Lições Bíblicas CPAD
- Jovens e Adultos
3º Trimestre de 2014
Título: Fé e Obras —
Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva
Lição 3: A importância da sabedoria humilde
Data: 20 de Julho de 2014
TEXTO ÁUREO
“Não desampares a
sabedoria, e ela te guardará; ama-a e ela te conservará” (Pv 4.6).
VERDADE PRÁTICA
A sabedoria que
procede de Deus é humilde, por isso, equilibra o crente em todas as
circunstâncias da vida.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Tg 4.3 Oração
com propósito sábio
Terça - Pv 3.35 A
sabedoria resulta em honra
Quarta - Pv 16.16 A sabedoria é a maior riqueza
Quinta - Cl 4.5 A
sabedoria com os não-crentes
Sexta - Pv 3.21b A
sabedoria inclui a prudência
Sábado - 2Cr 1.10 Deus
dá sabedoria a quem o pede
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tiago 1.5; 3.13-18.
Tiago 1
5 - E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a
Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada.
Tiago 3
13 - Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu
bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria.
14 - Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em
vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
15 - Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena,
animal e diabólica.
16 - Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há
perturbação e toda obra perversa.
17 - Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura,
depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos,
sem parcialidade e sem hipocrisia.
18 - Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que
exercitam a paz.
INTERAÇÃO
A sabedoria do alto
gera amor, bondade, benignidade e humildade. Ela não estimula o crente a
tornar-se soberbo ou arrogante em relação ao próximo, mas nos dá limites.
Faz-nos saber até onde podemos ir. Ainda que elevemos a nossa cultura, a língua
e tantos outros conhecimentos, nós não temos o direito de nos mostrarmos
altivos, os donos da verdade, pois de fato não o somos. A sabedoria do alto nos
dá bom senso! Quantos cheios de sabedoria não mais a demonstram no
relacionamento com o outro? Teoricamente são sábios, mas relacionalmente
imaturos. A sabedoria do alto não gera coração soberbo, mas um coração humilde!
OBJETIVOS
Após esta aula, o
aluno deverá estar apto a:
Descrever a sabedoria que vem de Deus.
Demonstrar na prática a sabedoria humilde.
Compreender a distinção entre a verdadeira sabedoria e a
arrogante.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado professor,
reproduza o quadro abaixo conforme as suas possibilidades. Para iniciar o
primeiro tópico da lição, juntamente com os seus alunos, complete as duas colunas
do esquema sugerido pedindo-lhes que citem as características de cada coluna
respectivamente. Em seguida, discuta com eles as consequências destas
sabedorias no ambiente da igreja local, da família, da escola, da empresa onde
trabalham etc. Conclua a lição desta semana dizendo que Deus é bom e dá a sua
sabedoria a quem lhe pede.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Sabedoria Humilde: Nesta lição, um tipo de sabedoria que só
pode vir de Deus.
Nesta lição
estudaremos os ensinamentos da Palavra de Deus acerca da importância da
sabedoria divina para o nosso viver diário. Tiago inicia a temática em tom de
exortação, enfatizando a necessidade da sabedoria divina como condição básica
de levar a igreja a viver a Palavra de Deus com alegria, coerência, segurança e
responsabilidade. E isso tudo sem precisar fugir das tribulações ou negar que o
crente passa por problemas. A nossa expectativa é que você abrace o estilo de
vida proposto pelo Santo Espírito nesta carta. Não fugindo da realidade da
vida, mas enfrentando-a com sabedoria do alto e na força do Espírito Santo.
I. A NECESSIDADE DE PEDIRMOS SABEDORIA A DEUS (Tg 1.5)
1. A sabedoria que
vem de Deus. Tiago fala da sabedoria que vem do alto para distingui-la da
humana, de origem má (Tg 3.13-17). Irrefutavelmente, a sabedoria que vem de
Deus é o meio pelo qual o homem alcança o discernimento da boa, agradável e
perfeita vontade divina (Pv 2.10-19; 3.1-8,13-15; 9.1-6; Rm 12.1,2). Sem esta
sabedoria, o ser humano vive à mercê de suas próprias iniciativas, dominado por
suas emoções, sujeitando-se aos mais drásticos efeitos das suas reações. Enfim,
a Palavra de Deus nos orienta a vivermos com prudência. Todavia, quando nos
achamos em meio às aflições é possível que nos falte sabedoria. Por isso, o
texto de Tiago revela ainda a necessidade de o crente desenvolver-se,
adquirindo maturidade espiritual.
2. Deus é o doador da sabedoria. O texto bíblico não detalha
a maneira pela qual Deus concede sabedoria. Tiago apenas afirma que o Altíssimo
a dá. Juntamente com a súplica pela sabedoria que fazemos ao Pai em oração, a
epístola fornece riquíssimos ensinamentos (v.5):
a) O Senhor é que dá sabedoria. Jesus ensina que o Pai
atende às orações daqueles que o pedirem (Mt 7.7,8).
b) O Senhor dá todas as coisas. Neste sentido, dizem as
Sagradas Escrituras: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o
entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?” (Rm
8.32 cf. Jó 2.10).
c) O Senhor dá a todos os homens. Ele não faz acepção de
pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Tg 2.1,9).
d) O Senhor dá liberalmente. É de graça! Nosso Deus não
vende bênçãos apesar de pessoas, em seu nome, “comercializá-las”.
e) O Senhor dá sem lançar em rosto. A expressão é sinônima
do adágio popular “jogar na cara”. O Pai Celeste não age dessa forma.
3. Peça a Deus sabedoria. Ainda no versículo cinco, Tiago estimula-nos
a fazermos as seguintes perguntas: Falta-nos sabedoria espiritual? Sentimental?
Emocional? Nos relacionamentos? Caso ache em si falta de sabedoria em alguma
área, não desanime! Peça-a a Deus, pois é Ele quem dá liberalmente. E mais: não
lança em rosto! Ouça as Escrituras e ponha em prática este ensinamento. Fazendo
assim, terás sabedoria do alto.
SINOPSE DO TÓPICO (I)
A sabedoria vem de
Deus. Nós temos a necessidade de pedirmos a Ele, pois o Altíssimo é o doador.
II. A DEMONSTRAÇÃO PRÁTICA DA SABEDORIA HUMILDE (Tg 3.13)
1. A sabedoria
colocada em prática. Tiago conclama os servos de Deus, mais notadamente aqueles
que exercem alguma liderança na igreja local, a demonstrarem sabedoria divina
através de ações concretas (Dt 1.13,15; 4.6; Dn 5.12). A sabedoria é a virtude
que devemos buscar e cultivar em nossos relacionamentos neste mundo (Mt
5.13-16). O tempo do verbo “mostrar”, utilizado por Tiago em 3.13, indica uma
ação contínua em torno da finalidade ou do resultado de uma obra. Desta
maneira, a Bíblia está determinando uma atuação cristã que promova as boas
obras no relacionamento humano.
2. A humildade como prática cristã. Instruída pela Palavra
de Deus, a humildade cristã promove as boas obras na vida do crente (Tg
1.17-20; cf. Mt 11.29; 5.5). Quem é portador dessa humildade revela a
verdadeira sabedoria, produzindo para si alegria e edificação (Mt 5.16). A fim
de redundar em honra e glória ao nome do Senhor Jesus, a humildade deve ser uma
virtude contínua. Isso a torna igualmente uma porta fechada para o crente não
retornar às velhas práticas. O homem natural, dominado pelo pecado, não tem o
temor de Deus nem o compromisso de viver para a honra e glória dEle. Porém, o
que nasceu de novo e, portanto, “ressuscitou com Cristo”, busca ajuda do alto
para viver em plena comunhão e humildade com o seu semelhante (Cl 3.1-17).
3. Obras em mansidão de sabedoria. Vivemos em um tempo onde
as pessoas se aborrecem por pouca coisa, onde tudo é motivo para desejar o mal
ao outro. Vemos descontrole no trânsito, o destempero na fila, a pouca
cordialidade com o colega de trabalho e coisas afins. Parece que as pessoas não
convivem espontaneamente com as outras. Apenas se toleram! Nesse contexto, o
ensino de Tiago é de sobremodo relevante: “Mostre, pelo seu bom trato as suas
obras em mansidão de sabedoria” (v.13). Amor, cordialidade e solidariedade são
valores éticos absolutos reclamados no Evangelho. Ouçamos a sua voz!
