Lições Bíblicas CPAD
- Jovens e Adultos
3º Trimestre de 2014
Título: Fé e Obras —
Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva
Lição 5: O cuidado ao falar e a Religião pura
Data: 03 de Agosto de 2014
TEXTO ÁUREO
“[...] Mas todo o
homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg
1.19).
VERDADE PRÁTICA
As nossas palavras
podem, ou não, evidenciar a sabedoria de Deus.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Êx 19.5 Ouçamos
a voz do Senhor
Terça - Ec 3.7 Tempo
de falar e de calar
Quarta - Ef 4.26,29 A
ira é uma porta para o pecado
Quinta - 1Pe 1.23-25 Gerados
em amor pelo poder da Palavra
Sexta - Sl 68.5 Deus
é Pai dos órfãos e juiz das viúvas
Sábado - Ef 1.3-6 Santos
e irrepreensíveis em amor
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tiago 1.19-27.
19 - Sabeis isto,
meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar,
tardio para se irar.
20 - Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.
21 - Pelo que, rejeitando toda a imundícia e acúmulo de
malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a
vossa alma.
22 - E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes,
enganando-vos com falsos discursos.
23 - Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não
cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural;
24 - Porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se
esqueceu de como era.
25 - Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da
liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra,
este tal será bem-aventurado no seu feito.
26 - Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia
a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã.
27 - A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é
esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da
corrupção do mundo.
INTERAÇÃO
Ouvir não é uma
atitude fácil. Demanda tempo, paciência, perseverança e concentração. O ato de
ouvir é uma obra doadora. Quem ouve uma pessoa, doa o seu tempo e a sua
atenção. A princípio, quem ouve pode aparentar uma atitude passiva, mas na
verdade esta pessoa realiza uma intensa atividade de pensar e de raciocinar. E
tratando-se da Palavra de Deus, a atividade intensa de alimentar a própria
alma. Então, quando o crente abrir a sua boca para falar, falará de maneira
sábia e poderosa. Portanto, as Escrituras nos aconselham a ouvir mais e a falar
menos; para quando articularmos as palavras, o fazermos com autoridade e
coerência.
OBJETIVOS
Após esta aula, o
aluno deverá estar apto a:
Aprender sobre estar “pronto para ouvir” e “tardio para
falar”.
Compreender a importância de ser praticante, e não só
ouvinte.
Saber qual é a religião pura e verdadeira.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado professor,
para concluir a lição desta semana, reproduza a seguinte pergunta na lousa: “O
que é religião?”. Peça aos alunos para responderem à pergunta. Ouça-os com
atenção. Em seguida, de acordo com o auxílio da palavra-chave, defina para a
classe o termo “religião”. Logo depois, leia com os alunos Tiago 1.27 e
explique o valor da verdadeira religião de acordo com o ensinamento de Tiago, o
meio-irmão do Senhor. Conclua a lição afirmando que a verdadeira religião em
Deus não consiste em ritual e regra humana, mas em vida de amor a Deus e ao
nosso próximo. Boa aula!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Religião: Geralmente caracteriza-se pela crença na
existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o
destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência.
Na lição dessa semana
vamos estudar a maneira adequada de o crente usar um instrumento maravilhoso,
mas ao mesmo tempo, potencialmente perigoso: a fala. Este assunto está
interligado à temática da verdadeira religião que agrada a Deus. O fenômeno da
fala é uma das fontes de expressão do pensamento humano, como também é
responsável pelo processo de comunicação e de formação da identidade cultural
de uma sociedade. As pessoas querem falar às outras aquilo que pensam. O
crente, todavia, tem o compromisso de não apenas falar o que pensa, mas agir
como propõe o Evangelho.
I. PRONTO PARA OUVIR E TARDIO PARA FALAR (Tg 1.19,20)
1. Pronto para ouvir.
Para alguns crentes, a pessoa sábia é a que sempre tem algo a falar. Ouvir é um
empreendimento trabalhoso e, por isso, ignorado por muitos. Diferentemente, as
Escrituras admoestam-nos a ser prontos para ouvir. No versículo 19, Tiago
introduz o seu ensino sobre o “ouvir” e o “falar” destacando a expressão sabei
isto. Com essa expressão, ele demonstra a sua preocupação pastoral com os seus
leitores. Outro termo no versículo 19 chama-nos a atenção: pronto. No grego, a
palavra significa “rápido”, “ligeiro” e “veloz”. Ali, o escritor sacro
incentiva-nos a estar disponíveis a ouvir. É uma atitude que depende de uma
disposição e também da decisão em ouvir o outro. A exemplo do profeta Samuel,
que desde a sua infância foi ensinado a ouvir a voz divina (1Sm 3.10; 16.6-13),
o povo de Deus deve persistir em escutar os desígnios do Pai, pois nesses
últimos dias tem Ele falado através do seu Filho, o Verbo Vivo de Deus (Hb 1.1;
cf. Jo 1.1).
2. Tardio para falar. Quem ouve com atenção adquire a rara
capacidade de opinar acerca de qualquer assunto. É justamente por isso que a
Carta de Tiago exorta-nos a ser tardios para falar (v.19). Uma palavra dita sem
pensar, fora de tempo, e sem conhecimento dos fatos, pode provocar verdadeiras
tragédias. Quem nunca se arrependeu de ter falado antes de pensar? Diante de
Faraó, o imperador do Egito Antigo, o patriarca José aproveitou sabiamente um
momento ímpar em sua vida. Antes de responder às perguntas sobre os sonhos do
monarca, José as ouviu e refletiu sobre elas. Em seguida, orientado pelo Senhor,
respondeu sabiamente Faraó (Gn 41.16). Temos de aprender a refletir sobre o que
vamos dizer e falar no tempo certo. Pese bem as palavras, e ore como o rei
Davi: “Põe, ó SENHOR, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios”
(Sl 141.3).
3. Controle a sua ira. Uma terceira admoestação encontrada
no versículo 19 da carta de Tiago expressa o seguinte: tardio para se irar. A
ira é um profundo sentimento de ódio e rancor contra a outra pessoa. Uma vez
descontrolada, ela não produz a justiça de Deus, mas uma justiça segundo o
critério da pessoa que sofreu o dano: a vingança. A Palavra de Deus não proíbe
o crente de ficar indignado contra a injustiça (Is 58.1,7; Lc 19.45). Contudo,
ao mesmo tempo, a Bíblia estabelece limites para o nosso temperamento não se
achar irrefletido, descontrolado, deixando-nos impulsivamente irados (Ef 4.26;
Pv 17.27). O cristão, templo do Espírito Santo, tem de levar a sua mente cativa
a Cristo (2Co 10.5) e manifestar o fruto do Santo Espírito: o domínio próprio
(Gl 5.22 — ARA). Fuja da aparência do mal. Tenha autocontrole.
SINOPSE DO TÓPICO (I)
À luz da Palavra de
Deus aprendemos que o crente deve ser tardio para falar e pronto para ouvir.
Por isso, a ira é um sentimento que deve ser controlado pelo crente.
II. PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1.21-25)
1. Enxertai-vos da
Palavra (v.21). A Palavra de Deus é o guia maior do crente. E para que a
Palavra atinja efetivamente o coração do servo de Deus, este precisa acolhê-la
com pureza e sinceridade. Isto é, firmar uma posição radical rejeitando toda a
imundícia e a malícia mundana (v.19); recebendo o Evangelho com mansidão e
sobriedade. Leia os Evangelhos! Persiga em conhecer a mensagem divina de Cristo
Jesus, mas, igualmente, abra o coração para ouvir a voz do Senhor.
2. Praticai a Palavra (vv.22-24). O escritor sacro não tem
interesse em que o leitor da epístola apenas acolha a Palavra no coração, antes
deseja que o crente a pratique (v.22). Não pode haver incoerência entre o que
se “diz” e o que se “faz” para quem é discípulo de Jesus. Se amar a Deus e ao
próximo são os maiores dos mandamentos, então, devemos porfiar em vivê-los.
