiago ocorreu em 62 d.C, portanto, ele
teve de escrever antes desse período sua carta. A epistola nao raz mençao sobre
a controvérsia de judeus e cristãos entre os anos 50 e 60. Como relata o livro
de Atos, Tiago foi o chamado “moderador” do Concílio de Jerusalém, evento que provavelmente
teria sido realizado o ano 50 d.C. e que discutiu a chegada de gentios no seio
da igreja cristã. E há estudiosos que entendem que como a Carta de Tiago não
cita o apóstolo Paulo, é provável que Tiago escreveu sua Carta antes de Paulo
ter sido considerado um obreiro de destaque.
Destinatários
O autor da carta indica que seus destinatários são as “12 tribos que
estão dispersas”. Como os judeus foram os primeiros convertidos à fé cristã,
principalmente porque o evangelho de Jesus foi primeiramente pregado a eles, e
a Igreja Primitiva teve sua origem em Jerusalém, não é difícil entender que
esse escrito teria sido inicialmente para eles, mas isso não exclui a
possibilidade de os gentios estarem sendo posteriormente incluídos nos sermões
dessa epístola.
Essa referência é claramente simbólica, se considerarmos que a estrutura
tribal de Israel havia cessado de ser um conjunto literal de doze tribos desde
pelo menos a conquista da Assíria do Reino do Norte em 722 a. C. A questão que
se apresenta, então, é: até que ponto Tiago estende aos seus leitores os
elementos metafóricos de sua designação?
A interpretação mais “literal” da saudação é que cópias dessa carta
foram enviadas aos judeus (às “doze tribos”) que estavam vivendo fora da
Palestina (“dispersos entre os gregos”; cf Jo 7.35). No entanto, levando em
conta que a carta obviamente não representa um tratado evangelístico destinado
a converter os judeus ao cristianismo, esse entendimento pode ser rapidamente
excluído.
Os destinatários são apresentados como já possuindo a fé em Jesus
Cristo (2.1) e, sendo assim, a linguagem a respeito das “doze tribos” é
geralmente aceita como simbolizando a crença de que cristãos são agora o povo
de Deus, e formam o novo Israel ou Israel espiritual.
Partindo dessa orientação, podemos entender que os destinatários não
eram apenas judeus, mas igualmente gentios que se tinham chegado à fé em Jesus
Cristo e agora fariam parte da igreja cristã.
Local
Jerusalém tem sido considerada o local da confecção desta carta,
apesar de ela mesma não trazer qualquer indicação de que tenha sido escrita lá.
A base para essa teoria está mais vinculada à tradição da igreja. Pelo fato de
essa carta ter circulado primeiramente na Palestina, como registram alguns pais
da igreja como Orígenes, acredita-se que Jerusalém foi de fato a localidade de
origem dessa epístola.
Propósitos
Já foi dito que a “...epístola de Tiago é a menos doutrinária e mais
prática de todos os livros do Novo Testamento”.7 É um verdadeiro manual de
conduta cristã, o que não diminui em nada o seu valor diante dos textos
considerados mais teológicos. Isso deve deter nossa atenção de forma peculiar.
Não raro, somos confrontados não por nosso pensamento teológico, mas pela nossa
prática cotidiana. É triste ouvir um comentário acerca de uma pessoa que detém
um conhecimento teológico apurado mas cujas práticas não condizem com a
teologia que ela ensina ou pesquisa. Pensamento teológico correto é desejável,
mas a prática correta dos preceitos bíblicos é mais importante. Um pensamento
teológico estéril será manifesto em uma vida estéril de boas obras.
A atualidade
da Carta de Tiago
Obras e
salvação.
Esse assunto dividiu em diversos momentos o pensamento teológico
cristão. Lutero chamou a Carta de Tiago de Carta de Palha, e questionou sua
validade no Cânon por entender que Tiago dá mais ênfase às obras do que à
salvação pela fé. O reformador — que viveu em uma cultura em que as obras eram
tidas pela igreja romana como uma forma de se chegar ao céu, sem a necessidade
da fé em Jesus Cristo — tinha em mente o apreço ao que o apóstolo Paulo falava
sobre a salvação pela fé. Entretanto, precisamos saber que Paulo e Tiago tratam
desses dois temas para públicos diferentes e situações diferentes. Em Paulo, as
obras não justificam as pessoas, pois elas são insuficientes para a salvação.
