OS DEZ MANDAMENTOS
C. H. BROWN
INTRODUÇÃO
Tenho
o propósito de considerar aqui o assunto dos dez mandamentos e sua aplicação
moral para o cristão. Mas antes vamos ler algumas passagens das Escrituras:
"Sabendo
que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus
Cristo... Porque eu pela lei estou morto para a lei, para viver para Deus...
Todos aqueles pois que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque
escrito está: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que
estão escritas no livro da lei, para fazê-las. E é evidente que pela lei
ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo vivera da fé. Ora a lei
não é da fé; mas o homem, que fizer estas coisas, por elas viverá... Porque o
pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo
da graça." (Gl 2:16,19; 3:10-12; Rm 6:14).
A
razão pela qual lemos estes versículos é a seguinte: ao considerar o assunto
dos dez mandamentos, é possível que alguns pensem que vou aplicá-los de uma
maneira legalista como se nós, nesta dispensação da graça de Deus, estivéssemos
sob a lei. Não! Nós estamos sob a graça; a pura graça soberana; não há nada
legalista nela.
Lemos
no capítulo 20 de Êxodo a augusta lei de Deus, as "dez palavras" (Êx
34:28 - Almeida Versão Atualizada) dadas aos filhos de Israel, por meio de
Moisés, no monte Sinai. Nosso propósito é identificar a que correspondem essas
"dez palavras" no Novo Testamento. Dos dez mandamentos, oito são
negativos e dois positivos; nove de caráter moral e um cerimonial. A natureza
de Deus é imutável e, como conseqüência, vemos que os nove mandamentos que são
essencialmente de caráter moral têm seu correspondente no cristianismo. Vamos
procurar identificá-los.
O PRIMEIRO MANDAMENTO
O
primeiro mandamento se encontra em Êxodo 20:3: "Não terás outros deuses
diante de Mim". Este encabeça a lista e é fundamental. Era um elemento
essencial da dispensação judaica, e a revelação cristã conserva esta verdade
inviolada. Lemos em 1 Coríntios 8, no final do versículo 4, que "não há
outro Deus, senão um só". Quão clara e inequívoca é esta afirmação! Vamos
ler o versículo 6: "Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de Quem é tudo
e para Quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo Qual são todas as
coisas, e nós por Ele." Quando um "testemunha de Jeová" vier à
sua porta para desafiá-lo quanto à fé que você professa de Cristo como sendo
Deus, leia para ele 1 Coríntios 8:4-6. Confessamos a um só Deus, mas aprouve
Àquele um só Deus revelar-Se em três Pessoas. Filipe rogou ao Senhor Jesus:
"Senhor, mostra-nos o Pai". Quão maravilhosa foi a resposta do nosso
Senhor! "Quem Me vê a Mim vê o Pai... estou no Pai, e o Pai em Mim"
(Jo 14:8-11).
Vamos
ler agora a primeira epístola de João, capítulo 5, versículo 20. "Sabemos
que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é
verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em Seu Filho Jesus Cristo.
Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna". Oh! quão preciso! Estas
declarações são tão resplandecentes como um cristal; JESUS É DEUS. Sim, no
cristianismo conhecemos a um só Deus. Às vezes Ele é manifestado como o Pai, às
vezes como o Filho, e às vezes como o Espírito (compare com Atos 5.3-4). Assim,
no cristianismo, nos achamos de pleno acordo com o primeiro mandamento de Moisés:
"Não terás outros deuses diante de Mim".
O SEGUNDO MANDAMENTO
Voltando
agora a Êxodo 20, lemos o segundo mandamento: "Não farás para ti imagem de
escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na
Terra, nem nas águas debaixo da Terra. Não te encurvarás a elas nem as
servirás: porque Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade
dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que Me aborrecem.
E faço misericórdia em milhares aos que Me amam e guardam os Meus
mandamentos" (Êx 20:4-6). "Não farás para ti imagem". Vamos
agora ler 1 Coríntios 10:14: "portanto, meus amados, fugi da
idolatria". Também o versículo 7: "Não vos façais pois idólatras,
como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber,
e levantou-se para folgar".