Quem acolhe a Palavra rejeita tudo o que é imundo, maligno, perverso, injusto,
dissimulado, insincero. Não apenas isso, mas igualmente abre a porta do coração
para “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o
que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama” (Fp 4.8). Do
contrário, seremos identificados com o homem que contempla a própria imagem no
espelho e depois se retira esquecendo-se completamente dela. Há pessoas que
olham para o Evangelho e ouvem, mas sem memória e perseverança, não dão nenhuma
resposta ou sequência ao chamado de Jesus Cristo (vv.23,24). Deus nos livre
desse engodo!
3. Persevere ouvindo e agindo (v.25). Tiago conclui este
ponto da epístola da seguinte maneira: Quem é cuidadoso para com a lei, nela
persevera; não apenas ouvindo-a negligentemente, mas praticando-a zelosamente.
Felicidade plena em tudo é a promessa para quem ousa viver o Evangelho cônscio
das implicações espirituais e das consequências materiais. Alguém, um dia,
disse que os evangélicos são poderosos no discurso, mas fracos na prática do
mesmo discurso. Falamos, mas não vivemos! Precisamos analisar nossa vida em
amor e sinceridade. Entremos na presença de Deus com o rosto descoberto,
coração rasgado e alma despida. No tempo em que vivemos não dá para passar
despercebidos na dissimulação, ou seja, fingindo ser algo que na verdade não
somos.
SINOPSE DO TÓPICO (II)
O crente deve
encher-se da Palavra, praticar a Palavra e perseverar na Palavra.
III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1.26,27)
1. A falsa
religiosidade. Apesar de algumas pessoas se considerarem religiosas por
frequentarem um templo, as Escrituras revelam o significado da verdadeira
religião. Ela reprova todo o ativismo religioso feito em “nome de Deus”, mas em
detrimento do próximo. Aqui, a língua do crente tem um papel importante. Tiago
diz que é possível enganar o próprio coração quando deixamos de refrear a nossa
língua. Ora, o coração é a sede dos desejos, dos sentimentos e das vontades. E
a boca só fala daquilo que o coração está cheio (Mt 12.34). É incompatível com
o Evangelho, viver a graça de Deus sem mergulhar no Reino dEle. Quem não se
entrega inteiramente ao Senhor pratica uma religião vã e falsa. Não podemos ser
como a pessoa capaz de fazer uma belíssima oração por um faminto, e depois
despedi-lo sem lhe dar um único grão de arroz.
2. A verdadeira religião (v.27). A religião pura, santa e
imaculada, de acordo com o autor sacro, é suprir a necessidade do próximo:
“Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações”. O problema hoje é que a
nossa atenção, quase sempre, está voltada para o prazer pessoal. Temos os olhos
fechados para os necessitados que na maioria das vezes cultuam a Deus,
assentados, ao nosso lado. Lembremo-nos da vida de Jesus Cristo! Ele não apenas
olhou para os marginalizados, mas foi até eles e os acolheu em amor (Mt
25.35-45). A religião que agrada a Deus é aquela cujos discípulos professam e
bendizem o seu nome, visitando e acolhendo os necessitados nas aflições.
3. Guardando-se da corrupção (v.27). Além de recomendar a
obrigatoriedade de visitarmos os órfãos e as viúvas, a Epístola de Tiago
menciona outro aspecto da verdadeira religião: guardar-se da corrupção do
mundo. A religião falsa está mergulhada no egoísmo, na corrupção e nos
interesses maléficos do sistema pecaminoso. A igreja deve manter-se longe da
corrupção. Estamos no mundo, mas não fazemos parte do seu sistema! O Evangelho
nada tem com os seus valores e preceitos. Portanto, não flerte com o modo
corrupto de viver do mundo (Tg 4.4). Amemos e desejemos o Evangelho de todo o
nosso coração.
SINOPSE DO TÓPICO (III)
A verdadeira religião
está em olharmos para o necessitado, irmos até ele e acolhê-lo.
CONCLUSÃO
Nessa semana
aprendemos sobre o cuidado que devemos ter com o ouvir e o falar. Estudamos
também acerca da religião pura e imaculada que alegra a Deus: visitar os órfãos
e as viúvas nas tribulações e guardarmo-nos da corrupção do mundo. Que os
nossos ouvidos estejam prontos para ouvir, a nossa língua para falar sabiamente
e a nossa vida para praticar tudo quanto aprendemos do Evangelho. Embora
estejamos em um mundo turbulento, devemos exalar o bom perfume de Cristo por
onde formos (2Co 2.15).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
RICHARDS, Lawrence O.
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição, RJ: CPAD, 2007.
STRONSTAD,
Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. 2ª Edição, RJ: CPAD, 2004.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio
Histórico-Cultural
“Se alguém é ouvinte
da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o
seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu
de como era (1.23,24). O verbo traduzido como ‘contempla’ é katanoounti, que
indica ‘um escrutínio atento’. Esta pequena alegoria descreve uma pessoa que
encontra um espelho e olha intensamente para si mesma.
A alegoria depende de uma questão simples. Por que as
pessoas olham-se no espelho? Embora alguns possam simplesmente desejar
admirar-se, na maioria dos casos nós olhamos no espelho para guiar nossos atos.
Como devo pentear o meu cabelo? Meu rosto está sujo? E nós agimos com base no
que vemos. Mas o que acontece se olharmos com atenção, e nos afastarmos,
simplesmente esquecendo a sujeira em nosso rosto, ou aquela mecha que fica em
pé de maneira tão selvagem? Então o espelho terá provado ser totalmente
irrelevante e nosso exame completamente sem significado. Da mesma maneira,
Tiago argumenta que olhar para a Palavra de Deus e não agir de acordo com o que
vemos ali significa que o que encontramos nas Escrituras não tem significado
para nós. Não é a pessoa que conhece o que diz a Bíblia que é abençoada, mas
sim a pessoa que faz o que a Bíblia diz.” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição, RJ: CPAD, 2007, p.514).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio Teológico
“A Religião Pura e Imaculada
(1.26,27). Fazendo eco com seu conselho anterior de ser ‘tardio no falar’
(1.19), e antecipando discussões mais detalhadas do discurso humano que
aparecerão posteriormente (3.2-12; 4.11-16), Tiago revela, nesse ponto, que um
dos sinais para se saber se o comportamento religioso de alguém é ou não
agradável a Deus, é a capacidade de ‘manter a língua sob rédeas curtas’.
Nesse conselho ele inclui a proibição contra discursos
vulgares ou mal intencionados, porém os dois exemplos de discurso impróprio,
colocados imediatamente após essa declaração, ilustram outras ofensas da
linguagem humana que devem ser refreadas pelos cristãos.
Os crentes devem estar seguros de que suas palavras e suas
ações sejam consistentes umas com as outras. Tiago ilustra esse problema, ao
lembrar a seus leitores que já ofenderam a honra das pessoas que estão a seu
lado, e que também acreditam que Deus está especialmente preocupado com o uso
de uma linguagem que mostre favoritismo dentro da comunidade da fé, o que
destrói a unidade da vontade de Deus (2.1-5).
O discurso humano tanto pode ser usado como sinal dos
cuidados de uma piedade religiosa como serve até de pretexto para a falta da
prática daqueles atos que Deus poderia desejar (2.15,16). Assim, os crentes
deveriam falar apenas daquilo que estão desejosos de colocar em prática: devem
‘praticar o que pregam’, e não cair em ‘vazios religiosos’. Uma pessoa que não
controla sua língua, seu modo de falar, engana a si próprio, e sua religião não
serve para nada (v.26).
[...] Aos olhos de Deus, uma religião pura e imaculada tem
tanto a ver com o que fazemos como com o que deixamos de fazer. Em parte por
ter suas raízes nos movimentos de renovação da santidade, em parte por causa de
sua rejeição ao ‘movimento do evangelho social’ do início do século vinte, os
pentecostais foram rápidos em realçar a santidade das pessoas e lentos ao se
pronunciar a respeito da responsabilidade social. Tiago nos lembra que isso não
é uma questão de ‘fazer isto ou aquilo’ mas de fazer ‘tanto isto como aquilo’”
(STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal
Novo Testamento. 4ª Edição, RJ: CPAD, 2004, pp.1669,70).