Parada, pois os sinais dela estão cada dia mais visíveis. Entretanto, há
pessoas que mesmo na congregação estão como adormecidas em relação ao retorno
do Senhor, esquecendo-se desse evento prometido nas Escrituras. Vivem como se
Jesus demorasse a voltar, e há aqueles que duvidam que um dia o Senhor Jesus
retorne. Entre a indiferença e a incredulidade, devemos ter esperança. Tiago
usa o exemplo de um agricultor, que semeia e espera a chuva a seu tempo, e com
paciência vê o fruto do seu trabalho. O retorno do Senhor é certo, e devemos
estar prontos para que subamos com Ele.
A Carta de Tiago é uma obra para os nossos dias. Se observarmos as
ênfases que o escritor dá em seus breves sermões, perceberemos que a Igreja do
século XXI se encaixa devidamente como leitora e destinatária, da mesma forma
que a igreja do século I.
A Carta de
Tiago é um verdadeiro manual de conduta cristã, o que não diminui em nada o seu
valor diante dos textos considerados mais teológicos. Isso deve deter nossa
atenção de forma peculiar. Não raro, somos confrontados não por nosso
pensamento teológico, mas pela nossa prática cotidiana.
A oração.
Tiago completa sua obra falando sobre oração. Ele argumenta que a
oração de um justo pode muito em seus efeitos, e nos insta que estejamos no
altar do Senhor, buscando-o. Ele fala sobre a oração da fé, pela cura de um
enfermo e pelo perdão dos pecados. O maior exemplo que Tiago oferece é o do
profeta Elias, um homem que pouco difere de nós, mas que orou e viu o resultado
de sua oração na ausência de chuvas em Israel. Tido por herói, Elias foi um
exemplo de homem dedicado á oração e à comunhão com Deus, e esse mesmo exemplo
pode ser seguido pelos crentes em nossos dias. Claro que não vamos orar pedindo
que não chova em nosso país, mas precisamos ter em mente que nossas orações são
ouvidas por Deus, e que apesar de nossa pequenez, temos um Deus que tem prazer
em nos ouvir.
A Teologia na Carta
de Tiago
Já foi dito que a Carta de Tiago não é teológica. Na
verdade, a teologia de Tiago é muito mais voltada à pática do que à
contemplação. A preocupação dele é demonstrada nas muitas recomendações a que a
fé cristã seja manifesta por meio de atitudes.
Sobre esse tema, Buist M. Fanning comenta que:
A epístola de Tiago é conhecida e amada por suas exortações
penetrantes a respeito da vida prática cristã. Geralmente não é lembrada por
sua teologia. Na verdade, um comentarista proeminente afirma que a epístola de
Tiago “não tem teologia”. De fato, Tiago não enfatiza temas teológicos como
fazem outros escritores bíblicos. Por exemplo, a epístola não faz menção
explícita à encarnação, à cruz nem à ressurreição de Jesus. Talvez não haja menção
ao Espírito Santo (debate-se Tg 4.5), muito pouca menção à nova vida em Cristo
e à doutrina clara da igreja e muito pouca ao plano da salvação de Deus operado
na história.
O que Tiago fornece é exortação evidente, e deve-se esperar
isso à luz do propósito indicado por ele em sua epístola para escrevê-la. Ele
não escreve com a finalidade de corrigir problemas doutrinários, mas para
incentivar os cristãos a agir de acordo como que acreditam, a serem “cumpridores da palavra e não
somente ouvintes” (1.22). Embora Tiago enfatize a vida prática cristã, ele
revela seus fundamentos teológicos e contribui com percepções distintas para a
teologia cristã.
Este é o panorama da Epístola de Tiago. Nos próximos
capítulos abordaremos outros assuntos dessa carta tão atual e necessária para a
igreja cristã.
SEGUNDA PARTE
SEGUNDA PARTE
Tiago 2.14 FÉ E OBRAS.
Os versículos 14-26 tratam do problema, sempre presente na
igreja, daqueles que professam ter fé salvífica no Senhor Jesus Cristo, mas
que, ao mesmo tempo, não demonstram
pelas obras nenhuma evidência de devoção sincera a Ele e à sua Palavra.
(1) A fé salvífica é sempre uma fé viva que não se limita à
mera confissão de Cristo como Salvador, mas
que também nos leva a obedecê-lo como Senhor. Portanto, a obediência é
um aspecto fundamental da fé. Somente quem obedece pode de fato crer, e somente
aqueles que crêem podem de fato obedecer
ao Senhor (ver v. 24 ; Rm 1.5).
(2) Notem que não há nenhuma contradição entre Paulo e Tiago
no tocante à questão da fé salvífica. No
sentido geral, Paulo enfatiza a fé como o meio pelo qual aceitamos a Cristo
como Salvador (Rm 3.22). Tiago enfatiza o fato de que a verdadeira fé deve ser
uma fé ativa, duradoura e que molde
nossa própria existência.