Estamos
vivendo numa época que se prepara para a chegada "do homem do pecado"
(2 Ts 2:3). O mundo está prestes a mergulhar na mais temível idolatria, como
jamais se conheceu. Os próprios judeus se entregarão a uma idolatria sete vezes
pior do que a que antes cometiam (Mt 12:43-45). As demais nações do mundo
seguirão o mesmo caminho e esta tendência já se vê hoje em dia. Você já notou o
rápido aumento na comercialização de figuras e estatuetas nas mais diferentes
lojas? Entre elas você encontrará réplicas exatas de ídolos pagãos. Percebe-se
que tudo isso está promovendo a preparação de condições ideais para a adoração
de ídolos e a da imagem da besta (Ap 13).
Quando
o homem não se importa com Deus (Rm 1:28), com o verdadeiro conhecimento de
Deus, como é revelado na Sua Palavra, logo cai na idolatria. Esta tem sido a
história do homem. Por detrás do aparentemente inocente ídolo de barro ou
madeira estão a presença e o sinistro poder de um demônio. Trata-se,
verdadeiramente, de adoração a demônios. Compare 1 Coríntios 10:20 e veja
também Apocalipse 9:20. Encontramos, assim, no capítulo 10 de 1 Coríntios uma
solene admoestação para que nós, cristãos, fujamos de qualquer coisa que possa
ter a aparência de idolatria. Ajoelhar-se diante de imagens não tem nenhum
lugar no cristianismo. Isto que afirmamos está de pleno acordo com o segundo
mandamento.
O TERCEIRO MANDAMENTO
Voltemos
a ler Êxodo, capítulo 20, e desta vez o versículo 7: "Não tomarás o Nome
do Senhor teu Deus em vão: porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o
Seu nome em vão". Vamos ler Tiago 5:12: "Mas, sobretudo, meus irmãos,
não jureis, nem pelo céu, nem pela Terra nem façais qualquer outro juramento;
mas que a vossa palavra seja sim, sim, e não, não; para que não caiais em
condenação".
Quão
plenamente isto comprova o terceiro mandamento mosaico! Não creio que entre
meus leitores esteja alguém que tome deliberadamente o nome do Senhor em vão;
mas notemos que Tiago trata deste assunto como mais do que uma mera proibição,
exortando-nos a que "a vossa palavra seja sim, sim, e não, não; para que
não caiais em condenação". Com isto diante de nós, qual de nós pode dar-se
por inocente? Para poder alcançar plenamente a vitória no assunto de obediência
à Palavra de Deus, devemos fazer da oração de Davi o nosso rogo diário:
"Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação de meu coração
perante a Tua face, Senhor. Rocha minha e Libertador meu!" (Sl 19:14).
Penso
especialmente naqueles que são jovens e na formação de seu vocabulário. Convém,
enquanto jovem, eliminar totalmente do vocabulário toda palavra agressiva, rude
ou profana. Nunca permita que tais palavras sejam ouvidas em sua boca. Devemos
conservar o nosso falar limpo e puro, no lar, na escola, no trabalho, para que
o mesmo possa ser aprovado perante o tribunal de Cristo.
O QUARTO MANDAMENTO
"Lembra-te
do dia do sábado, para o santificar" (Êx 20:8). Tenho que confessar que
não pude encontrar coisa alguma que pudesse ser o correspondente a este
mandamento no cristianismo. Não existe. Lembremo-nos de que a palavra
"shabbat", que significa "repouso", é usada pela primeira
vez em Êxodo 16:23, com relação ao recolhimento do maná pelos filhos de Israel.
Não era para ser recolhido no sábado, o sétimo dia. Este dia foi designado como
um dia de descanso.
Mas
quando entramos na dispensação cristã, ou economia cristã, se preferir, não
encontramos nenhuma instrução para que se observe tal dia. Há apenas uma menção
ao "shabbat" em todo o conjunto de epístolas do Novo Testamento:
"Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos
dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados" (Cl 2:16). Mas preste
atenção para a declaração qualificativa do versículo 17: "Que são sombras
das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo".