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
O cuidado ao falar e
a Religião pura
Há na atualidade
pouca disposição em se ouvir, estudar, entender, compreender para expor um
assunto. Não! Muitos querem falar sobre tudo. Ainda não se tem a maturidade
intelectual e querem sair por aí questionando e opinando sobre todos os temas.
Ouvir é uma arte. Quando se ouve alguém, quer através da
comunicação verbal, escrita ou oral, quer através da comunicação não verbal,
admiti-se a possibilidade de aprender para conhecer. Como ensinar se não
aprendemos? Espera-se de quem fala sobre um assunto o mínimo do conhecimento
necessário a respeito do tema proposto.
Professor, você deve ter lido livros sobre como melhorar uma
Escola Dominical. As dicas são muitas: Marketing, café da manhã entre
professores, café da manhã trimestral; passeio no parque etc. Mas uma questão
fundamental quase nunca focada é o bom planejamento da aula do professor. Ou
seja, se o professor não tiver conteúdo de nada adiantarão fazer cafés,
passeios e marketing para desenvolver a ED. Mas para se ter conteúdo é preciso
estar disposto a ouvir. Este é o ensino central desta seção bíblica de Tiago.
Nas seções anteriores (1.2-18) o assunto central era a
necessidade de pedirmos a sabedoria do alto. Na seção atual o escritor disseca
mais sobre como devemos usar esta sabedoria na comunidade cristã ou fora dela.
Os crentes deveriam se apresentar coerentes com o Evangelho. Na concepção do
meio-irmão do Senhor é impossível que o discípulo de Cristo tenha um
comportamento dobre. De que adianta falar “Deus Pai Todo-Poderoso” e não viver
segundo a vontade de Deus Pai? Não é o discurso que determina quem somos, mas a
nossa ação.
Vivemos uma geração do discurso vazio: “Tudo posso!”, “Sou
mais que vencedor”, “É só vitória!”. Mas estas palavras não passam de discursos
pobres, desprovidos de uma consciência oriunda do Evangelho. As pessoas não
saberão o tipo de fé ou sabedoria que tem pelo seu discurso, mas pelas suas
ações. Se elas falam na hora certa; do modo certo; se em tudo o que fazem
aparece o respeito, a ternura, o amor. Virtudes estas intensamente comunicadas
ao homem pelo Evangelho. Primeiro ouçamos com atenção! Depois falemos!
SUBSIDIOS
Elaboração: Escriba Digital
Palavra Chave
Religião: Neste livro são crenças e práticas relacionadas à
convicção de que há algo ou alguém superior ao ser humano individual, uma
devoção a tudo que é considerado sagrado, que unem seus seguidores numa mesma
comunidade moral, chamada Igreja.
INTRODUÇÃO
Muitos cristãos
precisam parar de se enganar. A ênfase desta lição é sobre o engano próprio.
“Enganando-se a si mesmo” (Tg 1.22 — NVI); “engana-se a si mesmo” (Tg 1.26). Se
um cristão peca porque Satanás o engana, é uma coisa. Mas se o cristão engana a
si mesmo, a questão é muito mais séria.
Muita gente engana a si mesma convencendo-se de que tem a
salvação, quando, na verdade, pode ser que não tenha (Ver Mt 7.22,23). No
entanto, há cristãos autênticos que enganam a si mesmos com respeito à sua vida
com Deus. Pensam que são espirituais, quando, na verdade, não o são. Uma das
características da pessoa madura é a capacidade de olhar para si mesma com
honestidade, conhecer a si mesma e reconhecer suas necessidades.
A realidade espiritual é resultante de um relacionamento
correto com Deus por meio de Sua Palavra. A Palavra de Deus é verdade (Jo
17.17), e se nos relacionamos corretamente com a verdade de Deus, não é
possível ser desonestos nem hipócritas. Nestes versículos, Tiago afirma que
temos três responsabilidades para com a Palavra de Deus e, se cumprirmos as
três, teremos uma vida cristã bem melhor, e não apenas uma religião aparente.
I. PRONTO PARA OUVIR E TARDIO PARA FALAR (Tg 1.19,20)
1. Pronto para ouvir.
A comunicação é a chave para um relacionamento saudável. Dependendo da maneira
como nos comunicamos, podemos dar vida ou matar um relacionamento. No século da
comunicação virtual, estamos cada vez mais próximos das máquinas e mais
distantes das pessoas. O verdadeiro crente deve saber se controlar tanto verbal
quanto emocionalmente. Deve saber lidar com a palavra e também com a ira.
Analisaremos o conselho de Tiago.
Em primeiro lugar, ele deve ser pronto para ouvir (1.19a). O
termo “pronto”, no grego, é táxys, de onde vem nossa palavra táxi (rápido). O
táxi é um carro de serviço. Ele deve estar sempre disponível. Seu objetivo é
atender o cliente, sempre. Se vamos usar um táxi, é porque temos pressa. Não
podemos esperar.
Assim ocorre também com a comunicação. Devemos ter rapidez
para ouvir. Zenão, o pensador antigo, dizia: “Temos dois ouvidos, mas apenas
uma boca; assim podemos escutar mais e falar menos”. Temos de considerar ainda
que nossos ouvidos são externos, mas nossa língua está amuralhada de dentes. E
preciso que estejamos prontos para ouvir a voz de Deus, a voz da consciência, a
voz de nosso próximo. Hoje estamos perdendo o interesse em ouvir, e o resultado
disso é a família em desarmonia, é a sociedade fragmentada. Se nós estivéssemos
prontos para ouvir, com a mesma disposição que estamos prontos a falar,
certamente haveria menos ira e mais encontros abençoadores e saudáveis entre
nós.
Ouvir é uma arte difícil de se dominar, pois significa ter
um forte interesse pela pessoa que está falando. Ouvir é a arte de fechar a
boca e abrir os ouvidos e o coração. Ouvir é amar o próximo como a si mesmo:
suas preocupações e problemas são importantes o suficiente para serem ouvidos.
“O que guarda a sua boca conserva a sua alma, mas o que
muito abre os seus lábios tem perturbação” (Pv 13.3). “Tens visto um homem
precipitado nas suas palavras? Maior esperança há dum tolo do que dele” (Pv
29.20). “Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira abriga-se no
seio dos tolos” (Ec 7.9). A pessoa verdadeiramente sábia e piedosa nas
Escrituras não é a que sempre tem algo a dizer, mas é a pessoa que ouve os
outros, que considera tudo em espírito de oração e só então fala em termos
moderados.
Precisamos também ouvir o que a palavra de Deus tem a nos
dizer, caso contrário o Eterno não opera em nossa vida a menos que possamos dar
ouvidos a Sua Palavra. Jesus não disse apenas “Considerem atentamente o que
vocês estão ouvindo” (Mc 4.24 — NVI), mas também “Vede pois como ouvis” (Lc
8.18). Muitas pessoas encontram-se na triste situação em que “vendo, não veem;
e, ouvindo, não ouvem nem compreendem” (Mt 13.13).
2. Tardio para falar. Em segundo lugar, ele deve ser tardio
para falar (1.19b). Para ouvir eles deveriam ser rápidos e dispostos, mas para
falar deveriam ser tardios. Precisamos estar atentos sobre o que falamos, como
falamos, quando falamos, com quem falamos e por que falamos. John MacArhur Jr.
comenta sobre essa questão do muito falar: “É estimado que, em média, as
pessoas falam 18.000 palavras em um dia, o suficiente para preencher 54 páginas
de um livro. Em um ano, esse montante será suficiente para preencher 66 volumes
de 800 páginas!... Assim, em média, as pessoas passam um quinto de seu tempo de
vida falando”.