SINOPSE DO TÓPICO (II)
A sabedoria deve ser
colocada em prática como uma ação concreta através da humildade.
III. O VALOR DA VERDADEIRA SABEDORIA E A ARROGÂNCIA DO SABER
CONTENCIOSO (Tg 3.14-18)
1. Administrando a
sabedoria. A sabedoria mencionada por Tiago assinala a vontade de Deus para a
vida do crente. Uma vez dada por Deus, tal sabedoria constitui-se parte da
natureza do crente. É resultado do novo caráter lapidado pelo Espírito Santo. É
um novo pensar, um novo sentir, um novo agir. Deus dá ao homem essa sabedoria
para que ele administre as bênçãos, os dons e todas as esferas de
relacionamentos da vida humana. Quando Jesus de Nazaré expressou “assim brilhe
a vossa luz diante dos homens” (Mt 5.16), Ele estava refletindo sobre o
propósito divino de o crente viver a inteireza do Reino de Deus diante dos
homens.
2. Sabedoria verdadeira e a arrogância do saber. Há pessoas
orgulhosas que, por se julgarem sábias, não admitem serem aconselhadas ou advertidas.
Sobre tais pessoas as Escrituras são claras (Jr 9.23). Entre os filhos de Deus
não há uma pessoa que seja tão sábia que possa abrir mão da necessidade de
aconselhar-se com alguém. O livro de Provérbios descreve que há sabedoria e
segurança na multidão de conselheiros, pois do contrário: o povo perece
(11.14). O rei Salomão orou a Deus pedindo-lhe sabedoria para entrar e sair
perante o povo judeu (2Cr 1.10). Disto podemos concluir que lidar com o povo
sem depender dos sábios conselhos de Deus é um pedantismo trágico para a saúde
espiritual da igreja. Portanto, leve em conta a sabedoria divina! É um bem
indispensável para os filhos de Deus. Para quem sente falta de sabedoria, Tiago
continua a aconselhar: “peça-a a Deus”.
3. Atitudes a serem evitadas. “Onde há inveja e espírito
faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa” (v.16). Aqui o autor da
epístola descreve o resultado de uma “sabedoria” soberba e terrena.
Classificando tal sabedoria, Tiago utiliza dois termos fortíssimos, afirmando
que ela é “animal” e “diabólica”. Animal, porque é acompanhada por emoções
oriundas de um instinto natural, primitivo, irracional e carnal, sendo por isso
destituída de qualquer preocupação espiritual. Diabólica, porque o nosso
adversário inspira pessoas a transbordarem desejos que em nada se assemelham
aos que são oriundos do fruto do Espírito, antes, são sentimentos egoísticos,
que se identificam com as obras da carne (2Tm 4.1-3; Gl 5.19-21). Atitudes que
trazem contenda, facções, divisão, gritarias e irritabilidade devem ser
evitadas em nossa família, em nossa igreja ou em quaisquer lugares onde nos
relacionarmos com o outro. O Senhor nos chamou para paz e não para confusão.
Vivamos, pois uma vida cristã sábia e em paz com Deus!
SINOPSE DO TÓPICO (III)
O valor da verdadeira
sabedoria reflete a humildade; a arrogância, o orgulho, a soberba e a altivez à
sabedoria terrena e diabólica.
CONCLUSÃO
Após estudarmos o tema “sabedoria humilde” é impossível ao
crente admitir a possibilidade de vivermos a vida cristã em qualquer esfera
humana sem depender da sabedoria do alto. A sabedoria divina não só garante a
saúde espiritual entre os irmãos, mas da mesma maneira, a emocional e psíquica.
Ela estabelece parâmetros para o convívio social sadio ao mesmo tempo em que
nos previne para que não caiamos nos escândalos e pecados que entristecem o
Espírito Santo. Ouçamos o conselho de Deus. Que possamos viver de forma sóbria,
justa e piamente (Tt 2.12).
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
SWINDOOL, Charles R.
Vivendo Provérbios: Sabedoria divina para os desafios da vida moderna. 1ª Edição, RJ: CPAD, 2013.
STRONSTAD,
Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. 2ª Edição, RJ: CPAD, 2004.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Teológico
“Embora Paulo não
tenha pregado de acordo com a sabedoria do mundo, todavia ele pregou a
sabedoria oculta de Deus que só pode ser discernida quando Deus dá ao homem a
direção e a ajuda do Espírito Santo (1Co 2.7-14). Deus deseja que o homem tenha
e conheça sua sabedoria (Tg 1.5). Ela é espiritual e consiste no conhecimento
de sua vontade (Cl 1.9; Ef 1.8,9). Ela é ‘do alto’ e é contrastada com a
sabedoria terrena e humana deste mundo, que pode até ser inspirada pelos
demônios (Tg 3.13-17; cf. Cl 2.23; 1Co 3.19,20; 2Co 1.12). A sabedoria de Deus
deve ser revelada ou ‘dada’ aos homens (Rm 11.33,34; 2Pe 3.15; Lc 21.15). Isto
pode ser conferido pela Palavra de Deus e pelo ensino humano dela (Cl 3.16;
1.28; Ap 13.18; 17.9). Como no caso da sabedoria (heb. hokma) do livro de
Provérbios, ela permite que o crente saiba como agir em relação às outras
pessoas, e aproveitar ao máximo as suas oportunidades espirituais (Cl 4.5)”
(PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard, F. Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2009,
p.1712).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio Exegético
“As Ações Revelam as
Origens da Sabedoria (3.13-18).
O retrato que Tiago nos oferece daquilo que é considerado
como ‘sabedoria’ peia maioria das pessoas é bastante perturbador, mas
precisamos ser cuidadosos para não entendermos erroneamente. Ele não está
sugerindo que não exista qualquer coisa boa na humanidade (lembremos de seu
aviso de que fomos ‘feitos à semelhança de Deus’ — 3.9). O problema com essa
sabedoria ‘terrena, animal e diabólica’ é que tem sua origem na alma humana.
Sendo assim, participa dos desejos divididos dos ‘inconstantes’; é capaz de
fazer o bem (‘bendizer a Deus e Pai’ — 3.9), mas também de muitas vezes levar a
‘toda obra perversa’. Quando nossa ‘sabedoria’ é simbolizada pela ‘mansidão’
(v.13), que reconhece que sua principal origem está em Deus (1.5,21) e não em
nós mesmos (como resultado de nossa ‘egoísta ambição’, vv.14,16) então os bons
desejos existentes dentro de nós, por termos sido criados à semelhança de Deus,
unem-se à Sua vontade em uma vida correta, e de bom trato (v.13).
Tiago se volta às qualidades que simbolizam o ‘bom trato’
nos versos 17 e 18. A lista de características e virtudes que Tiago nos oferece
aqui é semelhante à descrição que Paulo faz do ‘fruto do Espírito’ (Gl 5.22,23;
cf. Tg 3.17). Tanto Paulo como Tiago enfatizam que essas características devem
ser a consequência natural de uma vida renovada por Deus.
O que há de particular interesse nessa lista de Tiago é o
número de termos que expressam diretamente ações ao invés de simples
qualidades. Aqueles que têm em si mesmos a sabedoria que vem da Palavra que foi
neles ‘enxertada’ (1.21), não são apenas ‘amantes da paz’, mas também
‘pacificadores’. São atenciosos com os seus semelhantes e não procuram apenas
satisfazer sua ambição egoísta. São submissos à vontade de Deus ao invés de
serem ‘atraídos e engodados pela sua própria concupiscência’ (veja 1.14). Seus
atos são misericordiosos (cf. 2.12,13), são imparciais e sinceros e não como
aqueles que demonstram favoritismo (2.1,9). O resultado de viver de acordo com
a ‘sabedoria que vem do alto’ é uma safra de virtudes (cf. 2.21-23)”
(STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal
Novo Testamento. 2ª Edição, RJ: CPAD, 2004, p.1680).