Tiago 2.17,26 A FÉ SEM AS OBRAS É MORTA.
(1) A verdadeira fé salvífica é tão vital que não poderá
deixar de se expressar por ações, e pela devoção a Jesus Cristo. As obras sem a
fé são obras mortas. A fé sem obras é fé morta. A fé verdadeira sempre se
manifesta em obediência para com Deus e atos compassivos para com os
necessitados (ver v. 22; Rm 1.5).
(2) Tiago objetiva seus ensinos contra os que na igreja
professavam fé em Cristo e na expiação pelo seu sangue, crendo que isso por si
só bastava para a salvação. Eles também achavam que não era essencial no
relacionamento com Cristo obedecer-lhe como Senhor. Tiago diz que semelhante fé
é morta e que não resultará em salvação, nem em qualquer outra coisa boa (vv.
14-16,20-24). O único tipo de fé que salva é "a fé que opera por
caridade" (Gl 5.6).
(3) Não devemos, por outro lado, pensar que mantemos uma fé
viva, exclusivamente por nossos próprios esforços. A graça de Deus, o Espírito
Santo que em nós habita e a intercessão sacerdotal de Cristo (ver Hb 7.25)
operam em nossa vida, capacitando-nos a obedecer a Deus pela fé, do começo ao
fim (cf. Rm 1.17). Se deixarmos de ser receptivos à graça de Deus e à direção
do Espírito Santo, nossa fé sucumbirá.
Tiago 2.21 ABRAÃO... FOI JUSTIFICADO PELAS OBRAS.
As obras pelas quais Abraão foi justificado não eram "obras
da lei" (Rm 3.28), mas da fé e do amor. Sua disposição de sacrificar
Isaque foi uma expressão da sua fé em Deus e da sua dedicação a Ele (ver Gn
15.6 nota; 22.1). Tiago usa o exemplo de Abraão para refutar a crença de que
pode haver fé sem dedicação e amor a Deus. O apóstolo Paulo usa o exemplo da fé
de Abraão para anular o conceito errôneo de que a salvação depende do mérito
das nossas próprias obras e não da graça de Deus (Rm 4.3; Gl 3.6).
Tiago 2.22 A FÉ COOPEROU COM AS SUAS OBRAS.
Tiago não está dizendo que a fé e as obras nos salvam. Isso
seria separar a fé das obras. Tiago argumenta, pelo contrário, sobre a fé em
ação. Isto é, a fé e as obras nunca
poderão estar separadas uma vez que as obras procedem naturalmente da fé (ver
Gl 5.6).
2.24 O HOMEM É JUSTIFICADO PELAS OBRAS.
O termo grego ergon, aqui traduzido por obras, é empregado
por Tiago com sentido diferente daquele que Paulo usou em Rm 3.28.
(1) Para Tiago, "obras" se refere às nossas
obrigações para com Deus e o homem, as quais são ordenadas nas Escrituras, e
provêm de uma fé sincera, de um coração puro, da graça de Deus e do desejo de
agradar a Cristo.
(2) Para Paulo, "obras" se refere ao desejo humano
de obter mérito e salvação pela obediência à lei mediante nosso próprio
esforço, e não através do arrependimento e da fé em Cristo.
(3) Note que tanto Paulo como Tiago declaram enfaticamente
que a verdadeira fé salvífica produzirá infalivelmente obras de amor (1.27;
2.8; Gl 5.6; 1 Co 13; cf. Jo 14.15).
TERCEIRA PARTE.
A- Quando a Fé Não é Fé, 2.14-17.
1. Confissão Inútil
(2.14)
Como em 2.1, Tiago suaviza sua exortação ao identificar-se
com seus leitores. Ele escreve aos meus
irmãos (v. 14). A fé que Tiago rejeita não é reconhecida por ele como fé
verdadeira. Ela é uma confissão ou declaração, mas não uma realidade. Que aproveita se alguém disser que tem fé e
não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá- lo? Phillips apresenta o
sentido correto da segunda pergunta: “Porventura esse tipo de fé poderia salvar
a alma de alguém?”.
2. Uma Parábola
(2.15-17)
Os versículos 15-16 têm sido descritos como uma “pequena
parábola” com a aplicação dada no versículo 17. João usa um argumento similar:
“Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer
necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de
Deus?” (1 Jo 3.17, ARA). A intolerância de Tiago com a fé sem prática aparece
de forma aguda na seguinte paráfrase: “Se vocês tiverem um amigo que está
necessitado de alimento e vestuário, e lhe disserem: ‘Bem, adeus, e que Deus o
abençoe; aqueça-se e coma bem’, e depois não lhe derem roupas ou alimentos, que
bem faz isso?” (A Bíblia Viva). Clarke comenta: “Ao falar isso para eles, sem
lhes dar nada, o proveito deles será igual à sua fé professada. Sem essas
obras, que são os frutos genuínos da verdadeira fé, qual será o seu proveito no
dia em que Deus virá sentar e julgar a sua alma?”