A palavra “tardio”, no grego, é brádys. Essa palavra dá a
ideia de uma pessoa que tem dificuldades intelectuais para compreender logo de
início o que lhe foi dito; e necessita, portanto, de tempo para reflexão. O que
Tiago quer dizer é que devemos refletir primeiro, e não falar de imediato. É
preciso saber a hora de falar e também o que falar. O que temos a dizer é
verdadeiro? E oportuno? Edifica? Transmite graça aos que ouvem?
Geralmente falamos antes de pensar, de ouvir, de orar, de
medir as consequências. Devemos ter muito cuidado com isso, pois: “A morte e a
vida estão no poder da língua...” (Pv 18.21). As palavras podem dar vida ou
matar.
Há um provérbio inglês que diz: “Tu és senhor da palavra não
dita; a palavra dita é teu senhor”. Por isso, Davi orava a Deus e pedia: “Põe,
ó Senhor, uma guarda à minha boca: guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141.3).
Sócrates dizia que precisamos sempre passar nossas palavras por três peneiras:
é verdade?; é com a pessoa certa?; é oportuno?
3. Controle a sua ira. Em terceiro lugar, ele deve ser
tardio para irar-se (1.19). Novamente encontramos o termo brádys. Tiago está
dizendo que a ira deve ser tratada com reflexos lentos. A maior demonstração de
força está no autodomínio, e não no domínio sobre os outros. “Melhor é o
longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma
uma cidade” (Pv 16.32). Em geral, a ira humana é desgovernada, destruidora e
pecaminosa. É obra da carne, e não opera a justiça de Deus.
Há dois perigos com respeito à ira: primeiro, a explosão da
ira, ou seja, o temperamento indisciplinado. Segundo, a implosão da ira, ou
seja, o temperamento encavernado. Uns atacam e quebram tudo à sua volta quando
estão irados. Outros guardam a ira e levam-na para o seu interior. Mas essa
fera enjaulada destrói tudo por dentro: a saúde, a paz e a comunicação com Deus
e com o próximo.
Precisamos aprender a lidar com nossos sentimentos. Um
indivíduo temperamental provoca grandes transtornos na família, no trabalho, na
igreja e na sociedade. Muitas pessoas tentam encobrir seus pecados dizendo que
são sinceras, que não levam desaforo para casa e que, depois de explodirem,
tudo volta à normalidade. O problema é que, na explosão da ira, elas jogam
estilhaços para todos os lados. Alguém que não tem domínio próprio fere e
machuca quem está ao seu redor. Por outro lado, o congelamento da ira é um mal
terrível. Há muitos que ficam como um vulcão em efervescência. Estão em
aparente calma, mas as lavas incandescentes lhes queimam por dentro. A mágoa
produz grandes transtornos. Onde ela prevalece, reina a doença, e Satanás acaba
levando vantagem (2Co 2.11).
II. PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1.21-25)
1. Enxertai-vos da
Palavra (v.21). Nestes últimos tempos, o Senhor tem derramado Sua Palavra em
profusão. Você tem recebido muito. Mas é o momento de se perguntar: “Como tenho
recebido tudo isso?”. O que o Senhor lhe dá é sempre precioso, uma semente boa
que tem em si toda a capacidade de gerar frutos. Que tipo de terreno tem sido
seu coração? O próprio Jesus se preocupa com isso. Então, apresenta a Parábola
do Semeador (ver Mt 13.4-9).
É o momento de se perguntar: “Que tipo de terreno tenho
sido?”. Existe aquele terreno que acolhe a Palavra, mas não a retém, não a
guarda, recebe a Palavra apenas festivamente (com leviandade), mas não a acolhe,
não tem profundidade. Então, o que acontece? Lá está o demônio, girando em
torno dele, querendo arrancar-lhe a semente da Palavra. O demônio age sempre
assim, não quer que a Palavra caia em seu coração e produza frutos em sua vida.
Como ave faminta, procura sempre arrebatar a semente quando ela começa a
frutificar.
Há outro tipo de terreno: o solo pedregoso. A Palavra caiu e
você a acolheu com alegria, mas não a deixou que fincasse raízes. O próprio
Jesus explica essa inconstância: sobrevindo uma dificuldade, um problema, uma
tribulação ou perseguição por causa dela [Palavra], logo você a deixa. E como
temos agido assim! Parece que não temos força nenhuma, nem qualquer coragem,
somos cristãos sem fibra, sem têmpera, pensando que Deus Pai deve nos tratar como
“filhinhos de papai”, retirando todas as dificuldades e os problemas do nosso
caminho. Diante da primeira tribulação, somos já terreno pedregoso, onde a
Palavra não pode fincar raízes.
Outro tipo de terreno é aquele cheio de espinhos. Você ouviu
bem a Palavra, com alegria, recebeu, acolheu, mas os cuidados do mundo e a
sedução das riquezas a sufocam e a tornam infrutuosa. Infelizmente, isso tem
acontecido com muita gente! Recebem a Palavra, passam pela conversão, são
batizados no Espírito Santo, os dons afloram... mas os cuidados deste mundo, os
trabalhos, os afazeres, as riquezas, o conforto, o comodismo, os compromissos
sociais e tantas outras coisas vão sufocando a graça recebida e tudo vai
embora.
Muitos cristãos começaram bem, caminharam por um bom tempo,
mas não abriram mão da vida que viviam, do caminho que estavam trilhando.
Quiseram ser cristãos, mas ao mesmo tempo, viver a vida antiga. Então, tudo que
receberam se esvaziou. Os compromissos sociais, as reuniões, as festas, o
conforto, a necessidade de ter mais dinheiro, a necessidade de seguir a moda,
tudo isso foi sufocando a Palavra, a graça, o Espírito Santo com Seus dons e
frutos... e tudo se foi. Será que você não tem sido esse terreno?
Por fim, Jesus fala da semente caída num terreno bom. Ele
nem fala de um terreno especial, mas de um terreno bom em que a semente caiu e
frutificou. Um terreno que acolheu a Palavra e produziu frutos. É preciso que
sejamos assim!
Você tem recebido muito, graças a Deus! O Senhor está
investindo em você. Não desperdice a graça tão abundante que tem sido derramada
em sua vida.
2. Praticai a Palavra (vv.22-24). “E sede cumpridores da
palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos” — essa
exortação diz respeito ao cidadão que se autocongratula pelo elevado
conhecimento que tem das Escrituras e pelo domínio das tradições apostólicas
concernentes a Jesus. Não é que tal pessoa tenha falhado, deixando de aprender
o ensino apostólico. Esse irmão pode ser erudito nas Escrituras, um “escriba”
especializado nas palavras de Jesus. Todavia, representa os que são somente
ouvintes. Pouco importa a tremenda extensão do conhecimento escriturístico do
crente e quão espantosa sua memória: se isso é tudo que há, não passa de
auto-engano.
“Sede cumpridores da palavra” — este é o ponto crucial. O
que vale é o que o crente faz, não o que ele sabe. O verdadeiro conhecimento
serve de prelúdio à ação; no fim, o que conta é a obediência à palavra.
Tendo declarado sua tese no versículo anterior, Tiago agora
ilustra a posição dos somente ouvintes com uma metáfora tirada da vida diária.
Eles são como a pessoa que pela manhã examina seu rosto ao espelho. Cuidou da
barba, o cabelo está bem penteado, ou a maquiagem foi bem aplicada. Nesse
momento, contemplar-se a si próprio no espelho é ocupação que lhe toma tempo.
Contudo, terminadas as abluções e os cuidados matinais, cessa toda atenção à
aparência física; a pessoa esquece-se de imediato de como era. Com frequência a
pessoa trabalha o dia inteiro na base de uma auto-imagem que nem sempre condiz
com a realidade. Se no caso do conhecimento das Escrituras ocorrer o mesmo, a
erudição escriturística, ou a teologia da pessoa tem exatamente o mesmo valor
para sua vida, que o valor daquele exame facial matutino.