Evidentemente,
a única razão de se ter mencionado o sábado foi para mostrar que ele não faz
parte da revelação cristã. Pelo contrário, mostra que foi somente uma sombra do
que havia de vir. Porém quanto ao nosso dia de repouso, sabemos que Hebreus 4:9
diz: "Portanto resta ainda um repouso para o povo de Deus". Não
podemos dizer que o "shabbat" (o descanso) foi trocado pelo domingo.
O "shabbat" sempre foi o sétimo dia da semana; o domingo é o primeiro
dia da semana e, assim sendo, nunca poderia ser o "shabbat". Nós
cristãos esperamos nosso dia de repouso que será quando o Senhor nos levar à
casa de Seu Pai, para que descansemos em Seu amor. O descanso está no final de
uma jornada.
"Mas"
- perguntará alguém - "não seria o domingo, o primeiro dia da semana, o
nosso repouso?". Deveremos responder - "Não!". Então qual é o
lugar que o domingo deve ocupar em nossas vidas? Porventura a própria
expressão, "o dia do Senhor", não responde a esta pergunta? Este dia
pertence ao Senhor e devemos empregá-lo para Ele. É o dia em que nos reunimos
para partir o pão. O termo "o dia do Senhor" aparece no original
apenas uma vez na Bíblia, em Apocalipse 1:10, e pode ser traduzido do grego por
"dia dominical". Poderíamos traduzir o versículo da seguinte forma:
"Eu fui arrebatado em espírito no dia dominical". Encontramos também
a mesma palavra grega no texto relativo à ceia do Senhor, ou, como deveria ser
chamada, a ceia dominical. Acaso não é significativo que o único uso desta
palavra grega "dominical" no Novo Testamento esteja conectado à ceia
e ao dia? Portanto celebra-se a ceia do Senhor no dia do Senhor.
O
dia do Senhor se distingue definitivamente dos demais dias por várias passagens
bíblicas. Nosso Senhor Jesus ressuscitou de entre os mortos no primeiro dia da
semana; Ele apareceu aos Seus discípulos neste dia; tornou a aparecer a eles no
segundo dia do Senhor depois de Sua ressurreição. Notamos que o Espírito Santo
desceu no dia de Pentecostes, que era também o primeiro dia da semana. Os
discípulos se reuniram para partir o pão no primeiro dia da semana. O apóstolo
exortou aos coríntios que cada um separasse sua oferta para os santos pobres no
primeiro dia da semana (1 Coríntios 16:2).
Todas
estas passagens demonstram que no cristianismo o primeiro dia da semana remove
totalmente o "shabbat" judaico. Quão impróprio seria que a igreja de
Deus celebrasse como seu dia aquele durante o qual seu Senhor e Salvador esteve
sob o poder da morte e do sepulcro! Mas quão glorioso é nos reunirmos no
primeiro dia da semana, o dia de Sua vitória sobre o sepulcro! Quão doce e
precioso é dar-Lhe este primeiro dia da semana, o Seu dia!
Gostaria
de dizer algo aos que são jovens. Me entristeço ao ver que muitos estão
empregando o dia dominical para as habituais tarefas cotidianas. Talvez você me
diga que não pensaria em sair de casa no dia do Senhor para cortar a grama do
jardim, ou, talvez, para lavar roupa neste dia. Mas vamos dar uma olhada dentro
de casa. Você talvez seja um estudante, e isto é perfeitamente correto e faz
parte de sua vida. E espero que esteja indo bem com suas tarefas escolares. Mas
- preste atenção - será que suas tarefas escolares são tão importantes ao ponto
de impedi-lo de dispor apropriadamente o dia do Senhor a Ele, a Quem o dia
pertence? Talvez você responda: - Se eu não estudar no dia do Senhor, não
conseguirei tirar a nota que preciso. Talvez não, mas ainda assim, o que é mais
importante para você, uma boa nota ou a aprovação do Senhor? Procuremos, pela
graça de Deus, dar ao Senhor o Seu dia.