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
A Importância da
Sabedoria Humilde
“É muito sábio não
ser precipitado nas ações (Pv 19.2), nem se posicionar obstinadamente em suas
próprias vaidades. Faz parte desta mesma sabedoria não acreditar em tudo que
você ouve ou acreditou. Consulte alguém que seja sábio e consciencioso, e
busque ser instruído por alguém melhor do que você, em vez de seguir suas
próprias invenções (Pv 12.15)” (Thomas à Kempis). Estas palavras do monge
alemão agostiniano simbolizam a sabedoria de que Tiago aborda em sua epístola.
Trata-se de sabedoria de vida, não apenas de letra; é sabedoria de espírito;
não apenas teológica; é sabedoria ativa; não somente passiva. É a sabedoria que
o Pai deseja conceder a todos os seus filhos. É a sabedoria divina!
Nesta lição, o professor deve estabelecer o objetivo geral
para ser atingido na aula: o de demonstrar que a verdadeira sabedoria, da qual
trata o meio-irmão do Senhor, é humilde e faz parte da nova natureza do crente.
Só pode tê-la quem é nascido da água e do Espírito. Não se trata de uma
sabedoria do banco escolar. Tiago refere-se à sabedoria das Escrituras, que é
Espírito e Vida. Resultado de uma íntima relação com Deus, por meio do Seu
filho Jesus e pela força do Espírito Santo. Por isso, então, esta sabedoria não
pode ser negociada. Ela vem exclusivamente de Deus, por meio do estudo e da
exposição das Sagradas Escrituras.
Um mito deve ser repulsado na sala de aula: o de que a
sabedoria vem de maneira mística ou “psicográfica”. A sabedoria de Deus é
humilde porque ela não se revela unívoca, arrogante e individual. Ela nos traz
a consciência de que não sabemos tudo e que, por isso, temos de estar dispostos
a aprender com os outros. Retomo uma vez mais a citação de Thomas à Kempis:
“Consulte alguém que seja sábio e consciencioso, e busque ser instruído por
alguém melhor do que você, em vez de seguir suas próprias invenções (Pv
12.15)”. Para isto acontecer em nós é preciso ter a humildade de reconhecer que
não sabemos tudo. Há quem saiba mais do que nós, e precisamos aprender com
eles, pois Deus usa as pessoas para nos ensinar e cultivar a verdadeira
sabedoria em nós. Portanto, professor, trabalhe estas questões com a classe e
incentive-a a leitura e a meditação da Palavra.
SUBSIDIOS
PRIMEIRA PARTE
A palavra “sabedoria” tem uma importância especial para o
cristão. Como servos de Deus, somos chamados por Ele para uma vida que espelhe
decisões e práticas advindas de uma sabedoria espelhada na sabedoria divina.
I. A NECESSIDADE DE SE PEDIR SABEDORIA A DEUS
Tiago enxerga a sabedoria como sendo uma necessidade para as
pessoas, mas faz questão de mostrar os tipos de sabedoria que podemos encontrar
à nossa volta. E para o apóstolo, mais do que ter, ou não, sabedoria, é
imprescindível saber a quem pedir, é preciso utilizá-la.
Tipos de Sabedoria identificados por Tiago
Quando tratamos da expressão “sabedoria” e de suas
implicações, devemos reconhecer que há pelo menos três tipos de sabedoria: a
maligna, a humana e a divina.
Comecemos pela sabedoria humana, partindo do pressuposto de
que sabedoria pode ser considerada como a capacidade de tomar decisões de forma
correta. O ser humano foi dotado de uma capacidade própria de demonstrar
sabedoria em diversas esferas. Somos capazes de trabalhar e aprender a guardar recursos
financeiros a fim de serem utilizados em ocasiões propícias, para realizar um
sonho, estudar ou fazer uma viagem, mas também podemos trabalhar e esgotar
esses mesmos recursos sem nos preocuparmos de forma responsável com nosso
futuro, mas uma pessoa sábia entende que não conseguirá formar um patrimônio
com aquilo que gasta, e sim com aquilo que consegue guardar. Uma pessoa pode
escolher que tipo de roupa deve usar para uma determinada ocasião, ou mesmo que
caminho usará para chegar a determinado destino. Esses traços envolvem a
capacidade de raciocinar e tomar decisões, o que sem dúvida requer
discernimento. Essas são características da sabedoria humana.
Satanás tem sua própria sabedoria? Se observarmos o que
Tiago diz quando qualifica a sabedoria que não vem de Deus, podemos entender
que sim, Satanás tem sua própria sabedoria. É preciso acrescentar que a
expressão sabedoria deve ser entendida como sendo capacidade de pensar, tomar
decisões, influenciar pessoas e agir de acordo com um padrão conhecido. Satanás
pensa sempre em destruir os cristãos e dificultar o trabalho dos que servem a
Deus? Sim. Ele toma decisões com base nos seus intentos? Sim. Ele pode
influenciar pessoas no mundo todo e agir de uma forma já conhecida? Sim.
Portanto, Tiago não erra quando comenta que a sabedoria que se contrapõe à
sabedoria divina é diabólica. E evidente que Satanás, como criatura, está muito
bem limitado dentro de seus intentos, e que não pode impedir o que Deus deseja
fazer. Ele não pode exercer sua autoridade sobre qualquer coisa, pois está
limitado pelo poder de Deus. Apenas Deus é todo poderoso, e Isaías 43.13 diz:
“Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das
minhas mãos; operando eu, quem impedirá?”. Apesar de Satanás estar limitado por
Deus, é astucioso para levar a cabo seus intentos, e que não podemos permitir
que tal influência seja a força motriz da nossa forma de pensar e agir.
Deus dá sabedoria.
Uma das características de Deus apresentadas por Tiago é
inerente à sua bondade. Deus dá generosamente a sabedoria necessária para que
possamos viver neste mundo de forma que o agrademos e sejamos também
referenciais para as pessoas que nos cercam.
Uma das partes mais interessantes em relação a Deus dar
sabedoria aos homens está no fato de que Tiago diz que Deus dá a todos a sua
sabedoria. Aqui entra uma questão: essa expressão “todos” se refere apenas aos
que o servem, ou a todas as pessoas que de alguma forma buscam a sabedoria,
independente de suas crenças? O texto não é claro nesse aspecto, mas se
tomarmos como referência o fato de que esses escritos estão relacionados a
pessoas que, como se entende, conheciam a Jesus Cristo, é possível fechar o
círculo de abrangência dentro da esfera cristã.
“E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus,
que a todos dá liberalmente...” (Tg 1.5).
Tiago nos apresenta outro fator que deve ser aqui colocado:
a busca da sabedoria por meio da oração. Devemos rogar ao Senhor a sabedoria de
que precisamos, e Ele certamente a dará como um presente divino. Não somos
orientados por Tiago a buscar a sabedoria em outros lugares, mas pura e
simplesmente em Deus. Ele é o detentor da sabedoria que nos é necessária em
todos os momentos, e Ele faz questão de que a tenhamos.
Pedindo sabedoria a Deus
Não é incomum nos aproximarmos de Deus para pedir dEle
bênçãos. Não é errado desejar ser abençoado por Deus, pois mesmo as pessoas que
não tem em Jesus o seu Senhor desejam igualmente receber bênçãos dos céus. Pois
bem, se cremos que Deus pode nos abençoar, porque não pedimos a Deus sabedoria?
Tiago nos deixa evidente duas coisas: A sabedoria é uma
bênção, e ela deve ser pedida a Deus. E Deus se importa com esse tipo de
pedido? Sim, pois o apóstolo mostra o motivo máximo pelo qual devemos pedir a
sabedoria a Deus: “... e ser-lhe-á dada”. Deus tem prazer em oferecer aos seus
filhos a sabedoria, e Tiago deixa claro que Ele nos dará a sabedoria que
pedimos. A sabedoria que Deus tem para dar não é custosa. Quando oramos de
acordo com a vontade de Deus, temos a certeza de que receberemos respostas de
nossas orações e uma dessas respostas sem dúvida é a sabedoria como um presente
divino.
II. DEMONSTRANDO SABEDORIA NA PRÁTICA
No item I, chegamos à conclusão de que é necessário pedir a
sabedoria divina para o nosso dia a dia. Nesta parte, trataremos da prática da
sabedoria que recebemos de Deus.