3. Persevere ouvindo e agindo (v.25). Já imaginou se Deus
mandasse um anjo para se sentar do nosso lado durante alguns dias só para
anotar tudo aquilo que fazemos? Se ele viesse para observar as atitudes, os
pensamentos, as reações que temos nos nossos relacionamos e em nossa fala? Aí,
imagine que a partir de tudo que o anjo tivesse ouvido, ele começasse a
escrever um manual de descrição bíblica da nossa vida e anotar a partir da
nossa conduta e ação tudo aquilo que estivesse casando com a Palavra de Deus.
Quantos versículos ou princípios bíblicos comporiam nosso manual de descrição
bíblica?
Na prática, creio que a exortação de Tiago expresse algo
assim: que perseveremos ouvindo e agindo de tal forma que nossa vida reflita em
todos seus aspectos a própria Palavra. Mas para que isso aconteça, precisamos
ser praticantes da palavra. Literalmente, o texto diz que devemos “atentar bem”
para Palavra. Ouvir, sem praticar, para Tiago e para nosso Senhor, não passa de
loucura e autoengano. A palavra implantada que tem poder para salvar é imprescindível,
mas tem de ser praticada com perseverança.
Muito diferente é o indivíduo que “atenta bem para a lei
perfeita da liberdade”. Duas palavras contrastam a seriedade com que ele atenta
para a Palavra: 1) “atenta bem”(Gr. parakupsas — a palavra que comunica a
maneira como João olhou para o sepulcro de onde Jesus ressurgira pouco antes,
em João 20.5); 2) persevera (Gr. parameinas) que sugere que, além de se
preocupar com o ensino da Palavra, ele continua praticando a Palavra.
Não estamos tentando afirmar com isso que colocar em prática
tudo aquilo que ouvimos de Deus é fácil. Quando Jesus chamou o apóstolo Paulo
para ser seu discípulo, ele disse que mostraria para este o quanto lhe
importava sofrer pelo seu nome (At 9.16). Em algumas ocasiões até mesmo os
discípulos foram desafiados na sua forma de pensar, para que entendessem que o
chamado que Deus tinha para eles era um chamado para perseverar, porque haveria
muitas dificuldades pela longa jornada que teriam pela frente ao seu lado.
Também não podemos esperar vida fácil. Quando a Palavra nos
diz que devemos confessar nossos pecados uns aos outros, em nenhum lugar
afirma-se que isso seria fácil. Ou que devemos suportar as falhas uns dos
outros. Ou perdoar constantemente alguém. Nada disso acontece naturalmente. Mas
se torna mais fácil à medida que perseveramos em colocar essas verdades em
prática.
III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1.26,27)
1. A falsa
religiosidade. A palavra traduzida religião é threskeia e seu significado não é
tanto religião como a expressão religiosa externa mediante ritual, liturgia e
cerimônias. O que Tiago está dizendo é isto: “O mais belo ritual e a mais
excelente liturgia que podem oferecer a Deus é o serviço aos pobres e a pureza
pessoal”. Para Tiago, o verdadeiro culto não reside em elaboradas vestimentas,
prazerosa liturgia, música majestosa e cerimônias cumpridas à perfeição, mas
sim consiste no serviço prático à humanidade e na pureza da própria vida
pessoal.
Tiago está confirmando que os aspectos externos de
atividades religiosas não são aceitáveis para Deus a menos que estejam
acompanhados de uma vida santa e um serviço de amor. Ritos e rituais nunca
foram um substituto adequado para serviço e sacrifício. A adoração coletiva
dentro da igreja não pode ocupar o lugar de obras individuais fora da igreja. A
profissão pessoal de fé deve estar associada à expressão pública da fé pessoal.
Tiago alerta para o perigo de um temperamento doente e
explosivo e de uma língua solta (1.19,26). Jesus disse que a pessoa que nutre
raiva, cujo sentimento desemboca em ofensa ao próximo, é passível do fogo do
inferno (Mt 5.22). Jesus disse: “Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa
que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas
palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado” (Mt 12.36,37).
Tiago compara a língua com um cavalo fogoso sem freios, com um navio sem leme
que pode espatifar-se nas rochas, com uma fagulha que incendeia uma floresta,
com uma fonte contaminada, com uma árvore que produz frutos venenosos, com um
mundo de iniquidade ou com uma fera indomável. Jesus disse que é a língua que
revela o coração (Mt 12.34-35). Uma língua controlada significa um corpo
controlado (3.1), mas uma língua desgovernada provoca grandes tragédias. A
maledicência é o pecado que Deus mais abomina (Pv 6.19). A palavra irrefletida,
a conversa torpe, a mentira leviana, as acusações maldosas, as orquestrações
urdidas na calada da noite para destruir a dignidade das pessoas são provas
incontestáveis do grande poder destruidor da língua, assunto este que
trataremos na lição 8.
2. A verdadeira religião (v.27). Uma vez que os órfãos e
viúvas não tinham assistência na sociedade antiga, eram exemplos típicos
daqueles que precisavam de ajuda. Além da caridade amplificada, a manutenção da
pureza pessoal é outro meio pelo qual a verdadeira religião se expressa. O
cuidado dos necessitados não é o conteúdo do cristianismo, mas sua expressão. A
preocupação prática da religião de uma pessoa é o cuidado pelos outros. A
religião é a prática da fé. É a fé em ação. Seremos julgados com base nesse
aspecto prático da religião (Mt 25.34-46). Quando nos olhamos no espelho da
Palavra, nós vemos a Deus, a nós mesmos e, também, o nosso próximo (Is 6.3-8).
Palavras não substituem obras (2.14-18; 1Jo 3.11-18).
Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições não é apenas
cortesia pietista. O serviço aos pobres e enfermos, o anunciar o evangelho aos
perdidos, não deve ser deixado para comissões ou para a caridade organizada.
Não é um desencargo de consciência. Trata-se de socorro, de envolvimento, de
empatia, de compaixão manifestada na ajuda concreta e no suprimento das
necessidades reais daqueles que carecem e sofrem.
Além de pregarmos o Evangelho, também devemos ajudar os
necessitados e assim poderemos dizer que vivemos um cristianismo prático por
completo. Diante disso, o melhor exemplo para nós é Dorcas, uma mulher que nos
mostra que ter fé em Cristo é sinônimo de ajudar o próximo. Ela entregou-se a
Jesus por completo e além de se sentir abençoada com sua decisão, também se
permitiu ser uma bênção para os necessitados (Ver Atos 9.36-42).
3. Guardando-se da corrupção (v.27). A religião verdadeira
não é um simples ritual, não é misticismo ou encenação, mas é ter uma vida
separada para Deus. É guardar-se incontaminado do mundo, ou seja, do sistema de
valores pervertidos, corruptos, sujos, imorais e inconsequentes. Esses
desbastam os valores de Deus, corroem os absolutos da Palavra e instauram o
relativismo, o conformismo, o imediatismo e o hedonismo que levam ao
comprometimento com o pecado.
Ser religioso autêntico é inconformar-se com os conformismos
do mundo, para conformar-se com os inconformismos de Deus. A religião que
agrada ao Senhor é rechaçar o mal ainda que mascarado de bem. O mundo é atraente.
Ele arma um cenário encantador para nos atrair. Contudo, o mundo jaz no
maligno. James Boyce, corretamente afirma: “Nós vivemos, como Tiago, em uma
época caracterizada por imundície moral. O perigo da contaminação pelo mundo
por meio de suas diversões, revistas, livros e a vida do dia-a-dia, é algo que
nós conhecemos muito bem. Tiago está dizendo que devemos nos manter livres de
tudo isso e que não devemos ser contaminados com tais coisas”. Portanto,
estamos no mundo não para que ele nos contamine, mas para sermos nele
instrumentos de transformação.
CONCLUSÃO
Quando Tiago diz que
há uma religião pura e sem mácula aceitável diante de Deus, significa dizer que
há uma religião que não é aceitável para Deus. Qual é ela? É aquela apenas de
palavras, de uma fé que não tem obras. Segundo, bênção pessoal (1.25): “... este
será bem-aventurado no que fizer”. Você quer que Deus o abençoe? Então, leia a
Palavra, descubra o que ela diz e viva de acordo com a Palavra.