Essa fé é morta (v.
17) — interiormente morta, bem como exteriormente inoperante. Ela não é
apenas infrutífera, mas não tem uma vitalidade própria capaz de produzir frutos
de justiça. Essa fé é morta em si mesma, ou seja, não há obras que a
acompanham.
A menção específica de irmã (v. 15) é entendida por Ross
como uma evidência contra a teoria defendida por alguns, de que temos em Tiago
um documento pré-cristão de origem judaica. Ele escreve: “Trmãs’ devem receber
um tratamento igualitário em relação aos irmãos na Igreja dEle, onde não há
homem nem mulher (G1 3.28)”.
Nus (gumnoi) deve
ser entendido como mal-vestido (cf. Mt 25.36).
B -Uma Objeção Respondida, 2.18-19.
Nesse ponto, Tiago introduz a visão de um oponente
imaginário que rejeita a idéia de que a fé possa existir sem obras. Mas dirá alguém (v. 18) implica que um
argumento bem conhecido está sendo apresentado. Tiago não argumenta a favor da
proeminência das obras sobre a fé; ele apenas insiste em que a fé cristã não é
válida se não for acompanhada de obras de justiça. O apóstolo diz: “Eu
reivindico fé bem como obras!”. Para aquele que diz que fé e obras podem
existir independentemente Tiago apenas pode responder: “Mostre-me a sua fé sem
obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (NVI).
No versículo 19, Tiago cita corretamente a crença num Deus
único e verdadeiro como o princípio central da fé mantido pelo seu oponente. Algumas
versões colocam a primeira parte do versículo 19 em forma de pergunta (como
ocorre na ARC): Tu crês que há um só
Deus?. Tiago responde: Fazes bem (v. 19). Até aqui, tudo bem — mas isso não
é suficiente: também os demônios
(daimonia) crêem e estremecem. Apenas fé — no sentido de reconhecer Deus
sem responder a Ele em ação obediente — é uma religião que mesmo os demônios
professam (cf. Mt 8.29; Mc 1.24). Mas essa fé não é uma fé salvadora; eles
apenas estremecem (“tremem”, NVI). “A fé que eles têm é mostrada pelo seu
terror, uma emoção de interesse próprio, mas isso não os salva”. João Wesley
comenta acerca daqueles que têm uma fé tão limitada: “Isso prova somente que
vocês têm a mesma fé dos demônios [...] eles [...] tremem com a expectativa
terrível do tormento eterno. Essa fé certamente não pode justificá-los nem
salvá-los”.
C - Provas da
História Hebraica, 2.20-26.
Tiago agora volta-se para as provas que deveriam ter o maior
peso para os seus leitores — evidências das Escrituras, que eles aceitavam como
autorizadas. Nos dois exemplos, as pessoas do Antigo Testamento foram levadas a
agir de acordo com a sua fé em Deus, em vez de meros sentimentos de bondade
humana natural.
1. Introduzindo a
Evidência (2.20).
A expressão: queres
tu saber? (v. 20, lit., você gostaria de saber?), introduz esse novo rumo
na argumentação. A pergunta parece inferir uma relutância que beira a
perversidade no homem questionado. O sentido correto seria: “Você realmente
quer uma prova irrefutável?”. Ó homem
vão significa “insensato” (NVI) ou “de cabeça vazia”. Trench diz que esse
tipo de homem “é alguém em quem a sabedoria superior não encontrou espaço, mas
que está inchado com uma vaidade vã do seu próprio discernimento”. Tiago repete
aqui sua premissa básica de que a fé sem
as obras é morta (“inútil”, NVI; lit., sem obras, inativa). Essa fé sem
vida não produz nada de importante.
2. O Argumento de
Abraão (2.21-24).
O versículo 21 fala de
Abraão como sendo justificado pelas
obras. Isso parece estar em contradição direta com Paulo, que escreveu:
“Creu Abraão [tinha fé] em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4.3;
cf. G1 3.6). Tanto Tiago quanto Paulo recorrem à verdade em Gênesis 15.6 para
suportar seus argumentos. A reconciliação pode ser encontrada nos eventos
específicos na vida de Abraão à qual Paulo e Tiago se referem; também no
sentido em que usaram o termo justificado
(v. 21).