A sabedoria precisa ser praticada
Um talento não utilizado pode se perder com o tempo. Da
mesma forma, se recebemos um presente de Deus, devemos utilizá-lo para a glória
dEle, e isso inclui a sabedoria. Quando o texto de Tiago fala que o sábio e
inteligente deve demonstrar sua sabedoria, ele está dizendo que essa
demonstração deve ser realizada entre as pessoas, publicamente.
Tiago espera que a sabedoria seja pedida por meio da oração,
recebida como um presente de Deus e manifesta na comunidade dos santos. A
sabedoria não é um presente que recebemos para ficar guardada, mas para ser
disponibilizada por meio de ações inteligentes.
A humildade como prática cristã
Na concepção de Tiago, sabedoria e humildade devem andar
juntas. O sábio tem atitudes humildes, não arrogantes. Da mesma forma que a
sabedoria de que precisamos encontra sua fonte em Deus, a humildade nos faz ser
sempre mais dependentes de Deus. Curiosamente falando, a obediência a Deus é
uma demonstração de humildade, e não de arrogância. A desobediência a Deus e
aos seus preceitos mostra o quanto podemos ser arrogantes, mas a dependência de
Deus e a humildade demonstram o quanto somos obedientes a Ele.
A humildade tem um alto preço? Com certeza. Um exemplo que
vale a pena ser lembrado é o caso de Naamã, o general do exército da Síria, que
foi curado por Eliseu em 2 Reis 5. Naamã era um herói nacional, e por seus
feitos era sempre honrado. A Bíblia descreve Naamã como um homem poderoso
diante do rei e respeitado, pois através de Naamã Deus dera livramento aos
sírios. Ele ainda é descrito como um homem
valoroso, mas também possuidor de um
mal: a lepra.
Mesmo com essa doença, Naamã era muito bem quisto em sua
nação. Quando ele soube que havia um profeta em Israel que poderia curá-lo,
Naamã foi atrás do homem de Deus, Eliseu, que aparentemente, fez pouco caso do
general, quando ordenou que o militar fosse tomar banho nas águas do Jordão.
Naamã não gostou da ordem e pegou o caminho de volta para sua terra, mas
convencido pelos seus servos, voltou, banhou-se no rio e foi curado. Sua
humildade e obediência, mesmo em sua posição, garantiram-lhe a cura daquela
doença mortal.
Naamã não era um cristão, mas seu exemplo de humildade serve
de inspiração a todos nós. Se ele pôde ouvir seus servos, humilhou-se e
banhou-se em um rio que aos seus olhos era inferior, e por isso foi curado,
porque não podemos nós buscar essa característica em nossas vidas?
Obras em mansidão de sabedoria
Tiago destaca a pessoa sábia e inteligente como uma pessoa
que sabe tratar pessoas próximas (e pessoas distantes também). Isso nos leva a
crer que a sabedoria não é uma qualidade que deve ser trancafiada em um
escritório, distante das pessoas. O sábio não se mostra, na perspectiva de
Tiago, como aquela pessoa que tem títulos e conhecimento (Tiago não menciona
esses elementos titulares como sendo inúteis nem desprezíveis, como se estudar
ou buscar o conhecimento acadêmico fosse algo em que o crente não deveria se
empenhar. Eles apenas não são relacionados nessa linha de raciocínio.), mas
como a pessoa que sabe lidar com outras pessoas de forma afável. Como o texto
não designa que tipo de pessoa deve ser tratado dessa forma, nem designa também
a situação em que esse tratamento afável deve ser ministrado, podemos entender
que é uma regra que deve ser aplicada em todas as situações e para qualquer
pessoa, sem distinção.
Essa é definitivamente uma grande prova de sabedoria. E
fácil tratar bem pessoas que nos tratam bem. Mas como deveríamos lidar com
pessoas que aos nossos olhos são difíceis de serem suportadas? Como lidar com
pessoas grossas e mal educadas? Com bom trato em mansidão e sabedoria.
A mansidão não é sinal de fraqueza, mas sim de capacidade de
dominar a si mesmo. Mansidão é sinônimo de cortesia, e essa característica sem
dúvida é oriunda de uma relação vívida com Deus e com seus preceitos.
Como diz Champlin,
Tiago compartilha do conceito bíblico geral que a sabedoria
não consiste apenas em no conhecimento, na astúcia e na habilidade, mas antes
em uma profunda compreensão sobre o que é e deve ser a vida piedosa. Tal
sabedoria produz concórdia e harmonia entre as pessoas e os grupos.
III. O VALOR DA VERDADEIRA SABEDORIA E A ARROGÂNCIA DO SABER
CONTENCIOSO
A Sabedoria verdadeira e a arrogância do saber
É possível que o saber nos torne pessoas arrogantes? Sim. É
aceitável aos olhos de Deus que uma pessoa instruída seja arrogante no trato
com as pessoas que a cercam? Não. O acúmulo de conhecimento não pode obstruir
nossa vida espiritual de tal forma que nos tornemos arrogantes. Tiago aqui não
está condenando pessoas que estudaram e que se valem de seus conhecimentos ao longo
de suas vidas, mas está colocando em cheque o hábito de algumas pessoas
acharem-se superiores a outras porque possuem conhecimento. Estudar é muito
bom, e nos torna pessoas mais capacitadas para servir a Deus e ao próximo com
muitos talentos, mas não pode nos tornar pessoas altivas. A soberba é tão
duramente condenada por Deus que Ele resiste ao soberbo, mas dá graça ao
humilde. Portanto, usufruamos do conhecimento que Deus nos permite ter, mas
busquemos acima de tudo aproveitar esse conhecimento de forma sábia e com
humildade.
Atitudes que devemos evitar
Tiago lista duas características próprias de pessoas
arrogantes: amarga inveja e sentimento faccioso.
A inveja é descrita por Tiago com o adjetivo “amarga”, e não
é sem razão. Pessoas invejosas costumam ser amarguradas, por terem uma dor
moral dentro de si, e vivem aflitas. Não é incomum que haja inveja entre as
pessoas, mas pior ainda é quando esse sentimento encontra abrigo no coração dos
servos de Deus. E justamente aqui encontra-se o desafio de Tiago.
A inveja é um sentimento inconveniente para o servo do
Senhor. E uma raiva existente contra pessoas que conseguiram realizar algum
feito digno de louvor, por mais simples que sejam. Líderes invejam outros
líderes, estudantes invejam outros estudantes, e por aí vai. A inveja é, sem
dúvida, um mal da proximidade, onde o coração invejoso se irrita com as
realizações de pessoas que lhe estão próximas.
O sentimento faccioso é outra característica de quem alega
ter a sabedoria e não consegue demonstrá-la na prática.
Tiago propõe à igreja um desafio àqueles que afirmavam ter a
verdadeira sabedoria: eles precisavam observar a verdadeira sabedoria que vem
do céu. A igreja à qual Tiago estava escrevendo era uma igreja que estava sob
pressão. Sob pressão, uma igreja pode se dividir em facções. Não havia um clero
formal, ou um processo de ordenação, de modo que pretensos professores poderiam
surgir, afirmando ter sabedoria. Como cada professor promovia seu ramo de
sabedoria e ganhava seguidores, a comunidade de crentes ficou dividida. A
igreja do Novo testamento tinha muitos problemas com facções ou com um espírito
partidário...
Jesus ensinou que nós saberíamos diferençar os verdadeiros
professores dos falsos pela maneira como vivem (Mt 7.15-23). Os bons
professores exemplificam a boa disciplina na vida. As suas atividades, ações e
realizações revelarão o verdadeiro núcleo de sua fé cristã. Nesta seção, as
boas obras estão em contraste com a amargura, e a humildade está em contraste
com a ambição egoísta.
Dois conselhos Tiago oferece a pessoas que se descobrem
possuidoras desses dois sentimentos: não se glorie disso e não minta. Não há
motivo para que uma pessoa se sinta alegre por ser invejosa, e nem pode manter
oculto seu sentimento por muito tempo. A amarga inveja e o sentimento faccioso
produzem dois frutos equivalentes aos seus genitores: o gloriar-se de maneira
indevida e a mentira. Quem abriga e cultiva a inveja em seu coração e com ela
torna-se arrogante, tem a oportunidade de voltar-se para o caminho certo com a
advertência de Tiago: Não se glorie e não minta. É um caminho longo e duro de
volta à verdadeira sabedoria. Não é fácil tratar com um invejoso sobre seu
hábito e mostrar para ele que não pode haver motivos para que ele se glorie se
ele nutre em seu coração um sentimento reprovado por Deus.