A igreja deve enfatizar o conceito de religião conforme
elaborado por Tiago e fazer dele um requisito obrigatório para qualquer um que
deseja tomar-se membro da igreja? Certamente! A igreja deve ensinar a verdade
das Escrituras registradas nesta parte da Epístola de Tiago. O princípio da
religião pura e imaculada é amar a Deus e ao próximo.
A
RELIGIÃO PURA.
1.27 A RELIGIÃO PURA E IMACULADA.
Tiago fala de dois princípios que definem o conteúdo do verdadeiro
cristianismo.
(1) O amor genuíno pelos
necessitados. Nos dias do NT, os órfãos e as
viúvas tinham poucos meios de
auto-sustento; em muitos casos, não tinham ninguém para cuidar deles.
Esperava-se da parte dos crentes que lhes demonstrassem o mesmo cuidado e amor
que Deus revela aos órfãos e às viúvas (ver Dt 10.18; Sl 146.9; Mt 6.32; Dt 24.17;
Sl 68.5 ). Hoje, entre nossos irmãos e irmãs em Cristo, há os que precisam de
ajuda e cuidados. Devemos procurar aliviar suas aflições e sofrimentos e, dessa
maneira, mostrar-lhes que Deus tem cuidado deles (ver Lc 7.13 nota; cf. Gl
6.10; ).
(2) Conserva-se santo diante de
Deus. Tiago diz que o amor ao próximo deve estar acompanhado do amor a Deus,
expresso na separação das práticas pecaminosas do
mundo. O amor ao próximo deve
estar acompanhado da santidade diante de Deus; doutra forma, não é amor cristão
SOBRE OS POBRES E
NECESSITADOS.
Am 5.12-14 “Porque sei que são muitas as vossas
transgressões e enormes os vossos pecados; afligis o justo, tomais resgate e
rejeitais os necessitados na porta. Portanto, o que for prudente guardará
silêncio naquele tempo, porque o tempo será mau. Buscai o bem e não o mal, para
que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como
dizeis.”
Neste mundo, onde há tanto ricos quanto pobres, freqüentemente
os que têm abastança material tiram proveito dos que nada têm, explorando-os para
que os seus lucros aumentem continuamente (ver Sl 10.2, 9,10; Is 3.14,15; Jr
2.34; Am 2.6,7; 5.12,13; Tg 2.6). A Bíblia tem muito a dizer a respeito de como
os crentes devem tratar os pobres e necessitados.
O ZELO DE DEUS PELOS POBRES E NECESSITADOS. Deus tem
expressado de várias maneiras seu grande zelo pelos pobres, necessitados e oprimidos.
(1) O Senhor Deus é o seu defensor. Ele mesmo revela ser
deles o refúgio (Sl 14.6; Is 25.4), o socorro (Sl 40.17; 70.5; Is 41.14), o
libertador (1Sm 2.8; Sl 12.5; 34.6; 113.7; 35.10; cf. Lc 1.52,53) e provedor
(cf. Sl 10.14; 68.10; 132.15).
(2) Ao revelar a sua Lei aos israelitas, mostrou-lhes também
várias maneiras de se eliminar a pobreza do meio do povo (ver Dt 15.7-11 nota).
Declarou-lhes, em seguida, o seu alvo global: “Somente para que entre ti não
haja pobre; pois o SENHOR abundantemente te abençoará na terra que o SENHOR,
teu Deus, te dará por herança, para a possuíres” (Dt 15.4). Por isso Deus, na
sua Lei, proibe a cobrança de juros nos empréstimos aos pobres (Êx 22.25; Lv
25.35,36). Se o pobre entregasse algo como “penhor”, ou garantia pelo empréstimo,
o credor era obrigado a devolver-lhe o penhor (uma capa ou algo assim) antes do
pôr-do-sol. Se o pobre era contratado a prestar serviços ao rico, este era
obrigado a pagar-lhe diariamente, para que ele pudesse comprar alimentos a si
mesmo e à sua família (Dt 24.14,15). Durante a estação da colheita, os grãos
que caíssem deviam ser deixados no chão para que os pobres os recolhessem (Lv
19.10; Dt 24.19-21); e mais: os cantos das searas de trigo, especificamente, deviam
ser deixados aos pobres (Lv 19.9). Notável era o mandamento divino de se cancelar,
a cada sete anos, todas as dívidas dos pobres (Dt 15.1-6). Além disso, o homem
de posses não podia recusar-se a emprestar algo ao necessitado, simplesmente
por estar próximo o sétimo ano (Dt 15.7-11). Deus, além de prover o ano para o
cancelamento das dívidas, proveu ainda o ano para a devolução de propriedades —
o Ano do Jubileu, que ocorria a cada cinqüenta anos. Todas as terras que
tivessem mudado de dono desde o Ano do Jubileu anterior teriam de ser devolvidas
à família originária (ver Lv 25.8-55). E, mais importante de tudo: a justiça
haveria de ser imparcial. Nem os ricos nem os pobres poderiam receber qualquer
favoritismo (Êx 23.2,3,6; Dt 1.17; cf. Pv 31.9). Desta maneira, Deus impedia que
os pobres fossem explorados pelos ricos, e garantia um tratamento justo aos
necessitados (ver Dt 24.14).
(3) Infelizmente, os israelitas nem sempre observavam tais
leis. Muitos ricos tiravam vantagens dos pobres, aumentando-lhes a desgraça. Em
conseqüência de tais ações, o Senhor proferiu, através dos profetas, palavras severas
de juízo contra os ricos (ver Is 1.21-25; Jr 17.11; Am 4.1-3; 5.11-13; Mq 2.1-5;
Hc 2.6-8; Zc 7.8-14).
A RESPONSABILIDADE DO CRENTE NEOTESTAMENTÁRIO DIANTE DOS POBRES
E NECESSITADOS. No NT, Deus também ordena a seu povo que evidencie profunda solicitude
pelos pobres e necessitados, especialmente pelos domésticos na fé.
(1) Boa parte do ministério de Jesus foi dedicado aos pobres
e desprivilegiados na sociedade judaica. Dos oprimidos, necessitados,
samaritanos, leprosos e viúvas, ninguém mais se importava a não ser Jesus (cf.
Lc 4.18,19; 21.1-4; Lc 17.11-19; Jo 4.1-42; Mt 8.2-4; Lc 17.11-19; Lc 7.11-15;
20.45-47). Ele condenava duramente os que seapegavam às possessões terrenas, e desconsideravam
os pobres (Mc 10.17-25; Lc 6.24,25; 12.16-20; 16.13-15,19-31).
(2) Jesus espera que seu povo contribua generosamente com os necessitados (ver Mt 6.1-4).
Ele próprio praticava o que ensinava, pois levava uma bolsa da qual tirava
dinheiro para dar aos pobres (ver Jo 12.5,6; 13.29). Em mais de uma ocasião,
ensinou aos que o queriam seguir a se importarem com os marginalizados
econômica e socialmente (Mt 19.21; Lc 12.33; 14.12-14,16-24; 18.22). As contribuições
não eram consideradas opcionais. Uma das exigências de Cristo para se entrar no
seu reino eterno é mostrar-se generoso para com os irmãos e irmãs que passam fome
e sede, e acham-se nus (Mt 25.31-46).
(3) O apóstolo Paulo e a igreja primitiva demonstravam igualmente
profunda solicitude pelos necessitados. Bem cedo, Paulo e Barnabé, representando
a igreja em Antioquia da Síria, levaram a Jerusalém uma oferta aos irmãos carentes
da Judéia (At 11.28-30). Quando o concílio reuniu-se em Jerusalém, os anciãos recusaram-se
a declarar a circuncisão como necessária à salvação, mas sugeriram a Paulo e
aos seus companheiros “que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei
fazer com diligência” (Gl 2.10). Um dos alvos de sua terceira viagem
missionária foi coletar dinheiro “para os pobres dentre os santos que estão em
Jerusalém” (Rm 15.26). Ensinava as igrejas na Galácia e em Corinto a contribuir
para esta causa (1Co 16.1-4). Como a igreja em Corinto não contribuisse conforme
se esperava, o apóstolo exortou demoradamente aos seus membros a respeito da ajuda
aos pobres e necessitados (2Co 8;9). Elogiou as igrejas na Macedônia por lhe
terem rogado urgentemente que lhes deixasse participar da coleta (2Co 8.1-4;
9.2). Paulo tinha em grande estima o ato de contribuir. Na epístola aos Romanos,
ele arrola, como dom do Espírito Santo, a capacidade de se contribuir com
generosidade às necessidades da obra de Deus e de seu povo (ver Rm 12.8 nota;
ver 1Tm 6.17-19).