Paulo refere-se à fé do patriarca Abraão no tempo em que
Deus prometeu dar-lhe um filho (Gn 15.1-6). A sua fé era uma fé que aceitava a
promessa de Deus sem ter provas concretas. Tiago, por outro lado, referiu-se à
fé do patriarca quando ofereceu sobre o
altar o seu filho (Gn 22.1-19). “Tiago não está falando da imputação
original de justiça a Abraão em virtude da sua fé, mas da prova infalível [...]
de que a fé que resultou nessa imputação era uma fé real. Ela se expressava em
uma obediência tão completa a Deus que 30 anos mais tarde Abraão estava pronto,
em submissão à vontade divina, para oferecer o seu filho Isaque. O termo
justificado nesse versículo significa na verdade ‘revelado para ser
justificado’”.
A interação inseparável entre a fé cristã e a ação é deixada
clara em uma tradução mais recente do versículo 22: “Você pode ver que tanto a
fé como as obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras”
(NVI). Se aceitarmos a evidência de Tiago, devemos aceitar sua conclusão:
“Vocês vêem, portanto, que um homem é salvo pelo que ele faz, tanto como pelo
que ele crê” (v. 24, A Bíblia Viva).
A expressão Abraão, o nosso pai (v. 21) é, às vezes, usada
para apoiar o argumento de que os receptores dessa epístola eram judeus ou pelo
menos de origem judaica. Mas o conceito de Abraão como o “pai dos fiéis” —
gentios e judeus — era um conceito cristão do primeiro século (cf. Rm 4.16; G1
3.7-9).
Em apoio à realidade da justiça de Abraão, Tiago ressalta
que ele foi chamado o amigo de Deus (v. 23). Em 2 Crônicas 20.7, Abraão é
chamado de “amigo [de Deus], para sempre”; e em Isaías 41.8, Deus chama Israel
de “semente de Abraão, meu amigo”. Essa expressão “amigo de Deus” parece
significar “que Deus não escondeu de Abraão o que propôs fazer (veja Gn 17.17).
Abraão foi privilegiado em ver alguma coisa do grande plano que Deus estava realizando
na história. Ele exultou em ver o dia do Messias (veja Jo 8.56)”.
3. A evidência de
Raabe (2.25).
Tiago escolheu Raabe, a meretriz (v. 25) para seguir o
exemplo de Abraão, o fiel, em sua exposição de provas do Antigo Testamento, de
que a fé não funciona sem obras. Nesse caso, recebe o apoio do autor aos
Hebreus (cf. Hb 11.17-19, 31). Tiago parece enfatizar que o princípio que ele
tem defendido é universal e que não há espaço para exceções. Ele cita Raabe,
que era “gentia, mulher e prostituta”. Em Hebreus, o autor ressalta que a ação
de Raabe era “por fé”. Tiago não nega isso, mas insiste que ela foi justificada
pelas obras, no sentido de que suas ações eram uma prova da sua fé. “Ela cria
em Deus e evidenciou a sua fé pelo transtorno que enfrentou ao receber os
espiões e auxiliá-los a escapar, arriscando a sua própria vida. Certamente,
essa não era uma fé comum!”
4. O Resumo
Conclusivo (2.26).
Semelhantemente a um advogado diante do júri ou um debatedor
diante de um auditório, Tiago apresenta um resumo do argumento que desenvolveu
nos versículos 14 a 25. “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto,,
assim também a fé está morta sem obediência” (v. 26, Weymouth). Quando corpo e
espírito estão separados, ocorre decadência e morte. Similarmente, quando a fé
e suas “obras de obediência” (NT Ampl.) estão separados, a fé morre. Moffatt
observa a relação próxima entre a verdade aqui declarada e o princípio que
Tiago estabelece em 4.17: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz
comete pecado”.
Subsidios elaborado pelo Evangelista; Natalino dos Anjos
Professor da E.B.D. e pesquisador
Dirigente na Congregação do Bairro Novo Horizonte(A.D Missão).
Campo de Guiratinga - Mato Grosso
Pastor Presidente; Pr. Edseu Vieira
Fonte de pesquisa;
Livro Fé e Obras - Ensinos de Tiago para uma vida cristã autentica(Alexandre Coelho e Silas Daniel)
Comentário Bíblico BEACON Novo Testamento
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Fonte de pesquisa;
Livro Fé e Obras - Ensinos de Tiago para uma vida cristã autentica(Alexandre Coelho e Silas Daniel)
Comentário Bíblico BEACON Novo Testamento
Bíblia de Estudo Pentecostal.
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