Não é fácil também lidar com pessoas na igreja que insistem
em mentir, em esconder seus sentimentos ruins em relação a outras pessoas. O
caminho de resgate desse tipo de pessoa já foi apresentado pelo apóstolo, mas
precisa ser trilhado por quem é alvo dessa advertência. Quem vive nesse caminho
terá uma sabedoria, mas essa é descrita por Tiago como “terrena, animal e
diabólica”. Resumindo, a sabedoria pode ser encontrada tanto por aqueles que
andam no caminho do Senhor como por aqueles que preferem desobedecê-lo. O que
teme ao Senhor acha a sabedoria divina, e o que despreza ao Senhor achará uma
outra forma de sabedoria nada recomendável.
Características da Sabedoria que devemos ter
Se há atitudes que devemos evitar no trato com as pessoas
que nos cercam, há características que devemos cultivar tomando como base as
características da Sabedoria Divina. Neste capítulo, destaco pelo menos 3
aspectos:
Ela é pura. Deus não se deixa contaminar pelo mal, e a
sabedoria que devemos ter não pode ser influenciada pelo mundo, perdendo sua
pureza. Deus espera que sua sabedoria mantenha-se íntegra em nossas vidas.
Pureza fala de integridade, da capacidade de não se diluir, de não perder suas
propriedades.
Ela é pacífica. Tiago reforça essa característica da
sabedoria como um instrumento de paz. Ela não busca brigas. Lembremo- nos de
que um pouco acima, Tiago nos diz que a sabedoria é demonstrada na forma com
que nos tratamos uns aos outros. Se sou uma pessoa sábia, certamente isso será
visto na forma mansa com que trato as pessoas que me cercam, mas se me julgo
inteligente e perspicaz, e sou grosseiro no trato com meu próximo, não posso
ser chamado de sábio, mesmo que tenha vários títulos ao meu favor.
Pessoas sábias não arrumam confusão, ou vivem de briga em
briga, esperando a próxima oportunidade de demonstrar o quão são inteligentes e
que possuem uma grande disposição em não levar desaforos para casa. Deus dá a
sabedoria para que tenhamos paz em nossa relação com Ele e com os nossos próximos.
Ela é tratável. Essa característica parece estar ligada à
capacidade de uma pessoa sábia ser convencida de forma tranquila, diferente do
caráter das pessoas obstinadas. Se um sábio é corrigido, conforme nos diz
Provérbios 9.8,9, “Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça;
repreende o sábio, e amar-te-á. Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais
sábio; ensina ao justo, e ele crescerá em entendimento.” De forma diferente, os
que mesmo ouvindo tudo o que a sabedoria tem a oferecer, preferem manter-se em
seus caminhos inflexíveis, sendo conduzidos, portanto, à ruína.
Assim concluímos este capítulo. Que possamos conjugar mentes
sábias e corações humildes para a glória de Deus.
SEGUNDA PARTE.
TIAGO –
COMENTÁRIO BÍBLICO – 1.5; 3.13-18
1:5 / Tiago
volta-se, agora, para o segundo tópico. Parece tratar-se de um
tema totalmente novo, o da
sabedoria e da oração. Na verdade, é um tema importantíssimo da carta, mas nem
por isso deixa de estar bem relacionado com o tema anterior. Se uma pessoa
ouvisse um clamor no sentido de ser perfeita, certamente tal pessoa bradaria:
“Socorro! Que é que eu posso fazer? (à semelhança de Paulo: “Para estas coisas
quem é idôneo?”, 2 Coríntios 2:16; 3:5-6). É necessário ajuda divina, e esta,
em Tiago, sobrevém sob a forma de sabedoria (cf. 3:13ss). Na verdade, nada
deveria faltar aos crentes, mas, para alcançar tal posição, precisam da
sabedoria divina.
Tiago compartilha essa percepção.
Se algum
de vós tem falta de sabedoria,
peça-a a Deus. Tiago pode
fazer isso com confiança total em que Deus a todos
dá liberalmente. Aqui, Tiago
apela à tradição a respeito de Jesus (os ensinos de
Jesus ainda não escritos que,
mais tarde, formariam os evangelhos), pois o Senhor
prometera que Deus concederia a
seus filhos o que lhe pedissem (Mateus 7:7-11;
Marcos 11:24; Lucas 11:9-13; João
15:7). Que dádiva melhor poderiam pedir do
que a sabedoria de que
necessitassem a fim de resistir às provações que estavam
enfrentando? Deus... dá porque ele é
doador; Deus dá liberalmente, o que significa
que dá sem reservas mentais, dá
com simplicidade, com um coração singelo.
Não está procurando um lucro
escondido da parte dos crentes; o Senhor não abriga
motivos desprezíveis, tampouco
sentimentos mesquinhos. Na verdade, não só
o Senhor dá generosamente, mas não censura. Isso
significa que Deus não se
queixa do dom concedido, nem de
seu custo. Não é “um tolo”, que “tem muitos
olhos, em vez de um. Dá pouco e
repreende muito, abre a boca como um arauto;
hoje empresta e amanhã toma de
volta” (Siraque 20:14-15). Não, Deus dá verdadeiras
dádivas; nenhuma queixa, nenhuma
crítica (Como? Você precisa de ajuda
outra vez?), nenhum motivo
escuso, nenhuma relutância. O Deus dos cristãos é
caracterizado pelo hábito de dar
livre e generosamente, até o ponto da prodigalidade.
E que dádivas concede o Senhor!
Dá sabedoria, que nesta carta é equivalente
ao Espírito Santo, dádiva que os
leitores de Tiago, sendo ex-judeus, reconheceriam
como um dos dons da era vindoura
(como o fizeram as pessoas dos rolos do
mar Morto). A sabedoria vem ao
crente mediante Cristo (1 Coríntios 1:24; 2:4-6).
Certamente, é disso que precisamos a fim de resistir às provações
e chegar à perfeição. SE ALGUM DE VÓS
TEM FALTA DE SABEDORIA. A sabedoria é a capacidade espiritual de ver e
avaliar a nossa vida e conduta do ponto de vista de Deus. Inclui fazer escolhas
acertadas e praticar as coisas certas de
conformidade com a vontade de Deus revelada na sua Palavra e na direção do
Espírito Santo (Rm 8.4-17). Podemos receber sabedoria indo a Deus e pedindo-lhe
com fé (vv. 6-8; Pv 2.6; 1 Co 1.30).
3:13 / Essas
palavras sábio e entendido(inteligente) (ou seus sinônimos) são usadas
comfreqüência no Antigo Testamento (Deuteronômio 1:13, 15; 4:6; Daniel
5:12);indicam um povo que vive segundo a visão de Deus.O modo de viver é
importante por todo o Novo Testamento, e.g., Hebreus13:7; Gálatas 1:13. Paulo
está constantemente advertindo que o modo de vivermarca os regenerados,
separando-os de quem não se regenerou (e.g., Gálatas 5).De maneira semelhante,
os judeus também insistiam em que o modo de viver éimportante: “[R. Eleazar ben
Azariah] costumava dizer: Toda a pessoa cuja sabedoriaé maior do que suas
obras, a que a assemelharemos? A uma árvore cujosgalhos são muitos e cujas
raízes são poucas: sopra o vento e desarraiga a árvore e expõe suas raízes” (m.
Aboth
3:22).
Para os gregos, a humildade no
sentido de mansidão era considerada vício,
ou defeito. Os cristãos a
consideravam uma virtude cardeal (Gálatas 5:23; 6:1;
Efésios 2:4; 2 Timóteo 2:25; Tito
3:2; 1 Pedro 3:15). Assim é que Tiago, sendo
cristão, opõe-se à sua cultura
que prega a auto-asserção. Veja ainda S.S. Lewis,
James (Tiago), p.
160-61.