(4) Nossa prioridade máxima, no cuidado aos pobres e
necessitados, são os irmãos em Cristo. Jesus equiparou as dádivas repassadas
aos irmãos na fé como se fossem a Ele próprio (Mt 25.40, 45). A igreja
primitiva estabeleceu uma comunidade que se importava com o próximo, que repartia
suas posses a fim de suprir as necessidades uns dos outros (At 2.44,45; 4.34-37).
Quando o crescimento da igreja tornou impossível aos apóstolos cuidar dos
necessitados de modo justo e equânime, procedeu-se a escolha de sete homens, cheios
do Espírito Santo, para executar a tarefa (At 6.1-6). Paulo declara explicitamente
qual deve ser o princípio da comunidade cristã: “Então, enquanto temos tempo, façamos
o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10). Deus quer
que os que têm em abundância compartilhem com os que nada têm para que haja
igualdade entre o seu povo (2Co 8.14,15; cf. Ef 4.28; Tt 3.14). Resumindo, a Bíblia
não nos oferece outra alternativa senão tomarmos consciência das necessidades
materiais dos que se acham ao nosso redor, especialmente de nossos irmãos em
Cristo.
COMENTÁRIO BÍBLICO TIAGO 1.19-27
1:19 / Tiago
deliberadamente faz um paralelo com o estilo de 1:16, ao advertir: Sabei isto, meus
amados irmãos. Tiago 1:16-18 discute a sabedoria como uma dádiva da vida que veio de
Deus (cf. 1:5-8); vem agora o tópico relacionado — a pessoa sábia controla a
língua (cf. 3:1-18), visto que a ética relacionada às
palavras constituía tópico de
suma importância tanto na literatura judaica como no mundo em que Tiago vivia.
Prossegue Tiago com um provérbio: Todo homem seja pronto para
ouvir, tardio para falar e tardio para se irar. Não importa quão chocante esse ditado possa
parecer ao homem da era moderna, caracterizada pelo lema: “expresse seus
sentimentos”, esse provérbio era considerado sabedoria plenamente aceitável nos tempos
bíblicos: “O que guarda a sua boca preserva a sua alma, mas o que muito abre os
seus lábios tem perturbação” (Provérbios 13:3). “Tens visto um homem
precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o tolo do que para ele”
(Provérbios 29:20). “Não te apresses no teu espírito a irar-te, pois a ira
abriga-se no seio dos tolos” (Eclesiastes 7:9). A pessoa verdadeiramente sábia
e piedosa nas Escrituras não é a que sempre tem algo a dizer, mas é a pessoa
que ouve os outros, que considera tudo em espírito de oração e só então fala em
termos moderados. Tiago considera esse provérbio
não só como uma verdade pessoal para cada crente, mas também parte de seu
interesse pela harmonia comunitária. Em 3:1 ele assinala os conflitos entre os
mestres que em 3:13-18 podem conduzir ao espírito partidário e ao ciúme. Tais
mestres eram bem conhecidos na igreja primitiva, encorajados pelos que estavam
embebedados pelo vinho pesado do Espírito recentemente derramado, e preocupados
com seu dom ou ministério, e não com o bemestar da igreja. Tiago aconselha que
haja prudência e que se ouça bastante, em vez do falatório intempestivo e da
denúncia aguda.
1:20 / Mas o que você
acha da indignação justa? A ira do homem não opera a justiça de
Deus.
Tiago não declara suas razões por que fez essa afirmação, mas vários motivos aparecem no Novo
Testamento. Primeiramente, os sentimentos de ira, uma vez liberados e
expressos, são por natureza imoderados e incontroláveis, o que levou até os escritores
pagãos helenísticos a condenar a ira. Em segundo lugar, a ira é incompatível com
os ensinos de Jesus, de modo particular seu ensino quanto a amarmos nossos inimigos
(Mateus 5:38-48) e sua condenação do ódio entre irmãos (Mateus 5:21-26). Em
terceiro lugar, a ira humana usurpa a função exclusiva de Deus como juiz e
vingador. Em 5:7-9 Tiago diz que o crente deve
esperar pela vingança de Deus e
não pode vingar-se por sua própria conta. Ensino semelhante encontramos em Hebreus
10:30-39, Romanos 12:19 e reiteradamente em 1 Pedro. A reação adequada ao
sofrimento é a humildade e a perseverança, visto que Deus é o único Juiz
verdadeiro. É por tudo isso que a ira humana não
opera a justiça
de Deus, ou no sentido de que não trará a justiça que Deus vai estabelecer no último dia (que é
a idéia que Tiago poderia ter em mente aqui; cf. 5:7-11), ou no sentido de não
atingir os atuais padrões elevados da justiça de Deus. Basta que reflitamos um
pouco no assassinato impulsivo que Moisés cometeu, ao matar o feitor egípcio
(Êxodo 2:11-16) para descobrirmos uma bela ilustração desse princípio.
1:21 / Pelo que,
despojando-vos de toda impureza e de todo vestígio do mal... Essa é uma
frase negativa; a ênfase desse versículo recai claramente em algo positivo (recebei com
mansidão a palavra), mas essa parte negativa é um prelúdio necessário. Se a pessoa
não reconhecer o pecado pelo que ele é, se não cessar de justificá-lo, se não
rejeitá-lo com decisão, o progresso espiritual será impossível. Assim é que, ao dizer
despojando-vos, Tiago emprega
o termo apropriado à conversão, assemelhando essa à troca de vestes imundas. A
expressão toda impureza pode
significar qualquer imundícia moral, especialmente a lascívia. Mas o autor focaliza a ira, ou
falar mal do próximo, ao mencionar um mal tão prevalecente, que está implícito
em todo vestígio do mal. É preciso erradicar do coração sem reservas não só a
ira, que se manifesta externamente, mas toda a malícia também. Erradicada a malícia, o crente
está apto a receber com mansidão a palavra em vós implantada. Esses crentes
já receberam a “palavra” do evangelho, pois são membros da comunidade cristã.
Todavia, a palavra já plantada em seus corações deve ser posta em prática,
confirmando sua aceitação, para que ela salve tais pessoas. Não é suficiente que a pessoa
esteja convencida a respeito de Jesus; a pessoa deve entregar-se a Cristo,
aceitar seu ensino, e essa fidelidade é o estilo de nova vida que Tiago está
propondo. Ao prometer dedicar tal
fidelidade ao Senhor, os crentes demonstram que receberam com mansidão a palavra,
pois submetem-se a Deus. Tiago escreveu em grego “com humildade”,
indicando a submissão devida a Deus, em contraposição ao auto-engrandecimento,
demonstrado pelo palavrório imprudente e pela ira. A mansidão é um gomo do
fruto do Espírito (Gálatas 5:23; Tiago 3:13), e a marca de todos quantos recebem o
reino (Mateus 5:5). Nesse contexto, a mansidão é uma convocação a que o crente
se humilhe diante de Deus e acate a ordem de deixar a vingança em suas
mãos, que não rejeite o ensino do evangelho e não se vingue por conta própria. Essa
humilde aceitação dos ensinos de Jesus produz um efeito salvífico.