Talvez
algum jovem me pergunte: - Bem, como então hei de empregar o dia do Senhor? Eu
sei como alguns de nossos queridos jovens irmãos e irmãs empregam o tempo
disponível no dia do Senhor. Aproveitam várias oportunidades para evangelizar,
em visitas a hospitais e outras instituições para distribuir folhetos e falar
às pessoas individualmente acerca do Senhor ou em pregações ao ar livre. Outros
fazem isto em visitas aos doentes e aos encarcerados. Há ainda alguns que
dedicam uma parte do dia do Senhor para escrever cartas de encorajamento a seus
amigos cristãos, ou talvez a seus parentes e amigos inconversos, enquanto
outros se ocupam em empacotar literatura cristã para ser enviada pelo correio àqueles
que possam ter suas almas auxiliadas por algum folheto ou livreto. Não; não há
nenhum sábado, nenhum dia de repouso para os cristãos, senão um dia em que
podemos estar livres para servirmos ao Senhor. Que o Senhor nos dê uma
consciência terna, para que esse dia seja verdadeiramente o dia que pertence a
Ele.
O QUINTO MANDAMENTO
"Honra
a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o
Senhor teu Deus te dá" (Êx 20:12). Comparando este mandamento com Efésios
6:2-3, vemos que ele é citado palavra por palavra. No cristianismo não se
espera menos dos filhos do que era exigido pela lei. Quão bendito é vermos os
filhos de pais cristãos procurando colocar em prática este pedido da Palavra de
Deus, conforme é dado aqui na epístola aos Efésios. Eles jamais terão ocasião
de se lamentar por terem procurado dar a seus pais esta posição de respeito.
Deus não lhes será devedor pois colherão a Sua benção em suas próprias vidas.
O SEXTO MANDAMENTO
"Não
matarás" (Êx 20:13). Lemos agora em 1 Pedro 4:15: "Que nenhum de vós
padeça como homicida". A norma divina quanto a tirar a vida de outro ser
humano não é menos estrita sob a revelação cristã do que o foi sob o judaísmo.
Não se pode tolerar o homicídio na dispensação cristã.
O
SÉTIMO MANDAMENTO
O
próximo na seqüência é o bem conhecido sétimo mandamento: "Não
adulterarás" (Êx 20:14). Lemos em Hebreus 13:4: "Venerado seja entre
todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém aos que se dão à prostituição e
aos adúlteros Deus os julgará". Logo em 1 Co 6:9-11: "Não sabeis que
os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem
os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os
ladrões, nem os avarentos, nem os bêbedos, nem os maldizentes, nem os
roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm sido, mas haveis sido
lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do
Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus".
Antes
de sua conversão a Deus, alguns daqueles santos de Corinto, aos quais Paulo
estava escrevendo, haviam violado o divino código moral. Mas não é maravilhoso
que Deus tenha encontrado, por meio do sacrifício de Seu amado Filho no
Calvário, um modo de limpar o mais vil de toda mancha do pecado, e fazer dele
um filho de Deus? Somos santificados - separados para Deus - justificados,
considerados como se nunca houvéssemos sido culpados.
Eu
gosto de recordar a definição dada por uma menina para o termo
"justificado". Quando sua professora lhe perguntou qual o significado
da palavra, ela respondeu usando algumas partes da própria palavra:
"Significa que sou JUSTa como se nunca tivesse peCADO." Ela estava
certa. É assim que Deus nos vê. Repare que no versículo 11 toda a Trindade Se
ocupa nesta questão: "mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus
e pelo Espírito do nosso Deus". Não obstante, jamais consideremos
levianamente a gravidade da imoralidade diante dos olhos de Deus. Ele não mudou
nem um pouco Sua atitude desde a Sua solene declaração feita no Sinai.
Escutemos hoje Sua admoestação: "aos que se dão à prostituição e aos
adúlteros Deus os julgará".