3:14 / Há muitas
passagens em que a palavra grega zelos, (inveja, zelo) é
traduzida de modo positivo (João
2:17; Romanos 10:2; 2 Coríntios 7:7; 11:2; Filipenses
3:6). Contudo, essa virtude com
toda a facilidade se transforma em inveja
e rivalidade, que a mesma palavra
condena como defeito, ou vício (Atos 5:17;
13:45; Romanos 10:2; 13:13; 1
Coríntios 3:3). Tiago parece indicar que no momento
em que a pessoa sentir um traço
de amargura, chegou o momento de ela
examinar suas verdadeiras
motivações. Veja ainda A. Stumpff, “Zelos” (Inveja),
TDNT, vol. 2, p.887-88.
O problema do espírito partidário
era bem conhecido na igreja primitiva. Seus
primeiros indícios aparecem em
Atos 6; a seguir surgem os judaizantes gálatas, os
grupos de Corinto (1 Coríntios 1)
e outras facções desconhecidas (Filipenses 1:17; 2:3). Trata-se de uma falta
grave no Novo Testamento, porque, se o grupo estava baseado na verdade, e
tendia a separar-se da principal corrente do judaísmo, muitos tendiam a perder
de vista o fato de que a Verdade era uma Pessoa que os
unificava. Em vez de enfatizar essa unificação na Verdade, os grupos se
voltavam para suas pequeninas verdades, que acabavam distorcidas, e as pessoas
se persuadiam de que a separação era necessária. Veja ainda F. Büchsel, “Eritheia”, TDNT, vol.
2, p. 660-61.
Tiago 3:13-18 é uma lista
modificada de vícios e virtudes, dos quais há muitos
no Novo Testamento. Didaquê 1-6 e
Barnabé 18-21 apresentam listas semelhantes,
na literatura cristã posterior. Todos
os autores, à semelhança de Tiago,
afirmam que o pecado se origina no coração, em vez de em
forças externas. Veja
ainda B.S. Easton, “New
Testament Ethical Lists” (Listas Éticas do Novo Testamento). AMARGA INVEJA. "Amarga
inveja" é o vício que impele a pessoa a cuidar somente dos seus próprios
interesses. A inveja ou ambição egoísta na igreja é: (1) "terrena",
i.e., polui aquilo que é santo e que é
do Espírito; (2) "animal", i.e., não-espiritual; carnal; sem o
Espírito Santo; e (3) "diabólica", i.e., inspirada por demônios (ver
1 Tm 4.1).
3:15 / Paulo nos
fala de uma “sabedoria deste mundo” (1 Coríntios
1:20; 2:6) ou “sabedoria carnal”
(2 Coríntios 1:12), mas Tiago não se refere a ela,
visto que Sabedoria é sua
expressão para Espírito Santo. Já havia sido criado um
elo entre a sabedoria e o céu no
ensino judaico (e.g., Siraque 1:1-4; 24:1-12; Sabedoria 7:24-27; 9:4, 6, 9-18),
à semelhança do elo entre a sabedoria e o Espírito
(Sabedoria 7:7, 22-23 fala do
“espírito de sabedoria” e de um “espírito inteligente
e santo na sabedoria”). Tiago
utiliza as marcas identificadoras de modo mais concreto.
Veja ainda J.A. Kirk, “The Meaning
of Wisdom in James” (O significado de
Sabedoria em Tiago).
O termo terrena normalmente
indica pelo menos inferioridade (João 3:12;
Filipenses 3:19; 2 Coríntios
5:1), mas trata-se do mais fraco dos termos, que se
classificam em ordem crescente.
Hermas, meditando na carta de Tiago, fortaleceu
essa idéia: “Portanto, vede”
disse ele, “que a fé vem de cima, do Senhor, e tem
grande poder; todavia, a
duplicidade de mente é um espírito terreno proveniente
do diabo, destituído de poder” (Mandate 9.11).
O termo diabólica já foi sugerido
no versículo anterior onde Tiago diz: “nem
mintais contra a verdade” (3:14),
pois isso é o que caracteriza o diabo (João 3:46).
Visto que Tiago mais tarde vai
convocar os crentes a que “resistam” ao diabo
(4:7), e, em face das conexões
entre as provações e o diabo (e.g., Mateus 6:13), de
que Hermas também testemunha (Similitude 9:12; 9.23.5),
é improvável que Tiago
esteja afirmando simplesmente que
aqueles ímpios estavam praticando coisas
semelhantes
às do diabo, mas na verdade obravam inspirados por Satanás.
3:16 / A primeira
carta de João também se interessa profundamente pelo comportamento sectário (1
João 2:19). As Escrituras reconhecem a necessidade
de separação do mundo, mas
rejeitam a divisões entre verdadeiros cristãos.
Não é de surpreender que os
demônios se envolvam em toda obra má (cf.
João 3:20; 5:29, onde se emprega
o mesmo termo). Entretanto, a confusão é a
principal marca da atividade
demoníaca. Deus é o autor da paz e da ordem (1
Coríntios 14:33). O reino
demoníaco caracteriza-se pelo desassossego e pela rebelião
(cf. Lucas 21:9 e os comentários
de Tiago 1:8; 3:8). Veja ainda A. Oepke,
“Akatastasia”, TDNT, vol.
3, p. 446-47.
3:17 / Hermas, Mandate 9.8, apresenta
um catálogo com uma estrutura
semelhante a esta, de Tiago, e
também enfatiza a paz. Os termos tratável e sem parcialidade
são
encontrados na literatura bíblica
somente nesta passagem. O termo sem hipocrisia (sinceros)
apresenta-se em numerosas passagens bíblicas: Romanos 12:9; 2 Coríntios 6:6; 1
Timóteo 1:5; 2 Timóteo 1:5; 1 Pedro 1:22.
3:18 / fruto da justiça
é
tradução literal do grego. Veja também Provérbios
11:30; 2 Coríntios 9:10;
Filipenses 1:11; Hebreus 12:11. As Escrituras e a literatura
a elas relacionada também
conhecem “o fruto da sabedoria” (Siraque 1:16) e o
“fruto do Espírito” (Gálatas
5:20). Bondade e retidão são justiça, em que cada um
recebe o que lhe é devido.
Alguns autores, e.g., S.S. Laws, James (Tiago), p.
165-66, fazem conexão
entre sabedoria e o fruto da
justiça e, assim, afirmam que os pacificadores possuem
sabedoria, visto que a paz é o
sinal da presença da sabedoria. Laws menciona
Provérbios 11:30 e 3:18 como
provas. Esta interpretação é possível, não sendo,
todavia, a mais natural. Veja
ainda F. Hauck, “Karpos”, TDNT, vol. 3, p. 615; H.
Beck e C. Brown “Peace” (Paz), NIDNTT, vol. 2, p. 776-83.
TERCEIRA PARTE
Palavra Chave
Sabedoria Humilde: O conhecimento e prática dos requisitos
para uma vida piedosa e reta.
INTRODUÇÃO
Tiago em sua epístola procura nos mostrar a respeito da
sabedoria em seu aspecto global. Desta forma ele revela-nos a existência de
dois tipos de sabedoria: A divina e a terrena. Ao estabelecer a diferença entre
cada uma delas, o apóstolo exorta-nos a nos empenharmos na conquista da
verdadeira sabedoria, a divina, que procede do alto.
Quantas e quantas vezes, no nosso dia a dia, precisamos ter
sabedoria para tomarmos decisões, para decidirmos problemas, para darmos uma
palavra de conforto, para darmos uma resposta sábia, para encararmos as
dificuldades do dia a dia. Na verdade, a cada minuto de nossa vida temos que
tomar decisões e, muitas vezes, elas são realmente muito difíceis, e para tudo
isso precisamos da sabedoria divina, ela é um tesouro que não está exposto e
não é tão fácil de se conseguir. Ela está escondida, esperando para ser
descoberta. Quanto mais a buscamos, mais queremos e precisamos buscá-la, e mais
experimentamos a satisfação de sermos felizes, mesmo nas adversidades.
I. A NECESSIDADE DE PEDIRMOS SABEDORIA A DEUS (Tg 1.5)
1. A sabedoria que vem de Deus. A sabedoria é uma das
características mais mencionadas a respeito de Deus. Deus é classificado como
onisciente, ou seja, sabe ou conhece todas as coisas. O apóstolo dos gentios
quando fava dela dizia: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como
da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os
seus caminhos!” (Rm 11.33).