1:22 / O tópico de
aceitar a palavra, ou de a ela obedecer, leva Tiago a mudar de assunto; ele
deixa o tema da prudência na língua para tratar da ação caritativa. Sede cumpridores
da palavra, e não somente ouvintes, enganando- vos a vós mesmos — essa
exortação diz respeito ao cidadão que se auto congratula pelo elevado
conhecimento que tem das Escrituras e pelo domínio das tradições apostólicas
concernentes a Jesus. Não é que tal pessoa tenha falhado, deixando de aprender o ensino
apostólico. Esse irmão pode ser erudito nas Escrituras, um “escriba” especializado nas
palavras de Jesus. Todavia, representa os que são somente ouvintes. Pouco
importa a tremenda extensão do conhecimento
escriturístico do crente e quão
espantosa sua memória: se isso é tudo que há, não passa de auto-engano.
Sede cumpridores
da palavra — este é o ponto crucial. O que vale é o que o crente faz, não o que ele sabe. O
verdadeiro conhecimento serve de prelúdio à ação; no fim, o que conta é a
obediência à palavra.
1:23-24 / Tendo
declarado sua tese no versículo anterior, Tiago agora ilustra a posição dos somente
ouvintes com uma metáfora tirada da vida diária. Eles são como a pessoa que pela manhã
examina seu rosto ao espelho. Cuidou da barba, o cabelo está bem penteado, ou a
maquiagem foi bem aplicada. Nesse momento, contemplar-se a si próprio no
espelho é ocupação que lhe toma tempo. Contudo, terminadas as abluções e os
cuidados matinais, cessa toda atenção à aparência física; a pessoa esquece-se de
imediato de como era. Com freqüência a pessoa trabalha o dia inteiro na base de
uma auto-imagem que nem sempre condiz com a realidade. Se no caso do
conhecimento das Escrituras ocorrer o mesmo, a erudição
escriturística, ou a teologia da
pessoa tem exatamente o mesmo valor para sua vida, que o valor daquele exame
facial matutino.
1:25 / Aquele,
porém, que atenta bem para a lei perfeita... e nela persevera... será bem-aventurado
no que realizar. Tiago estabelece um contraste duplo. Primeiramente, o crente
bem-aventurado age em função daquilo que conhece, em vez de fazer como se fora um ouvinte
esquecido. Tal esquecimento não se deve à perda de memória, mas à
falha em não pôr em prática o ensino numa situação
cotidiana. Tiago repete a
questão, dizendo que, quando o crente pratica o que sabe, é abençoado no que realizar. É a ação que
recebe ênfase. Em segundo lugar, a pessoa
abençoada nela persevera, isto é, continua a agir dessa maneira. Esse tema da
continuidade, da insistência, da perseverança também
ocorre em Tiago 1:2-4; 1:12; e
5:7-11. Não é a pessoa que observa momentaneamente a ordem de Cristo, e a ela
obedece por um pouco, que será abençoada, mas o crente que se caracteriza pela
obediência irrestrita aos mandamentos de Cristo: para esse crente eles
representam seu modo de viver. Esse é o crente que de fato será
bem-aventurado no que realizar. O praticante da palavra de Cristo
atenta
bem para a lei perfeita, a da liberdade. Com isto, Tiago não se refere à
regra estóica da razão, tampouco à lei judaica, mas às Escrituras judaicas
devidamente interpretadas e complementadas pelos ensinos de Jesus. Noutras
palavras, a lei perfeita são os ensinos e as tradições de Jesus conforme corporificadas
no sermão do monte (e.g., Mateus 5:17). Paulo e Tiago concordam nesse
ponto crucial: os ensinos de Jesus são obrigatórios para o cristão, não existindo
outro caminho para a bênção e para a salvação. Liberdade não é
libertinagem, mas capacidade para viver e cumprir “a lei de Cristo” (Gálatas 6:2; cf. Gálatas
5:13; 1 Coríntios 9:21; 7:10, 25 — nestes dois últimos versículos, o ensino de
Cristo encerra a questão para Paulo). Esta lei é libertadora no sentido de que a
pessoa que se submete a Cristo liberta-se da escravidão do pecado e da morte,
inclusive de todo o legalismo (ninguém merece a salvação). Assim, Tiago está
ensinando que o crente que vive essa liberdade é o que será abençoado por Deus, e
não o indivíduo que simplesmente aprende algo sobre essa liberdade.
1:26 / Tiago
encerrou sua declaração preliminar, de abertura. Falta resumir tudo de modo que haja uma
transição suave para a próxima seção. Os versículos 26-27 constituem o resumo
transicional. Se alguém cuida
ser religioso... Noutras palavras, será que determinado crente se julga um bom cristão,
muito piedoso? A ênfase está no desempenho religioso, e provavelmente inclui
atos de culto como a oração, o jejum e o dízimo. Tiago não condena tais
atividades, mas acrescenta o seguinte: e não refreia a sua
língua, antes
engana o seu coração, a sua religião é vã. Noutras palavras, as práticas religiosas são ótimas,
mas, se não vierem acompanhadas de um modo de viver ético, nada valem, são
menos do que inúteis, porque se transformam em auto-enganos. O interesse
específico de Tiago é o controle da língua, que é sua maneira de referir-se ao
controle do palavrório irado, das explosões de raiva, da crítica ferina e das
queixas (cf. 1:19; 3:1,13; 4:11-12; e 5:9). O criticismo, o julgamento e o
queixume impiedosos revelam corações ainda não submetidos ao mandamento de
Cristo. Trata-se de pessoas cujas práticas religiosas exteriores, conquanto
cristãs, são tão salvíficas quanto a idolatria (i.e., nulas), recebendo ainda a
alcunha de práticas vãs nas Escrituras (Atos 14:15; 1 Coríntios 3:20;
1 Pedro 1:18). Tiago, à semelhança de Jesus (Marcos 12:28-34; João 13:34) e os
profetas (Oséias 6:6; Isaías 1:1-10; Jeremias 7:21-28), desmascaram sem piedade
esse auto-engano, de modo tal que seus leitores podem reconhecer sua verdadeira
condição antes que seja tarde demais.
1:27 / Em contraste
com o crente piedoso, cuja língua é todavia afiada, a religião que nosso Deus e Pai
considera
pura
e imaculada não é primordialmente ritualística, feita de hábitos
piedosos, mas a que procura visitar os órfãos e as viúvas nas suas
aflições e guardar-se incontaminado do mundo. A primeira
característica, a da caridade e
do interesse ativo pelos indefesos e fracos, com freqüência é mencionada no Antigo
Testamento (Deuteronômio 14:29; 24:17-22), bem como no Novo (Atos 6:1-6; 1
Timóteo 5:3-16). Os órfãos e as viúvas, ao lado dos estrangeiros e dos
levitas, constituíam os pobres dentre o antigo Israel. A
verdadeira piedade, portanto, vai
ajudar os fracos e os pobres, porque Deus é quem sustenta os oprimidos e
indefesos (Deuteronômio 10:16-17). A segunda característica
centraliza-se no mundo, designação comum em Paulo e em João para a cultura, os
costumes e as instituições humanas (1 Coríntios 1-
3; 5:19; Efésios 2:2; João 12:31;
15:18-17; 16; 1 João 2:15-17). A verdadeira piedade não é conformação à
cultura humana, mas a transformação à imagem de Cristo (Romanos 12:1-2). Para
Tiago, isso significa especificamente a rejeição dos motivos da concorrência, da
ambição pessoal e do acúmulo de riquezas, paixões que jazem na raiz da falta de
caridade e da multiplicação de conflitos na comunidade (e.g., 4:1-4). Ao
declarar que essa, e nada mais, é a verdadeira religião aos olhos de Deus, declara Tiago
que a conversão é coisa vã se não conduzir a uma vida transformada.
Elabora pelo Evangelista; Natalino dos Anjos
Professor da E.B.D e pesquisador
dirigente da Congregação da A.D(missão) no Bairro Novo Horizonte
Campo de Guiratinga - Mato Grosso
Pastor Presidente; Pr Edseu Vieira.
Fonte de pesquisa.
Escriba Digital
Bíblia de Estudo Pentecostal
Comentário Bíblico Contemporaneo N.T. Tiago.
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