Estamos
vivendo os últimos dias, muito próximo do fim da presente dispensação da graça
de Deus. Existe um abandono universal das normas de moralidade. Alguns de nós
que somos mais velhos temos presenciado uma mudança tremenda durante nossa
vida. Talvez alguns daqueles que são mais jovens abriguem a idéia de que a
atual falta de moralidade sempre existiu tal como é no dia de hoje. Não é
assim. Não digo que esses pecados não se cometiam; sim, foram cometidos, mas
antigamente havia uma medida de censura pública contra os tais, e aqueles que
os cometiam eram considerados como pessoas que caíam em desgraça.
Mas
agora, se aceitarmos "Hollywood" como norma, tais violações do código
moral são quase consideradas como insígnias de honra. Esses heróis e heroínas
de Hollywood não perdem sua aceitação nos círculos sociais por causa de sua
conduta. Mas, queridos jovens, lembrem-se enquanto vocês viverem, de que as
normas de Deus nestes assuntos não se modificam nem um pouco sequer. Ele é o
Deus três vezes Santo, que não deixa o pecado impune.
Irmãos,
que não baixemos os marcos delimitadores nestes assuntos. Mantenhamos as normas
exatamente como Deus as estabeleceu e nunca erraremos. Quanto mais tempo
permanecermos neste mundo, mais difícil será para nos mantermos fiéis aos
desígnios de Deus neste assunto tão solene. Deus continua a falar com toda a
autoridade e dignidade de Quem conhece o fim desde o princípio. Sua admoestação
é: "Foge destas coisas" (1 Tm 6:11).
O
OITAVO MANDAMENTO
"Não
furtarás" (Êx 20:15). Vamos ler agora Efésios 4:28: "Aquele que
furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para
que tenha que repartir com o que tiver necessidade". O roubar se condena
tanto na dispensação cristã como na judaica.
A
igreja em Éfeso havia recebido a verdade mais elevada que Deus jamais havia
entregado a assembleia alguma. Deve ter havido uma condição tal que os
qualificava para que fossem os depositários de tão maravilhosa verdade. Mas
ainda assim, após os assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus, Deus tem
que descer o teor da epístola ao nível humilhante da carne que havia neles, e
passar a falar-lhes a respeito do ato de roubar. Tal é o homem!
A
lei só fez a proibição: "Não furtarás". Mas o cristianismo sobrepuja
a isso e insiste que devemos trabalhar, fazendo o que é bom, para podermos dar
ao que padece necessidade. Quão formoso! Porém note-se, é o fazer o que é bom.
Ganhar o pão com o trabalho não é por si só fazer o que é bom. Será que você
está fazendo o que é bom, isto é, aquilo que tem a aprovação de Deus?
Conhecíamos
um irmão em Cristo, que agora já está com o Senhor, que antes de se converter
era balconista em um bar. Ganhava seu pão cotidiano honestamente com seu
trabalho. Mas depois de entregar-se ao Senhor, se deu conta de que não fazia o
que era bom; buscou outro emprego e o achou. Não roubemos, é o lado negativo.
Para que tenhamos o que dar, façamos o que é bom; este é o lado positivo no
cristianismo. Você sabe que a Palavra de Deus fala dos santos pobres e que não
há nada que possa ser considerado biblicamente incoerente nestas duas palavras:
"santos" e "pobres". Então tenhamo-las presentes em nossa
memória para assim cumprirmos a vontade de Deus.
O
NONO MANDAMENTO
"Não
dirás falso testemunho contra o teu próximo" (Êx 20:16). O que equivale a
isto encontra-se em Efésios 4:25: "Pelo que deixai a mentira, e falai a
verdade cada um com o seu próximo". Notemos também em Romanos 13:9-10:
"Não darás falso testemunho... O amor não faz mal ao próximo. De sorte que
o cumprimento da lei é o amor". A demanda cristã neste assunto é igual à
da lei, porém sobrepuja em muito as exigências da lei, e manifesta o amor ao
próximo.
O
DÉCIMO MANDAMENTO
"Não
cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o
seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma
do teu próximo" (Êx 20:17).