Na Bíblia também é mencionada a sabedoria do Rei Salomão,
filho do Rei Davi, que foi o rei mais próspero de Israel, sendo também
considerado o homem mais sábio do Antigo Testamento e um dos mais sábios de
toda a Bíblia. Deus deu a Salomão sabedoria, discernimento extraordinário e uma
abrangência de conhecimento tão imensurável quanto a areia do mar. A sabedoria
de Salomão era maior do que a de todos os homens do oriente e do que toda a
sabedoria do Egito (1Rs 4.29,30).
Precisamos, urgentemente, de sabedoria para sermos bons
pais, bons filhos, boas esposas, bons maridos, bons administradores, prósperos
nos negócios, prósperos nos relacionamentos, prósperos no relacionamento com
Deus. A sabedoria que vem de Deus nos leva a viver o melhor de Deus. O primeiro
passo para se ter a sabedoria que vem de Deus é obedecendo a Deus. Temos que
ser cheios de sabedoria para melhor conhecer a Deus e seus propósitos e sermos
vencedores aqui na Terra.
2. Deus é o doador da sabedoria. Vivemos em uma época onde a
busca por conhecimento e informação é valorizada e procurada constantemente. No
entanto, sabedoria deste mundo é orgulhosa, vaidosa e soberba. Geralmente esta
sabedoria conduz os homens a não darem nenhum crédito às coisas de Deus e a
ridicularizarem a sua palavra. Ela exalta a autossuficiência humana, coloca o
homem no centro de todas as coisas, fazendo deste a autoridade suprema em tudo.
Esta sabedoria o próprio Deus a qualifica como loucura: “porque a sabedoria
deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: ele apanha os sábios
na sua própria astúcia” (1Co 3.19).
A sabedoria doada por Deus é:
a) Pura — Vai contra os conceitos mundanos.
b) Pacífica — Não traz contendas.
c) Moderada — É sóbria, equilibrada.
d) Tratável.
e) Cheia de misericórdia — Não olha só para si, mas consola
e edifica as pessoas.
f) Imparcial — Não é injusta.
g) Sem hipocrisia — Tem uma aliança com a verdade. Onde há a
sabedoria de Deus existe paz.
3. Peça a Deus sabedoria. O texto afirma: “E, se algum de
vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente”.
Observe os seguintes pontos:
a) Necessidade. A oração “se algum de vocês necessita de
sabedoria” é a primeira parte de uma declaração fatual numa frase condicional.
O autor está dizendo ao leitor: “Sei que você não vai admitir, mas você
necessita de sabedoria”. Tiago trata de um problema delicado, pois ninguém quer
ouvir que é tolo, que comete erros e precisa de ajuda. O ser humano é, por
natureza, independente. Quer resolver seus próprios problemas e tomar suas
próprias decisões. O teólogo do século 18, John Albert Bengel, colocou de modo
um tanto sucinto: “A paciência está mais no poder de um homem bom do que a
sabedoria; a primeira deve ser exercitada, e esta última deve ser pedida”. É
preciso que o ser humano supere o orgulho para admitir que precisa de
sabedoria. Mas a sabedoria não é algo que ele possui. Ela pertence a Deus, pois
é sua divina virtude. Qualquer um que admita a necessidade de sabedoria deve ir
até Deus e pedir-lhe. Tiago apela para o leitor e ouvinte individualmente.
Escreve: “se algum de vós”. Tiago dá ao leitor a chance de se examinar, de
chegar à conclusão de que precisa de sabedoria e de seguir o seu conselho para
que a peça a Deus.
b) Pedido. O crente deve pedir sabedoria a Deus. Tiago deixa
implícito que Deus é a fonte de sabedoria. Ela lhe pertence. O Novo Testamento
afirma que o cristão recebe sabedoria e conhecimento de Deus (ver, por exemplo,
1Co 1.30). É verdade que fazemos uma distinção entre sabedoria e conhecimento
quando dizemos que o conhecimento sem sabedoria é de pouco valor. Donald
Guthrie observa que “se a sabedoria é o uso correto do conhecimento, a
sabedoria perfeita pressupõe conhecimento perfeito”. Para tornar-se maduro e
íntegro, o crente deve pedir a Deus sabedoria. Deus deseja oferecer sabedoria a
qualquer um que pedir com humildade. O reservatório de sabedoria de Deus é
infinito e ele “a todos dá liberalmente”.
c) Dádiva. Deus não faz acepção. Ele dá a todos, não importa
quem seja, pois Deus deseja dar. É uma característica de Deus. Ele dá
continuamente. Toda vez que alguém chega até Ele com um pedido, Ele abre seu
reservatório e distribui sabedoria gratuitamente. Assim como o sol continua a
dar sua luz, Deus continua dando sabedoria. Não podemos imaginar um sol que
deixe de dar luz, muito menos pensar em Deus deixando de dar sabedoria. A
dádiva de Deus é gratuita, sem juros, sem o pedido de que se pague de volta.
Ela é grátis.
Além disso, Deus dá “e não lança em rosto”. Quando pedimos a
Deus por sabedoria, não devemos temer que Ele expresse desprazer ou nos
reprove. Quando chegamos até Ele com a fé como a de uma criança, Ele jamais nos
manda de volta vazios. Temos a segurança de que, quando pedimos por sabedoria,
ela nos “será dada”. Deus não decepciona aquele que pede com fé. Quem pede tem
que fazê-lo sem dúvida de nenhuma espécie. Tem que estar seguro tanto do poder
como do desejo de Deus em dar. O maior empecilho para as respostas à oração não
é Deus, mas a nossa incredulidade.
II. A DEMONSTRAÇÃO PRÁTICA DA SABEDORIA HUMILDE (Tg 3.13)
1. A sabedoria colocada em prática. Sabedoria é também olhar
para a vida com os olhos de Deus. A pergunta do sábio é: em meus passos, o que
faria Jesus? Como ele falaria, como agiria, como reagiria? Cristo não foi um
mestre da escola clássica. Ele ensinou os seus discípulos na escola da vida.
Ensinar a sabedoria é mais importante do que apenas transmitir conhecimento,
mas sim, um exemplo de vida (ver At 1.1)
Tiago está contrastando dois diferentes tipos de sabedoria:
a sabedoria da terra e a sabedoria do céu. Qual sabedoria governa a sua vida?
Por qual caminho você está trilhando? Que tipo de vida você está vivendo? Que
frutos esse estilo de vida está produzindo? A sua fonte é doce ou salgada
(3.12)?
Tiago mostra, também, que essa sabedoria se reflete nos
relacionamentos, pois ela é prática (3.13,14). Sábio é aquele que é santo em
caráter, profundo em discernimento e útil nos conselhos. Você conhece o sábio e
o inteligente pela mansidão da sua sabedoria e pelas suas obras, ou seja,
imitando a Jesus, que foi manso e humilde de coração (Mt 11.29).
2. A humildade como prática cristã. A humildade é preciosa
aos olhos de Deus e revela que quem a possuir será mais e mais abençoado e
agraciado com os Seus cuidados; ela conserva a alma na tranquilidade e
contentamento, mesmo em meio às dificuldades diárias e gera a paciência e
resignação nos momentos mais difíceis possíveis.
Pode-se defini-la como “um sentimento que leva a pessoa a
reconhecer suas próprias limitações; modéstia; ausência de orgulho”. Paulo nos
instrui dizendo: “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas
humildemente considerem os outros superiores a si mesmos” Fp 2.3 — NVI; veja Pv
18.12).
A humildade é um sentimento de extrema importância no
coração do homem que procura santificar-se; na realidade, sem esta evidência do
caráter de Cristo, é impossível servir integralmente a Deus.
Na palavra encontramos textos que a descreve como uma
imposição de Deus (Tg 4.10; Lc 22.26; 1Pe 5.5,6).
É a nossa obrigação, como filhos de Deus, procurarmos a
humildade e nos revestirmos com ela (Cl 3.12-14), para que a vejam em nossos
passos e ações (Ef 4.1,2), e glorifiquem ao Senhor.
Na Bíblia encontramos uma série de homens que são mostrados
como exemplos da verdadeira humildade. Entre eles podemos destacar: Cristo (Mt
11.29); Abraão (Gn 18.27); Jacó (Gn 32.10); Davi (2Sm 7.18); Paulo 1Tm 1.15),
etc.
Foram servos que não se preocuparam com a própria vida,
antes, o seu prazer estava exclusivamente no Senhor e deixavam-se mover pelo
Espírito Santo, reconhecendo que nada eram e que tudo provinha do Eterno. Hoje,
no meio denominado cristão, nos deparamos com uma triste verdade: com raras
exceções, a falta de humildade tem entrado e fincado raízes nos corações,
caracterizando uma situação que contradiz claramente as ordenanças do Senhor
Deus.
3. Obras em mansidão de sabedoria. Mansidão não é fraqueza,
mas poder sob controle. A palavra era usada para um cavalo domesticado, que
tinha o seu poder sob controle. Uma pessoa que não tem controle pessoal ou
domínio próprio não é sábia. Mansidão é o uso correto do poder, assim como
sabedoria é o uso correto do conhecimento.
A sabedoria é a base da qualidade da mansidão; e é essa
qualidade que os mestres e os líderes cristãos devem possuir, acima de todas as
demais qualidades. De outro modo, serão eles uma força destruidora na igreja, e
não uma força edificante, porquanto passarão mais tempo edificando sua própria
reputação e orgulho do que exaltando a Cristo e edificando a sua igreja.
III. O VALOR DA VERDADEIRA SABEDORIA E A ARROGÂNCIA DO SABER
CONTENCIOSO (Tg 3.14-18)
1. Administrando a sabedoria. Na antiguidade, sabedoria e
humildade eram praticamente inimigas. A visão grega da sabedoria pressupunha o
orgulho. Uma pessoa “sábia” tinha que se orgulhar de sua posição. Para Tiago,
porém, afirmar que se prova ser uma pessoa sábia executando obras com humildade
era algo totalmente contra aquela cultura que não sabia administrar bem sua
sabedoria. Algo que é também contra nossa cultura hoje. A tendência que temos é
de exaltar-nos e orgulhar-nos de nossos próprios feitos.
A soberba está muito distante da humildade, característica
básica de quem sabe administar sua sabedoria. É lamentável que algumas pessoas
só percebam esses comportamentos no final de suas vidas, muitas vezes num leito
de hospital, quando muito pouco podem fazer para reconstruírem o que
destruíram, nos outros e, principalmente, em si mesmas. É preciso desenvolver a
consciência que seu valor enquanto pessoa independe da posição ou aquisição,
mas que acima de tudo, somos todos seres humanos, em constante processo de
evolução, independente do que temos, mas com certeza por aquilo que somos.
O Novo Testamento é rico em lições deixadas por Cristo, um
verdadeiro exemplo de alguém que administrava a sua sabedoria.
2. Sabedoria verdadeira e a arrogância do saber. A
arrogância é uma doença espiritual maligna e silenciosa. Um dos efeitos dessa
moléstia é que, em geral, o arrogante se acha a pessoa mais humilde do mundo —
ele não se vê como verdadeiramente é. Constantemente aponta os erros dos
outros, mas não consegue perceber como a sua essência está contaminada — e, se
consegue, tem a arrogância de dizer que não é arrogante. Hoje está totalmente
disseminado o conceito antibíblico de que é possível ser arrogante e ser um
cristão cheio de sabedoria divina. Não é. É absolutamente impossível ser um
homem sábio e ser arrogante ao mesmo tempo. São características que não cabem
no mesmo indivíduo.
Arrogância é sinônimo de orgulho, altivez, soberba,
prepotência. Mostre-me um arrogante e lhe mostrarei um homem sem o mínimo de
sabedoria espiritual. Esse é um pecado tão grave que o salmista diz ao Senhor
em Salmos 5.5: “Os arrogantes não são aceitos na tua presença” — (NVI). Em 2
Timóteo 3.1-2, o apóstolo Paulo fala sobre o perfil dos homens nos últimos
tempos: “SABE, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos.”.
Sim, o olhar altivo do arrogante é um dos defeitos que Deus mais detesta, como
Salomão deixa claro em Provérbios 6.16-19.
Em contraste com a sabedoria terrena descrita logo acima
(arrogância), Tiago agora apresenta a verdadeira sabedoria, que deve marcar as
palavras e o comportamento dos que desejam ser mestres. Tiago personifica a
sabedoria, falando dela como se fosse uma pessoa; talvez siga o modelo
encontrado no livro de Provérbios, no qual a sabedoria é descrita de forma
similar (Pv 8.1-36; 9.3-5). Paulo emprega o mesmo artifício literário quando
descreve o amor (1Co 13.4-8).
A descrição de Tiago inicia com a procedência da sabedoria:
ela vem lá do alto, isto é, de Deus (Ver 1.5,17; 3.15; Êx 36.2; 1Rs 3.9-12; Pv
2.6).
3. Atitudes a serem evitadas. “Onde há inveja e espírito
faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa” (v.16). Aqui temos o motivo
pelo qual (“por que”) Tiago considera a “sabedoria” dos que almejam ser mestres
terrena, animal e demoníaca: ela produz todo tipo de problema nas igrejas.
Inveja (3.14) significa rivalidade invejosa e contenciosa por causa das
manifestações de ira e amargura que esse sentimento produz. “Sentimento
faccioso” (“ambição egoísta” — NVI) é a tradução de um verbo grego derivado de
uma palavra que significa trabalhar por salário. Veio a significar aqueles que,
motivados pela ambição, estão dispostos a tudo para obter seus objetivos, até
mesmo romper e separar-se dos outros, provocando facções e divisões.
Onde esses sentimentos existem, e especialmente quando
existem no coração daqueles que se acham sábios, aí há perturbação e toda obra
perversa. Aquilo que é um sentimento interior produz atitudes exteriores.
“perturbação” vem da mesma palavra que Tiago usou para descrever a pessoa
“inconstante” (1.8) e a língua como um mal “incontido” (3.8). A ideia geral é
de um estado de desordem, que expressa bem a situação em que ficam as igrejas
quando predominam líderes cujo coração está cheio de inveja amargurada e
sentimento faccioso (3.14). Um exemplo é Babel, onde o Senhor “confundiu a
linguagem de toda a terra”, evento seguido pela dispersão daqueles que antes
eram um único povo (Gn 11.9). Além disso, tais sentimentos causam “toda espécie
de coisas ruins” (“toda espécie de males” — NVI). Essa expressão genérica de
Tiago engloba tudo aquilo que é vil, perverso, maléfico para a vida das
comunidades cristãs. Veja a lista das obras da carne em Gálatas 5.20. As obras
de Caim são chamadas de “más” e tiveram origem na inveja amargurada que nutriu
contra seu irmão Abel (1Jo 3.12).
CONCLUSÃO
A vida cristã consiste em semear e em ceifar. Aliás, toda
vida é assim, e ceifamos exatamente o que semeamos. O cristão que segue a
sabedoria de Deus semeia a humildade, não a arrogância; semeia a paz, não a
guerra. A forma de vivermos permite que o Senhor promova algo de bom na vida de
outros. Por conseguinte, só os sábios são humildes e só os humildes são sábios.
As pessoas humildes são aquelas que percebem que o mundo não termina nem acaba
em si. São aquelas que percebem que o centro do mundo não está em si. São,
pois, aquelas que não olham para si. São aquelas que olham para fora de si. Até
o mais alto quis descer até ao mais baixo. É o sábio Deus nos ensinando a
humildade.
Somos o que vivemos, e o que vivemos é o que semeamos. Se
vivermos segundo a sabedoria de Deus, semearemos a humildade e colheremos a
exaltação divina (Mt 23.12 Lc 18.14). Se vivermos segundo a sabedoria do mundo,
semearemos pecado e guerra e colheremos “confusão e toda espécie de males”
(3.16 — NVI).
Elaborado pelo Evangelista; Natalino dos Anjos
Professor da E.B.D. e pesquisador
Dirigente da Cogregação da A.D(Missão) no Bairro Novo Horizonte
Campo de Guiratinga - Mato Grosso
Pastor Presidente. Pr. Edseu Vieira
BIBLIOGRAFIA
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Shedd Publicações;
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Batista;
Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico expositivo — Novo
Testamento. Volume 2. Geográfica Editora.
Bíblia de estudo Pentecostal
Comentário Contemporaneo N.T
Alexandre Coelho e Silas Daniei - Ensinos de Tiago para uma
Vida Cristã Autêntica
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