Agora
vamos ler Hebreus 13:5: "Sejam vossos costumes sem avareza,
contentando-vos com o que tendes; porque Ele diz: não te deixarei, nem te
desampararei". O décimo mandamento foi o que matou o apóstolo Paulo. Ele
parecia ser capaz de atender aos outros nove, mas reconheceu: "eu não
conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se
a lei não dissesse: Não cobiçarás... Mas o pecado, tomando ocasião pelo
mandamento, me enganou, e por ele me matou" (Rm 7:7-11). Paulo descobriu o
que todos nós descobrimos: que cobiçar é tão natural quanto respirar. Porém a
verdade revelada do cristianismo condena a cobiça não menos severamente do que
o fez a lei de Moisés.
Quantas
tragédias funestas temos visto entre os santos de Deus, que sacrificaram tudo
para prosperar neste mundo! A cobiça é egoísmo. "Contentando-vos com o que
tendes". Isto, obviamente, não quer dizer que se você está vivendo hoje em
pobreza terá que viver sempre nela; não, não se trata disso. O significado
desta exortação é que deveríamos nos sujeitar às nossas circunstâncias, e
estarmos contentes nelas até ao tempo quando aprouver a Deus alterá-las. Em
outras palavras, não fique o tempo todo a se lamentar porque as coisas não
estão como você gostaria que fossem. Não viva gemendo e se queixando; esteja
contente. E se aprouver a Deus melhorar suas circunstâncias atuais, dê-Lhe
graças por isso.
"Mas
é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo,
e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que
nos cobrirmos, estejamos com isto contentes. Mas os que querem ser ricos caem
em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que
submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de
toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se
traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, oh homem de Deus, foge
destas coisas" (1 Tm 6:6-11).
Quão
verídica é a Palavra de Deus! Acaso não temos visto todas estas afirmações das
Escrituras confirmadas na vida dos santos? Às vezes nossos jovens acham que
devem buscar alcançar o nível de vida que vêem nos outros. O resultado disso é
a cobiça de uma coisa após outra. A verdade é que o fato de vivermos na época
mais próspera que o mundo jamais conheceu tem contribuído para acelerar o
desejo de querermos sempre mais. Quanto mais tivermos, mais vamos querer ter.
Não há limite. Mas, quão diferente é o Espírito de Cristo! O de dar, e não o de
conseguir. Assim nos ensinou: "Mais bem-aventurada coisa é dar do que
receber" (At 20:35).
Porém
não estou dizendo que devemos dar tudo o que temos. Houve apenas um homem, que
é mencionado na Bíblia, a quem o Senhor deu esse conselho - o jovem rico de
Lucas 18. E disse isso para que ele se desse conta do câncer que lhe corroía a
própria alma - a cobiça. Não, irmão, as possessões terrenais não constituem o
segredo da felicidade. A felicidade é um estado de espírito. É o desfrutar da
Pessoa e Obra de Cristo que conserva o coração em descanso e paz. Tenho
encontrado pessoas, santos de Deus, que nada possuem das coisas deste mundo, e
ainda assim irradiam felicidade. Eles têm Cristo.
Em
resumo, no cristianismo não estamos sob a lei, porém sob a graça. Não estamos
sob a letra dos dez mandamentos. Estamos sob o seu equivalente moral ensinado
nas epístolas, exceto no caso do único mandamento que era cerimonial, ou seja,
o shabbat. Não existe nada que tenha o seu equivalente no cristianismo. Os
outros nove mandamentos - quanto ao seu conteúdo moral - nós os temos, porém
não da forma de "fareis" e "não fareis", porém como a
expressão da nova natureza que temos, como nascidos de Deus. Jamais nos
lamentaremos se assim os respeitarmos. Será para nosso bem agora e por toda a
eternidade. A justiça da lei será cumprida em nós (Rm 8:4). Assim o fruto do
Espírito será produzido em amor para com Deus e para com todos que são nascidos
de Deus. "O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei
é o amor" (Rm 13:10).
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